segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um Texto entre Marx e Hegel

A entrada do século XIX em todo o desenrolar de sua trajetória histórica está marcada pelo desenvolvimento e aprimoramento das concepções produzidas pelo século anterior, assim, portanto, não teremos uma ruptura com as concepções antropológicas e racionalistas oriunda da disseminação do pensamento iluminista e seus pensadores. O que irá se enxerga nesse século novecentista é o lento e gradual desaparecimento das acepções ideológicas de explicação do real, e uma auto-afirmação do racionalismo como uma prática dominante.
Abstraindo deste contexto Collinwood procura retratar a historiografia que se emana nesse século destacando que está não tentará romper com os princípios racionais e também não se omitirá em apontar uma convicção para se enxergar de uma forma racional o seu desenvolvimento e o seu sentido. Assim como o próprio (Collingwood[1]) nos explana;
“ A historiografia novecentista não pós de lado a convicção – por parte de Hegel- de que a história é racional, por que fazê-lo seria pôr de lado a própria história. Em vez disso, procurou atingir uma história do espírito concreto, insistindo nos elementos que Hegel, na sua formal filosofia da história, tinha desprezado e constituindo com eles um solido conjunto.” (Collinwood, p: 160)
Contudo na pulsação do pensamento historiográfico novecentista iremos encontrar dois grandes pensadores que conceberam concepções sobre a realidade e sobre a “ciência histórica” em si. Os pensadores que nos referimos aqui se tratam de Marx e Hegel que me parece que em termos de acepções filosóficas se geraram praticamente num mesmo berço ou em outras palavras de uma mesma herança oriunda do idealismo alemão e da gênese da dialética hegeliana.
Entretanto apesar do homogêneo contexto e de terem fomentado suas acepções num mesmo ramo genealógico filosófico (a história) iremos encontra divergências correlação as suas óticas sobre a realidade. De principio podemos explanar que em ambos encontramos a conceituação idealista de enxergar na reprodução do social uma idéia suprema que regesse a sociedade, assim está idéia seria a regente da vida humana até surgir uma segunda idéia que com o seu desenvolvimento irá contrapor de forma articulada com a primeira, gerando assim pelo um processo de transformação uma nova idéia suprema que seria a nova regência da realidade. Será na apreensão deste conceito que Marx irá enxergar as formas como os objetos se estabelecem no real, seja este objeto material ou substrato, Assim como o próprio Collinwood nos ratifica;
“ o capitalismo, em Marx, ou o protestantismo, em Ranke, são uma “idéia”, no verdadeiro sentido hegeliano: um pensamento, uma concepção acerca da vida humana sustentada pelo próprio homem, aparentando-se assim com uma categoria kantiana, embora uma categoria condicionada historicamente- um modo, pelo qual se chega a pensar, num dado momento, e de acordo com o qual se chega a pensar, num dado momento, e de acordo com o qual se organiza toda a nossa vida, duma dialética própria, numa idéia diferente, enquanto a maneira de viver que a exprimia não se manterá, dissolvendo-se e transformando-se na expressão duma segunda idéia, que substitui a primeira.” (Collinwood[2], p: 160)
Contudo Marx e Hegel irão se diferenciar tanto no modelo desta idéia quanto no foco de abrangência das práticas de suas concepções, o que se verá de principio é que Marx partirá para o âmbito econômico e Hegel para o político.
No entanto apesar desse idealismo dialético que teve como ponto forte a ratificação de uma história e de uma realidade que a compreendia como um processo único e universal não terá os seus elementos de elaboração tratados da mesma forma, assim a política, a economia, a arte, as religiões, entre outros objetos da atividade humana não serão colocados como um conjunto de homogênea importância.
Portanto o que se verá é a supremacia de determinado elemento regente sobre os demais que apenas o completam mais que não participam do processo transformador dialético que reage a sociedade, em Marx vemos com nitidez a ratificação dos modos de produção e das formações das estruturas econômicas que ditam o delinear da vida humana, e é somente este elemento (o econômico) que seria passível deste processo dialético que se classificou pela maioria dos historiadores de materialismo dialético.
Num complementar desta acepção que abordamos podemos também aí incluir a taxionomia de termos que sempre que se abordam sobre estes pensadores, mais especificamente Marx, se inclui através desta concepção materialista que são as acepções de infra-estrutura e super-estrutura, e que nem sempre quando se explanam sobre isso ficam tão nítido a autentica conceituação destes termos, pois isto não está ligado somente ao que podemos considerar como mais importante( a economia) e menos importante( a arte, a cultura, a religião, a política) , mas sim daquilo que sofria o dinamismo dialético e daquilo que não sofria, portanto a história novecentista irá abordar o sentido da história de forma linear e continuo por períodos que se transforma por um determinado ponto, seria como que se tivemos vários pontos dentro de um conjunto que no entanto só será possível passar uma linha apenas em um ponto. Como nos afirma Collinwood;
“ Marx, tal como Hegel, insistiu neste ponto: a história humana não é um certo numero de diferentes histórias paralelas( econômicas, políticas, artísticas, religiosas, etc.) mas uma só história. Todavia também como Hegel, Marx concebeu unidade não como orgânica, em que cada linha do processo de desenvolvimento preservava a sua continuidade assim como sua intima conexão com as outras, mas sim como uma unidade em que havia somente uma linha continua( em Hegel, a linha histórica político; em Marx, a da história econômica), não possuindo os outro factores uma continuidade própria e sendo- para Marx- em cada ponto do seu desenvolvimento meros reflexos dos factos econômicos básicos” (Collinwood[3], p; 160 até 161)
Contudo faltarmos aqui explana a principal diferenciação entre Marx e Hegel, que era acima de tudo fundamentada numa interpretação de caráter técnico e teórico sobre a ótica do idealismo do qual existiam divergências entre estes dois teóricos, no entanto vejamos qual seria esta interpretação que diferenciava estes dois pensadores.
Como sabemos era presente nestes teóricos uma concepção que existia uma idéia que regia a realidade que ao mesmo tempo era regida pela sociedade e reproduzida por ela, assim abrindo para uma esfera mais abrangente que fosse além das ações humanas, e buscando compreender a realidade como um todo, partindo da origem e da formação da natureza, Hegel fomentará o seu conceito de lógica sendo uma entidade abstrata onde se encontra os arcabouços dos sentidos da realidade, fazendo uma analogia era como se fosse uma cópia preto em braço do real que apesar de não possuir as cores da realidade, tem todas as formas e traços traçados por ela, como Collinwood nos aponta;
“ A lógica para Hegel, não é uma ciência de como pensamos, é uma ciência de formas, entidades abstractas, idéias platônicas- senos lembrarmos de tomar a serio o próprio aviso de Hegel quanto as facto de não devermos supor que as idéias existem apenas na cabeça das pessoas.” (Collinwood[4], p: 162)
Partindo deste principio Hegel fomentará a sua acepção que será está lógica que irá delimitar a natureza e as ações humanas. No entanto Marx enxergará isto através de outra ótica, do qual esta concepção de que a lógica (a hegeliana) é o modelo preto em braco onde se pode delinear a história não fazia sentido.
Para Marx a história se perpetuava por motivos de fatos naturais que acontecem independentemente de uma lógica hegeliana, no qual procurou abstrair a dialética hegeliana para uma análise que se configurar-se somente para as ações humanas, se livrando assim do subjetivismo do qual Hegel se envolveu ao tentar entender toda a realidade, podemos dizer que Marx usou a dialética hegeliana de forma prática e natural dentro do âmbito socioeconômico, coisa que Hegel não fez.
Marx se aproximou de tendências que tiveram gênese no século anterior, principalmente aquelas que tentaram juntar a história com as ciências naturais, mais que não tiveram como base e foco a eliminação da história, rompendo assim com o idealismo que carregou como herança e assim conseguindo fugir do solo arenoso do idealismo que se estava afundado cada vez com o passar do tempo histórico.

Bibliografia
Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[1] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[2] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[3] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[4] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

A história em Vico

O século XVIII é marcado pelo ressurgimento de idéias que focalizaram nas concepções antropológicas e racionais da realidade, assim tivemos uma ruptura com a visão teológica cristã que se perpetuava através de pensadores como; Tomás de Aquino e Santo Agostinho e todo conhecimento escolástico que se empregava através da junção da filosofia cristã e do pensamento aristotélico. Será exatamente neste enquadramento que teremos o crescimento das áreas de ciência como: matemática, física, mecânica entre outras que procuraram dar uma compreensão mais laica da realidade, focando-se principalmente por um racionalismo metodológico específico.
Neste contexto Giovanni Battista Vico oriundo da cidade Nápoles procurou de forma racional atacar e desconstruir uns dos principais pensadores desta linha racionalista que se expandia, Descartes. Sua crítica apesar de ser de forma extremamente argumentativa não foi muita aceita em sua época e somente mais tarde suas obras irão ganhar profunda importância e relevância principalmente nas recém denominadas ciências humanas.
Contundo ainda devemos salientar que ainda hoje, Vico é ainda muito reconhecido pelas suas criticas a descartes do que pelas suas concepções sobre a história e seu modo de enxerga as produções e as buscas das verdades sobre a realidade, o que se vê nitidamente que Vico é muito conhecido pelo seu anti-cartesianismo do que pela sua própria concepção gerada. No entanto feito nossa crítica a parte, vejamos um pouco da fundamentação de sua crítica e especificamente o que o mesmo propôs na concepção do conhecimento cientifico.
O racionalismo cartesiano baseado principalmente em ciências como a matemática e a física fomentou uma metodologia própria para a concepção de verdade e deu uma interpretação própria para a realidade. Extraindo de suas abrangências e de suas aplicabilidades a concepção que todo o conhecimento passível de existir passaria por uma acepção de idéia clara e distinta, para ratificarmos nossa argumentação colocaremos a exposição do que seria este paradigma cartesiano através de Isaiah Berlin[1];

“ De Acordo com a escola cartesiana, o paradigma do verdadeiro conhecimento consistia em partir de verdades tão claras e tão distintas que somente podiam ser contestadas a custa de cair no absurdo, e dali prosseguir até chegar, através de normas estritamente dedutivas, a conclusões cuja autenticidade estava garantida pelas infringíveis regras da dedução e transformação, mediante as quais, como acontece na matemática, tais deduções derivam das suas intocáveis e eternamente verdadeiras premissas.”( Berlin, Pg: 26 e27)

O que se perpetuava através destas acepções cartesianas era que todo o conhecimento só existiria se o mesmo fosse passível de ser deduzido em expressões matemática ou físicas, e que mesmo que não tivessem a forma numérica dessas expressões teriam que alcançar o mesmo nível de exatidão para serem passiveis de analogia e de verdades.
Vico será o primeiro a questionar estes argumentos cartesianos, que para aquelas áreas que não concebiam a mesma exatidão se fosse considerado como mero passatempo ou divertimento do qual não mereciam tratamento cientifico. A contra resposta de Vico além de ser de tamanha inteligibilidade, ela foi toda fomentada através de premissas e deduções lógicas que, diga-se de passagem, foi uma ironia a parte, pois usou a própria arma do inimigo para desconstruí-lo.
Baseando-se principalmente em provar que o conhecimento matemático e físico só foi capaz de criar concepções que somente pode ser possível de aplicabilidade somente nas suas áreas, no qual em outras palavras não poderia servir de modelos para comparação de outros tipos de verdades, argumentou que o conhecimento só pode ser concebido como claro e distinto à medida que o mesmo conceber e formular suas próprias acepções.
Assim teremos na geometria, por exemplo, o próprio matemático que cria as condições de existências de um triangulo e tendo assim feito poderá ter a compreensão por completo de sua textualidade. Vico chamará esse tipo de conhecimento de per causas, um tipo de conhecimento que se baseia num conhecimento escolástico, do qual só é possível ter a noção completa de algo quando se cria o mesmo objeto, assim numa visão teológica cristã só o próprio Deus poderia ter a concepção mais concreta de tudo que existir, pois na medida em que o próprio criou este teria ciência de suas matérias e seus sentidos de existência. Contudo para deixar mais nítida nossa colocação, ratificamos através da seguinte argumentação de isaiah Berlin[2];

“ O ponto de vista de que o conhecimento per causas é superior a qualquer outro, é uma velha idéia freqüentemente baseada na filosofia escolástica. Segundo ele, Deus conhece o mundo por tê-lo feito de forma e por motivos que somente ele conhece, e nós não podemos conhecê-lo em sentido mais completo porque não o fizemos- o encontramos já feitos e nos é dado como um “fato natural”. Para o criador de uma coisa, particularmente se, como no caso de Deus, além de criar o artefato, também criou o material do qual o construiu e, ainda, inventou as regras para construí-lo, nada pode, em principio, ser opaco. “ ( Berlin, pg; 29)

Este tipo de conhecimento está mais evidente em áreas como a matemática, entretanto Vico rejeita a total certeza e absoluto deste conhecimento, pois apesar de trabalharem com mais conhecimento do tipo per causa, ou seja, aquele do qual se tem um objeto de estudo no qual o própria cria, como um triângulo, por exemplo, no entanto Vico ressalta que nem todos os conhecimentos matemáticos estão edificados por este principio, existindo assim lacunas do qual o objeto de estudo já é pré-concebido.
Lógico que dentro da matemática este tipo de conhecimento do qual o objeto de estudo já é pré-concebido é bem menor que, por exemplo, nas áreas que estudam as atividades humanas, no qual podemos classificar que seus estudos já partem de uma realidade pré- existentes e, portanto será necessário criar uma nova metodologia pra esse tipo de conhecimento, pois os princípios cartesianos que se baseiam em expressões matemáticas são incompatíveis devido a seus diferentes níveis de conhecimento per causas.
Assim diferentemente de Descartes que crítica, por exemplo, a história de forma extremamente dura, chegando a comparar que o conhecimento que um historiador tinha de Roma e comparável a da empregada de Titio Lívio, Forçando uma argumentação autoritária de supervalorizar uma área e de ridicularizar a outra. Diferentemente de Descartes, Vico reconhecerá a importância e cientificidade da matemática, entretanto ressaltará também a importância dos conhecimentos humanos e históricos, pois seu objeto de estudo se trata nada menos do que todo o espírito humano que através de suas ações gerara todas as formas de linguagens, governos, leis e filosofias.
Procurando entender este espírito e sendo também parte dela que o conhecimento humano teria que partir para uma abordagem que abrangesse a influencias de seus processos numa gama de heranças de suas civilizações e criações, criando através de concepção da idéia de verum-factum, no qual Collingwood[3] nos explana;

“ Conclui-se do principio do verrum- factum que a história – que é algo feito enfaticamente pelo espírito humano- está especialmente apta a ser objecto de conhecimento humano. Vico considera o processo histórico com um processo, através do qual os seres humanos elaboram sistemas de linguagem, costumes, leis, governos, etc. isto é , considera a história como a história da gênese e do desenvolvimento das sociedades humanas e das suas instituições. ( Collingwood, pg: 89)

Esta concepção para o conhecimento humano traz em si um principio inovador estrondoso, pois foi através deste principio que se fomentou uma unicidade comum (o espírito humano) de objeto de analise, portanto se rompeu diretamente com as abordagens históricas como a grega ou a romana, no qual suas abordagens se particularizavam em entender as causas somente em seu contexto e não fazendo assim analogias com outros povos, no qual dentro dessas visões não existia esse elo ou esse espírito humano do qual se poderia transporta de uma época para outra, pois teriam segundo Vico a mais essência e a mesma forma.
Portanto Vico contribui dando aos historiadores uma poderosa arma de analise que avaliando em nível de limites cronológico podem ser facilmente aplicado por um historiador hábil, que usando essa unidade comum que é espírito humano no qual Vico classificou, se é possível criar pontes explicando determinadas situações através de outras que tenham características em comum, e isto decorre independentemente de se tratar de civilizações ou nações diferentes.
Esta concepção de mostrar que existem períodos que apresenta características semelhantes em lugares distintos e cronologias diferentes fez Vico avançar diretamente e se encaixar como um teórico que irá formular uma teoria sobre a história, criando assim um direcionamento para essas ações, ou melhor, um sentido que as regesse.
Para Vico essas ações se constituíam através de períodos comuns que se propagam através de inversões periódicas, assim termos ora um heroísmo, ou ora um classicismo, ora uma fase agrícola, ou ora uma fase industrial, como nós é muito bem explicado por Collingwood[4];

“Em segundo lugar, Vico mostrou que estes períodos semelhantes tendiam a repetir-se periodicamente, com a mesma ordem. Cada período heróico é seguido por período clássico, em que o raciocínio prevalece sobre a imaginação, a prosa sobre a poesia, a indústria sobre a agricultura, e a moral baseada na paz sobre a moral baseada na guerra” (Collingwood, pg;92)

Entretanto apesar de apontar semelhanças entre períodos e de certa unidade comum, pois todos foram feitos pela a ação humana, Vico não caiu na velha tradição grega cíclica e nem na estática linearidade oriunda das acepções cristã, pois apesar de enxergar períodos semelhantes, estes não se repetem de forma idêntica ao que já tinha concebido, mais sim de uma nova relação configurado em novo contexto e nova realidade a ser analisada, portanto viu nitidamente a singularidade presente aos acontecimentos humanos de forma a elaborar uma visão espiral para este movimento do qual a história se decorria. Para deixar mais exposto colocaremos uma ratificação de Collingwood sobre isto;

“Em terceiro lugar, este movimento cíclico não é mero rotativismo da história, através dum ciclo de fases fixas. Não é um circulo, mas uma espiral, pois a história nunca se repete, atingindo cada nova fase, numa forma diferenciada em relação ao que antecedeu.” (Collingwood, pg; 92)

Contudo, quando foi possível Vico não foi somente um grande crítico e fundador da corrente anti-cartesiana dentro do conhecimento filosófico e cientifico, mais também uns dos grandes idealizador de concepções sobre as ciências humanas, que até sua existência não tinham seus status de ciência reconhecido no meio acadêmico e cientifico, além de formular acepções sobre o sentido e regimento do conhecimento histórico, por fim podemos dizer que Vico será o criador do principio de uma ciência nova, não formada agora somente nas expressões matemática e nas idéias claras e distintas, mas também oriunda dessa busca pela compreensão do espírito humano, dando daí o surgimento e a gênese das ciências humanas e sua forma mais nítida.

Bibliografia

Collingwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portuga.

Berlin, Isaiah. Vico e Herder, trad. De Juan Antônio Gili Sobrinho. Brasília, editora universidade d Brasília, 1982.

[1] Berlin, Isaiah. Vico e Herder, trad. De Juan Antônio Gili Sobrinho. Brasília, editora universidade d Brasília, 1982.

[2] Berlin, Isaiah. Vico e Herder, trad. De Juan Antônio Gili Sobrinho. Brasília, editora universidade d Brasília, 1982.

[3] Collingwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portuga.

[4] Collingwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portuga.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O populismo na América Latina e Suas Manifestações no México e na Argentina.

Antes de explanar sobre o desenvolvimento do populismo e suas manifestações nos países latinos americanos é necessário de principio dar nem que seja de forma pormenor uma síntese teórica do que seja o populismo. O estudo de Norberto Bobbio e Cia... em seu livro: Dicionário de política[1] faz um levantamento conceitual sobre o significado deste modo de governo que visa o povo como eixo central de suas práticas políticas.
Um dos primeiros levantamentos de Bobbio é a de diagnosticar que este fenômeno caracterizado como populismo está longe de ser formado como um objeto homogêneo, no qual todas as práticas políticas destes ditos governos voltados para o povo estarão sempre a convergi para determinado foco, sendo impossível encaixá-lo numa doutrina ou numa tese, é necessário observar as especificidades de cada uma das regiões para que se possa fazer uma análise. Na verdade para a concepção de Bobbio existirão vários tipos de populismo e cada um deste estará voltado para a sua situação histórica e sua condição regional.
Outro trabalho muito interessante que explana um pouco sobre isto, entretanto não somente a conceituação mais também a gênese do populismo é o estudo de Maria Ligia Prado em seu livro: Populismo na América latina[2], fazendo em sua abordagem um estudo sobre as origens do populismo na Argentina e no México e nos trazendo duas teorias fundamentais para o surgimento e a explicação da formação de tais governos centrados em práticas sociais.
O primeiro levantamento indicado por Ligia Prado é a teoria que explica o populismo como um governo de transição. Este teoria tentar explicar o surgimento do tal governo populista baseado nas mudanças de estruturas que os países latinos americanos estavam sofrendo, principalmente após a quebra do antigo sistema agroexportador liberal e o surgimento de novas relações comerciais e trabalhista advindo do recém formado mundo industrial.
Nessa perspectiva os governos populistas seriam um reflexo necessário para se fazer esta ponte entre o sistema de capitalismo comercial em declino para o sistema de capitalismo industrial em ascensão, era necessária reorganizar as sociedades em crises e reestruturá-las para os novos tempos emergentes.
Essa teoria enraizada de princípios marxista argumenta como principal explicação para a gênese deste tipo de governos na América latina o fato de ter havido uma quebra de hegemonia entre as classes após a crise econômica de 1929 do qual o modelo agroexportador foi à principal vítima da fraqueza do mercado, e sendo necessário agora investir numa área até então deixada de lado pelos governos aristocráticos oligárquicos, que era a industrialização e o mercado interno.
Por esta situação que teria surgido os governos populistas latinos americanos segundo esta teoria marxista abordada por Ligia Prado, apesar de certa lógica e alguns pontos interessantes desta visão marxista a própria autora explana que esta teoria não se encaixa em sua totalidade para todos os governos populistas latinos americanos, um exemplo claro dessa inadequação é o México, que teve sua quebra de Hegemonia bem antes do surgimento do governo populista de Cárdenas, mais precisamente na revolução mexicana de 1918 e mesmo o governo populista de Cárdenas esteve muito mais ligado na utopia do ejido no sentido de forma uma grande rede de cooperativas camponesas ligadas à produção (apesar de não conseguir) do que dá somente a base para industrialização interna do México, portanto está evidente os limites desta teoria.
A segunda teoria explanada por Ligia prado sobre o surgimento do populismo latino americano aborda este como um governo de emergência. Essa teoria parte do pressuposto que as situações econômicas dos países latinos americanos entraram em crise em diferentes épocas e agravaram ainda mais as diferenças sociais existentes desde do período colonial.
Essa teoria argumenta como explicação para gênese da formação do populismo latino americano o agravamento das relações sociais entre as classes, assim teremos os camponeses no México, os Obreiros na argentina, que reivindicavam melhores condições de vidas e igualdades de oportunidades por partes dos seus respectivos governos há muito tempo.
Portanto o governo populista surge como uma última forma de salvar estas sociedades de entrarem em convulsão geral e se declinarem para uma guerra civil sem precedentes, por isso esta teoria deixar evidente que os governos populistas estão muitos mais voltados para o conservadorismo e do que pra uma revolução social aparente, por mais que suas práticas políticas vão de encontro às classes mais poderosas.
O estudo de Bobbio também ressaltar este caráter homogêneo dos governos populista no sentido de evitar um confronto direto entre as classes a fim de harmonizar as sociedades através de benefícios sociais. Bobbio chegar a afirmar que os governos populistas formam uma espécie de povo e não-povo, aquele que quer colaborar com o projeto do estado em harmonizar o país em prol do desenvolvimento da nação será chamado de povo no qual o governo irá lutar por eles e aqueles que vão de encontro às práticas políticas sociais adotadas pelos seus governos serão chamados de não-povo e o governo irá procurá-los para destruí-los.
O embate teórico sobre o populismo está longe de apresentar somente estas vertentes que apresentei neste trabalho existem outras como o carisma política como causa ou ainda a formação de determinado discursos retóricos característico do populismo como gênese deste, no entanto quis dá apenas uma breve síntese para explanar sobre as manifestações do populismo no México e na Argentina.

O populismo Mexicano diferente dos outros na América latina irá emergir após uma revolução social, a revolução Mexicana (1918), no entanto os vencedores divididos entre os modelos mais conservadores encabeçados por Calles e o seu constitucionalismo e os mais radicais, os zapatistas e os villalistas enfraquecido pela morte de seus líderes (Zapata e Villa) verá como modelo futuro do México ao sair desta revolução, o projeto conservador como vencedor, no qual o principal projeto de reivindicação da revolução, a reforma agrária, será agora incluído na constituição através de determinados artigos.
No entanto com o desenrolar e as consolidações dos governos pós-revolução os números de terras que foram realmente expropriadas para a reforma agrária ainda apresentava um numero muito abaixo do esperado, isto devido à forte política burocrática que arrastava por anos o processo legal de expropriação gerando descontentamento por parte das massas camponesa que tinham colocado aquele governo no poder.
Outro fato que irá agravar a situação dos governos pós-revolução mexicana será a crise do mercado externo de 1929, principalmente no ramo agroexportador e mineral, pois gerou um déficit muito grande nestes setores que acabaram repassando suas perdas através do aumento dos preços de produtos agrícolas para as camadas médias urbanas, e assim se formou todo um quadro desfavorável para a manutenção de tais governos.
No entanto no ano de 1934 com a convocação de novas eleições surge como candidato à presidente Lazaro Cárdenas, este sendo candidato do partido da revolução, o PNR, que nesta época não perdia, já que foi a própria massa popular em sua grande maioria que tinha colocado o partido no poder. Segundo Héctor Aguilar e Lorenzo Meyer em seu livro: À sombra da revolução mexicana[3], Cárdenas era até chegar a candidato a presidência um militar de alta patente e sua consolidação política vinha mais dos prestígios de suas batalhas do que seus atos na política.
Um dos primeiros apontamentos de Cárdenas ao assumir a presidência do México foi a de unificar o congresso em prol do seu governo, já que muitos ainda apoiavam a volta de Calles e tinham desconfiança sobre seu governo. Depois de feito esta união através de articulações provinciais, Cárdenas iria partir para o principal eixo de sua política, que era o desenvolvimento da nação mexicana.
O nacionalismo de Cárdenas irá ser voltado principalmente para área rural, pois o México tinha na época uma população numericamente rural, portanto o populismo de Cárdenas tinha como projeto de desenvolvimento do México o fortalecimento das áreas rurais inclusive com a participação mais ativa desta área no órgão político do estado.
Portanto era necessário acelerar o processo de reformar agrária travada por burocracias jurídicas. Neste sentido Cárdenas criou os ejidos, uma parcela de terra expropriada dos latifúndios (através de indenizações) dada pelo governo para os pequenos camponeses, no entanto a terra pertencia à nação, ou seja, o estado.
Esse sistema criado por Cárdenas para acelerar a reformar foi o período no México que houve mais terras expropriadas em toda a história no México, no entanto era necessário para reativar o comercio nos setores agrícola e mineral um incentivo que motivasse estes camponeses para saírem do consumo de subsistência.
Para isto foram criados os bancos de desenvolvimentos agrários e as formações de ligas e sindicatos camponeses que organizassem as condições de trabalho e lutassem pelos seus direitos, assim surgiu, CNC, CCN entre outros sindicatos que junto com a CROM formavam a base do governo.
Através da cooptação das massas camponesa entrelaçada através das ligas e dos sindicatos que Cárdenas matinha o prestigio do seu governo e foi através de autorizações de greves e políticas que ajudavam ao trabalhador rural e urbano que trabalhasse por um grande proprietário que a sua popularidade cresceu.
Um marco muito grande do seu governo e de sua política foi à nacionalização das estradas de ferros e das empresas de petróleo estrangeiras, aproveitando um contexto mundial no qual o Estados Unidos estavam muitos mais preocupados quando teria que entrar na guerra que vinha ocorrendo na Europa que Cárdenas aproveitando uma reivindicação de aumento de salário por parte dos trabalhares mexicanos de petróleo e da malha ferroviária nacionalizou sem um ação militar de resposta por para dos estados unidos, no entanto sofreu desconfiança dos investidores estrangeiros com tais atitudes.
Segundo Hector e Lorenzo, Cárdenas tinha como projeto formar grandes cooperativas rurais com as terras doadas no ejidos e fazer assim uma grande produção coletiva que socializasse as rendas perante todos os eijidátarios, o que os autores chamaram de “utopia Cardenista”, no entanto como a própria Ligia Prado nos abordar a política de Cárdenas será progressista e seu sonho acaba falhando com a depreciação dos produtos agrícolas em 1938 e a necessidade de se investir numa indústria interna de manufatura pra um mercado interno frustra seu sonho.
Diferentemente do populismo Mexicano o populismo Argentino não virá de uma revolução e nem terá como característica principal a questão agrária como principal eixo da política populista peronista, mas sim as reivindicações trabalhistas das classes operárias da argentina.
Para entender o surgimento do populismo argentino é preciso recorre à situação histórica que levou ao surgimento de um grande líder como Perón. Em 1930 a Argentina evidenciou uma mudança política que terá papel fundamental para explicar o surgimento do prestigio político de Perón na argentina.
A até então União Cívica radical que tinha se mantido no poder com um projeto liberal – democrático que trouxe muitos benefícios para as classes médias urbanas, mais que nunca conseguiu ter maioria perante os congressos e nunca conseguiu trazer grandes reformas se viu em ruína com a reação das oligarquias.
A reação das oligarquias argentinas se deu pela necessidade de ter um estado voltado a reestruturar o comercio externo principalmente o de carnes e o de cereais abalados pela crise mundial de 1929, fazendo isto através de uma aliança o exército elaborando assim o golpe que tiraria a UCR do poder.
Ao voltar o poder a velha oligarquia tentar retornar e reestruturar os laços do modelo agroexportador em crise, fazendo um acordo que gerará o motivo de sua decaída. A velha oligarquia argentina tentará refazer as ligações econômicas com a Inglaterra através do pacto Roca-Ruciman, no qual a Inglaterra voltaria à compra carnes e cereais da argentina em troca de benefícios em importações, transportes internos e câmbios.
Isso na época foi considerado um ato irracional por parte dos intelectuais políticos e por boa parte da nação, já que colocava explicitamente aos “olhos nu” que os interesses próprios estavam acima da nação argentina.
A oposição começou acusar as oligarquias de terem vendidos a pátria, esta oposição, tinha comunista, socialista e membros da UCR com ambições de retornar ao poder e logo as manifestações populares que se emergiram em toda a argentina culminaram num novo golpe militar que derrubaria o projeto oligárquico de refazer o antigo sistema agroexportador como eixo central da economia argentina.
Em 4 de novembro de 1943 assumiu o governo militar do General Rawson que procurou manter a ordem da sociedade indignada com as oligarquias que tinham cometido sérias fraudes para se manterem no poder durante esses trezes anos após a queda da UCR, boa parte desta população se encontravam na rua em protestos e paralisavam assim todo o sistema do país exigindo eleições democráticas novamente, fato que irá acontecer 1946.
No entanto será nestes três anos de governos militares que Perón sairá de um simples militar ligado ao GOU (grupo de Oficiales Unidos) para ser o novo presidente da argentina como o total apoio dos mais humildes da sociedade argentina.
O GOU era um grupo dentro do âmbito dos militares que eram contra as práticas das oligarquias de se ligarem ao mercado internacional e defendia o nacionalismo e a hegemonia argentina perante a América latina do sul. Perón com este fundo ideológico será nomeado ministro do trabalho e da guerra desse governo militar.
Durante a função deste cargo Perón irá lutar para o que já existia na constituição no sentido de causa trabalhista voltasse a funcionar, assim as reivindicações dos proletariados argentinos passarão a ser atendidas como ter remuneração por dispensa de trabalho, indenização em causa de acidente entre outros benefícios trabalhistas, para isso Perón criará um tribunal próprio para julgar as causas trabalhistas.
Com essa atitude Perón ganhará fortes inimigos como os donos de fabricas e os empresários da empresas estrangeiras instaladas na argentina que farão pressão política para que Perón se afastasse ou fosse preso, no qual será preso.
A prisão de Perón indignará a população mais humilde que se via beneficiado através de suas atitudes de impor práticas sociais trabalhistas e numa manifestação sem igual na argentina exigirá que Perón seja solto num evento conhecido na história da argentina como 17 de outubro.
Perón enxergando sua força política perante a maioria da população não perderá tempo e lançara sua candidatura a presidência da argentina 1946 com a criação do partido laborista o PP ganhando a eleição implantará uma política nacionalista que visava num desenvolvimento centrado no trabalhador, era trabalhador que iria desenvolver a nação argentina.
Assim como ocorreu no México com Cárdenas Perón também procurou juntar os sindicatos dos trabalhadores com o seu governo a fim de organizar a classe trabalhadora, mais precisamente através da CGT.
Essa aliança nem sempre foi tão defendida entre os trabalhadores e muitos saíram da CGT para se juntarem a outros sindicatos, geralmente socialista ou comunista, mais que não tinha a força política para questionar o controle político do populismo peronista sobre os trabalhadores argentinos.
O crescimento das políticas sociais de Perón no sentido de dá poderes as classe operárias assustava ao exercito que até então eram umas das bases do governo peronista, no entanto o conhecimento que haveria possíveis ordens em formar um exército civil indignou o exercito que ligado ao apoio norte americano após a segunda guerra mundial e início da guerra fria no qual o medo que estas políticas populistas desenrolassem em políticas comunistas na América era grande juntou-se isso as pressões dos socialistas, comunistas, UCR, e da velha oligarquia que reclamavam em âmbito interno da extrema opressão de liberdade do governo peronista chegando a chamar Perón de fascista, toda essa esfera interna e externa levará a Perón em 1954 a sofrer dentro ainda do período do seu mandato de governo um novo golpe.





Referências


BOBBIO, Norberto. “Populismo” in Dicionário da Política
PRADO, Maria Ligia, Populismo na América Latina
Héctor Aguilar, Lorenzo Meyer, A Sombra da revolução Mexicana “Utopia Cardenista: 1930-1940” PP. 171-221.
[1] BOBBIO, Norberto. “Populismo” in Dicionário da Política

[2] PRADO, Maria Ligia, Populismo na América Latina

[3] Héctor Aguilar, Lorenzo Meyer, A Sombra da revolução Mexicana “Utopia Cardenista: 1930-1940” PP. 171-221.