domingo, 14 de março de 2010

Violência: Conceitos, reflexões e soluções para o âmbito escolar brasileiro.

Violência: Conceitos, reflexões e soluções para o âmbito escolar brasileiro.


O assunto violência dentro da sociedade atual brasileira, sempre é visto como um problema diretamente ligado à má educação, especialmente nas esferas das escolas públicas do Brasil. No entanto quando se leva este assunto para a discussão e o debate dentro da escola e da sala de aula, é categórico, no caso; professores, coordenadores e diretores, que o entrave está fora da escola, se querem dizer, advinda de um meio social, que proporciona e propaga a violência no seu dia a dia.
Essa contradição vigente do qual carrega um problema para um determinado lado nos tem trazido para um caminho que visto somente por uns dos lados não trará solução para o problema. Um grande pedagogo chamado Paulo freire[1] nos traz na sua didática a necessidade da escola como meio social, sempre tentando trazer os problemas da realidade para dentro da escola, abordando e analisando sua realidade de forma crítica, no qual essa conscientização é o melhor caminho para se educar essa sociedade. Portanto não é a escola se afastado que irá resolver, mas sim enfrentando-la, pois seu papel instrutor da sociedade não pode ser esquecido para apenas um repassador de conhecimentos ou como nas palavras de Paulo freire, de um “ deposito bancário” de conhecimento, como que se vai a um banco.
Com isso podemos dizer que à medida que a escola se virá para os problemas sociais vigentes, por exemplo, dentro de sua comunidade, ela estará simplesmente se afastando do seu papel formador e contribuindo também para que a violência se concretize ainda mais no seu meio, portanto, a escola também é um meio de transpor a violência na medida em que está se omitem em seu papel interno.
A realidade externa, é lógico, necessita de atenção especial por parte deste problema, pois no neoliberalismo do qual a nossa atual sociedade está inserida, por onde ideologia capitalista de dominação se propaga dentro do inconsciente da maioria da nossa população, colocando-se exatamente na formação dessa desigualdade de renda tão exposta no nosso cotidiano, nós dá sempre uma briga, uma confrontação, entre varias classe sociais por interesses precisamente individualistas do qual a harmonia social é sempre algo muito difícil de intensificar na medida em que a desproporções econômicas e os interesses estritamente individualistas de classes se assimilam. Portanto, teremos neste conjunto o que acaba se tornando praticamente uma “guerra invisível” a nossa vivencia, por onde a violência se propaga em suas diversas formas; física, verbal, social, cultural. Então essa briga por elevação ou para os saudosos Marxistas essa luta de classe vigente no nosso meio social, e sem dúvida um pavio de pólvora que só não explodi pelo controle contornado desta ideologia, do qual, todos nós podemos alcançar a mesma elevação de prestigio social pelo esforço pessoal. No entanto, o meio de conseguir é mais fácil pra uns que pra outros, aonde isto é simplesmente colocado numa espécie de “embaixo do tapete”, e passando a ilusão que todos tem a mesma oportunidade para tudo.
Contudo não estamos preocupados aqui em explanar as armas deste sistema para que se mantenha firme e predominante dentro de um contexto global, mas sim que ela nos traz motivos geradores de violência para o meio que vivemos e que esses problemas são refletidos diretamente dentro da sala de aula, a grande pergunta fica, como lhe dá com essa violência exposta dentro da sala de aula? Como combater e ajudar para uma busca de solução pra este problema?, Digamos de passagem que não está só na escola, mais em todo o meio é que vivemos.
Portanto não é fugindo e nem ditando regras e normas rigorosas de punição como; suspensão de aula, expulsão da escola e outros fins, que se conseguirá a solução, pois se não combatermos com seriedade a problemática da violência dentro da escola ou da sala de aula, está, a escola, se tornará mais um local de explanação da violência.
Antes de responder estas perguntas, temos que deixar transparente aquilo que conceituamos e classificamos do que seja violência. No excelentíssimo texto de Alba Zaluar e de Maria Cristina leal; violência extra e intramuros se explana alguns belíssimos conceitos para o que se designa a ser a essência da violência. Fazendo-se uma síntese sobre varias teses, do qual veremos que a violência é um conceito extremamente heterogêneo e suas diversas formas de exposição dentro da nossa sociedade, isto nos mostra a complexidade do assunto que estamos abordando.
De principio o texto abordar os conceitos de violência que está diretamente ligado a relação de poder, isto que dizer, na medida em que um sujeito passa a ter um determinado poder sobre outro em sua execução de dominação sobre o outro, a violência passa a ser neste caso o meio ou mecanismo que este individuo tem como expressão de seu poder, que neste caso seria a sujeição do outro.
Quem compartilha com essa idéia é nada menos que dois grandes teóricos chamados: Michel Foucault e Pierre Bourdieu só para ratificarmos o que estamos dizendo colocaremos a citação explicita no texto de Zaluar e Cristina que já foi tirado do texto de Tavares dos Santos;

“Podemos, deste modo, considerar a violência como um dispositivo de excesso de poder, uma pratica disciplinar que produz um dano social, atuando em um diagrama espaço-temporal, a qual se instaura com uma justificativa racional, desde a prescrição de estigmas até a exclusão, efetiva ou simbólica. Esta relação de excesso de poder configura, entretanto, uma relação social inegociável porque atinge, no limite, a condição de sobrevivência, material ou simbólica, daqueles que são atingidos pelo agente da violência. ( Tavares dos Santos et al., 1998. IN Zaluar pg: 148)[2]

Entretanto e ainda seguindo essa relação de poder e violência, Pierre Bourdieu formou um conceito especifico para uma determinada característica da violência, ou aquela que se perpetua através dos símbolos, ou melhor, da linguagem, que executa ideologicamente a sujeição do outro, e isto é, o que é feito pelo estado na sua busca pela a harmonia da convivência social, do qual as diferencias que estão claramente expostas para todos são pacificamente aceito por uma idéia de dominação, seria uma espécie de conformismo regulamentado. O que Bourdieu classificou de Violência simbólica. E só pra ratificamos mais uma vez colocaremos um citação de Zaluar e Cristina tirada diretamente do texto de Bourdieu, no qual ele explana o seguinte:

“ (...) poder de construção da realidade, que tende a estabelecer (...) o sentido imediato do mundo ( e, em particular, do mundo social), supõe aquilo que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, uma concepção homogênea do tempo, do número, da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências. ( Bourdieu, 1989. pg 9 IN Zaluar, pg 148 e 149)[3]

Esta violência simbólica, ou melhor, aquela que se explana pelos símbolos da linguagem e que determinar o poder e regulamentação do meio social, nos remete para uma reflexão do papel da educação dentro da nossa sociedade. Um belo texto que abordar está parte entre a filosofia e educação na prática é o de Cipriano Carlos Luckesi[4] no seu intitulado livro: Filosofia da educação, do qual aborda três funções explicitas para a educação dentro da sociedade; a redentora, a reprodutivista e a transformadora. A primeira, a redentora, vê na educação uma instância quase externa à sociedade, pois, de fora dela, contribui para o seu ordenamento e equilíbrio permanente. A educação nesse sentido tem por significado e finalidade a adaptação do individuo a sociedade. Já a segunda, a reprodutivista, vê a educação totalmente contrario a primeira, no qual, para ela, a educação é restritamente um fruto do seu meio social, portanto, é a própria sociedade que da forma a essa educação, pois deve se reproduzir para manter-se, e a educação é o meio reprodutivo da nossa atual sociedade, já a terceira, a transformadora, tem por perspectiva compreender a educação como mediação de um projeto social. Ou seja, por si, ela nem redime nem reproduz a sociedade. Essas três funcionalidades filosoficas da educação nos levam a pensar em quais delas seria possível à solução para tratar com a violência dentro do âmbito escolar, mas antes de irmos pra parte chave da resolução deste artigo, voltemos pra parte da conceituação do que seja a violência.
Outro grande teórico chamado Georg Simmel, que é um especialista na temática do conflito, vê a sociedade regulamentada justamente por conflitos, pois são estes que criam as normas e as regras que socializar os opostos, que dizer, o embate entre as diferencias sociais não é um violência de imposição de poder, mas sim o meio que cria as regulamentações sociais comuns entre os opostos, portanto, a violência estaria neste caso na extrapolação destas regras que visaria a destruição por completo do outro, quanto física, quanto psicologicamente, Vejamos de novo, nas palavras do teórico a sua tese envolvente a conflito, e o comentário feito por Zaluar e Cristina:

“ Nesse sentido, o conflito contribui para a regulação social, para a invenção de normas e de regras comuns aos partidos em causa, baseadas em idéias partilhadas de justiça, respeito mútuo e espírito esportivo.” ( Simmel, 1995 IN Zaluar) “O autor exclui dessa concepção de conflito socializador as manifestações extremas de violência que não poupam o adversário e tem por objetivo a sua destruição moral, psicológica ou física.” (Zaluar, pg: 150)[5]

Contudo as conceituações de violência ora como simbólicas ou ora como extrapolação da socialização dos conflitos, nos dão uma concepção de que a violência é um mecanismo do meio social, porém essa violência que impera no psicológico não é única a criar um consenso comum social, ou esquecemos que as nossas grandes mudanças de transformações sociais ocorreram através de uma violência física, no sentido literal da palavra, a força bruta, como por exemplos; as guerras mundiais ou a queda da ditadura do Brasil ou a instalação de um regime democrático, tudo isso foi decidido através de lutas que possuem sim um caráter psicológico, mas que sem a força bruta e sem a manifestação da violência física seria impossível de terem acontecidos, Como nos ratificar Zaluar e Cristina na seguinte citação:

“ Pois a violência física ( e não a simbólica) sempre foi empregada, no Brasil e no mundo, para forçar o consenso, defender a ordem social a qualquer custo, manter a unidade ou a totalidade a ferro e fogo” (Zaluar, 1999, pg: 150)[6]

Com isso podemos englobar o conceito de violência em duas esferas bem definidas. A primeira seria a violência psicológica, que incluiria quanto as Teses Michel Foucault, Pierre Bourdieu e Georg Simmel, numa abordagem subjetiva mais que se concretiza nas relações sociais, Já a segunda seria a violência física, expressa diretamente pela força bruta, mesmo que seja guiada pela psicológica não se torna menos importante na formação de senso comum nas relações sociais.
Contudo apresentado um resumo do que seja a violência será necessário respondemos as perguntas que fizemos logo de inicio, de como abordar a violência num sentido de tentar diminuir esse problema na escola e na sala de aula.
Já que explanamos a complexidade do problema, e vimos que este vai além dos limites da escola do qual estamos abordando, mexendo com toda uma estrutura de condicionantes, como: a política, a economia, a sociologia e a psicológica dos indivíduos dentro dos modos em que estes, os indivíduos, se estabelecem.
Iremos, portanto particularizar agora apenas num ponto, a escola no Brasil. O retrato das escolas brasileiras especialmente e precisamente as publicas é de plena precariedade, a falta de recursos institucionais é visível em qualquer escola que se for visitar, além disso, as grandes partes dos freqüentadores ou da população destas escolas vêem das periferias dos seus municípios, e enfrentam diretamente a desproporção econômica e a violência simbólica que explicamos, no qual estes se relutam por uma tentativa de crescer socialmente, já que acreditamos que as pessoas que vivem por exemplo nas favelas do estado de Rio de janeiro sonham na sua ambição eleva-se socialmente, por onde estas procuram soluções possíveis para que isso se possa acontecer, a escola neste caso, teria que se apresentar como solução para esta comunidade, atendendo-se assim aos desejos locais, e por isso, quando a escola se omitem desta compreensão da realidade que se situa, o que se ocorre é a procura por outras meios de elevação social, já que o desejo não acaba por causa somente que a instituição escolar não pode dar, a ir que surge por muitas vezes filosofias diferentes que pode quebrar as normas e regras do conflitos socializantes de Simmel , formado assim a violência dos traficantes de drogas, gangues de ruas e outras organizações, que criam o próprio mecanismo paralelo de elevação social independente da regulamentação jurídica atual, em outras palavras, na ilegalidade, que sugam os indivíduos destas localidades com mais sucesso do que a escola por exemplo. É preciso nessas localidades, criar ações de inclusões sociais fortes que de a esta comunidade a possibilidade de se elevar socialmente por um caminho de educação que acumule conhecimentos, não quantitativos, mas sim qualitativos, querem dizer, críticos de sua própria realidade e conhecedores daquilo que os reger, para que possam adquirir assim a possibilidade de transformação, e para que possa ter consciência, por exemplo, da ideologia que os dominam e os remeter para essa ansiedade por capital.








Conclusão
A solução que propomos seria um pouco da didática libertadora explanada por Paulo freire, levando para dentro da sala de aula e pra escola os problemas da realidade ligada diretamente com uma análise epistemologicamente dos problemas. Entre eles, principalmente, a violência. Junto com as idéias de Paulo freire, colocaríamos para fazer uma coligação a ultima tendência filosófica explanada por Cipriano, do qual, a educação tem que ter uma função transformadora do ser e não apenas formadora essas junção daria para educação um caráter crítico e ao mesmo tempo transformador dos indivíduos, porém sabemos que, o que propomos, é apenas uma proposta de abordagem determinada para especificas situações, não temos aqui um laboratório virtual para testamos os efeitos globais de que supomos, pois estamos tratando de hipóteses, mais não poderíamos apresentar o problema sem deixamos nenhum tipo de solução, pois poderíamos até ser imparcial, porém seriamos incompletos.


Bibliografia básica

FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia, Paz e terra, São Paulo, 1996.

CIPRIANO, Carlos Luckesi, Filosofia da educação, Editora Cortez, São Paulo, 1994

ZALUAR, Alba, LEAL, Maria Cristina, Revista brasileira de ciências sociais, vol: 16, n:45, Violência extra e intramuros, 2001.









[1] FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia, Paz e terra, São Paulo, 1996.

[2] ZALUAR, Alba, LEAL, Maria Cristina, Revista brasileira de ciências sociais, vol: 16, n:45, Violência extra e intramuros, 2001
ZALUAR, Alba, LEAL, Maria Cristina, Revista brasileira de ciências sociais, vol: 16, n:45, Violência extra e intramuros, 2001

[3]
[4] CIPRIANO, Carlos Luckesi, Filosofia da educação, Editora Cortez, São Paulo, 1994

[5] ZALUAR, Alba, LEAL, Maria Cristina, Revista brasileira de ciências sociais, vol: 16, n:45, Violência extra e intramuros, 2001

[6] ZALUAR, Alba, LEAL, Maria Cristina, Revista brasileira de ciências sociais, vol: 16, n:45, Violência extra e intramuros, 2001