quarta-feira, 28 de maio de 2008

Jurisdição, historiografia e transição

Jurisdição, historiografia e transição


A aplicação das leis que marcaram a transição entre o trabalho escravo e o livre no Brasil do final do século XIX foi travada por intensos conflitos de âmbitos econômicos, políticos e sociais, dos quais as heranças oriundas desta fase estarão presentes no contexto social do atual país. Na verdade, a gestação, a forma, as aplicabilidades e as repercussões destas leis encaminharão como fundamental para explicação de tal passagem, porém até então não vemos em grande amplitude em nossa historiografia abordagens que assimilam os aspectos principais dessas leis.
Focar-nos-emos aqui a contextualizar as leis Eusébio Queiroz, do ventre-livre, a do sexagenário e a lei áurea. As abordagens em geral dentro de nossa historiografia, incluindo aqui a “escola sociológica paulista’, que tem nomes como; Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso ( teoria da dependência) Emília Viotti entre outros, se encaixam numa explicação marxista para essas leis enquadrando-as principalmente com fatores externos de mudanças de sistemas econômicos, neste caso, estes leis tratam-se de um reflexo da passagem do capitalismo mercantil para o industrial que não se compatibilizava com o trabalho escravo.
Funcionaria assim como intermediação gradual e lenta para adaptação a um novo sistema em gênese em uma economia mundial, e mesmo a abordagem regionalista de Emilia Viotti não conseguiu escapar desta premissa marxista, mais vala-se se ressaltar que a mesma aponta os conflitos internos estruturais como reflexo dessas mudanças como a que ocorreu no oeste paulista entre os barões de café do vale do Taubaté e do vale do Paraíba, pois enquanto um já havia iniciado uma lenta transição entre o trabalho escravo para o livre através da imigração o outro ainda dependia do trafico inter-regional de escravos oriundos principalmente do nordeste, ou como a mesma chama, o conflito entre o velho e o novo, o atrasado e o moderno, que apesar de colocar uma abordagem interna como explicação para elaboração graduais destas leis acaba se prendendo ao marxismo em autodenominar velho e novo ou atrasado e moderno senhores que estão inseridos num mesmo contexto histórico.
Uns dos trabalhos isentos dessas raízes marxista da década de 60 é o trabalho da professora Sylvana Brandão em seu livro, lei do ventre-livre, mãe escrava[1], do qual fundamenta que está lei será essencialmente favorável aos senhores de escravos, pois ao contrario do que se possa imaginar enxergando esta lei através das perdas de suas propriedades (escravos) e principalmente a perda do ultimo meio de reprodução da escravatura no Brasil, a reprodução sexual, do qual só estes fatores já demonstram os prejuízos destes senhores com promulgação de tal lei, a abordagem de Sylvana irá buscar na circunstância da época a provas que contrariam a lógica que lançada de premissa parece inegável.
O Brasil na segunda metade do século XIX terá uma grande perca no seu contingente numérico de escravos dentro do império, isso sem dúvida teve grande parte de explicação as pressões externas oriundos de outros países, principalmente a Inglaterra. Vala-se lembrar que o Brasil será o ultimo país ocidental a eliminar a escravatura de sua constituição e durante o período do final do século somente Brasil e mais duas colônias espanholas no caribe ainda tinha tal regimento em suas sociedades.
Essas pressões influíram principalmente nas mentes dos partidários dos liberais no Brasil que em ao obter uma supremacia política na assembléia aprovarão a lei Eusébio Queiroz (1850) que tinha como princípio a eliminação do tráfico oriundo da áfrica. Lógico que a aplicabilidade desta lei em sua totalidade demorou um certa tempo e os registros de contrabando nas páginas de crimes estão cheias de casos que ilustra as praticas ilegais no sentido de manter fluxo de reabastecimento de escravos, no entanto afirmar que devido a isto não houve impactos na estrutura da escravidão já é um absurdo.
Os estudos quantitativos de Mary Karasch em seu livro; a vida dos escravos no Rio de janeiro (1808 a 1850)[2] demonstram através dos documentos de batismos e dos celsos feitos na época a decadência demográfica da população escrava no principal eixo político do império, ainda vale-se ressaltar na abordagem da autora dessa ruína populacional o grande surto de febre amarela e cólera que atingia em cheio os escravos que viviam nas piores condições higiênicas nesta época. Portanto os números de contrabando não darão conta de manter equilibrado em nível nacional o contingente de escravos por regiões e logo as diferenças regionais iria eclodir no Brasil imperial.
Neste contexto Sylvana Brandão que analisa a lei do ventre e as repercussões dentro da sociedade nos trará uma grande contribuição para explicação da gênese dos conflitos inter-regionais envolvendo principalmente a questão da escravidão e os conflitos políticos entre norte e nordeste e o centro-sul do país.
Sabemos que a segunda metade do século dezenove também é marcada do ponto de vista econômica por uma grande transição do principal produto “carro-chefe” da economia brasileira, pois o açúcar estava em declino pela queda de preço ocorrido no mercado internacional ocasionado pelo excesso de oferta e o aumento da competividade regional, principalmente com os outros países latinos americanos da região do caribe enquanto o café estava em grande ascensão, do qual o que veremos é o deslocamento do centro dinâmico do poderio econômico nacional que girava agora sobre as mãos dos barões de café do centro sul do país.
O fato é que o trafico inter-regional de escravo partirá do nordeste para o sul, já que os senhores de engenhos de açúcar nordestinos já não tinha tantos meios da manter seus escravos e a sua venda ou aluguel parecia como uma solução monetária sustentável. Essa disparidade de posses de escravos entre regiões e conseqüentemente o inicia de uma relação de trabalho livre prematura, baseada principalmente no nordeste pela massa de libertos que vinha crescendo dentro das cidades e dos campos que será o principal alicerce para os debates político que se travaram por um longo processo de busca pelo fim das relações escravista no Brasil.
Este processo que segundo a perspectiva de Sylvana terá seu gênese calcada na lei do ventre livre, no qual caracteriza esta lei como um projeto nacional elaborado pela política imperialista de D. Pedro II, que tinha como objetivo a transição gradual e lenta do trabalho escravo para o livre e que se fosse mantido principalmente os privilégios dos donos sobre os escravos fazendo isto através da criação do fundo de emancipação para libertação da escravatura, um imposto pago principalmente pelos libertos como um meio para indenizar os donos das perdas causadas pela lei abafando assim qualquer espécie de uma rebelião que provocasse um grande surto político econômico dentro do país.
Este processo será digerido aos poucos pelo contexto político nacional e ganhará forte oposição principalmente por políticos liberais ligados aos barões de café do centro sul que se sentiam prejudicados por tal lei, porém sem muitos argumentos e muitas vezes acusando o imperador de absolutista e de querer desorganizar o país, no entanto aos poucos acaba sendo vencidos pela bancada conservadora do norte e nordeste em maior número nas assembléias ministeriais, nas câmaras e no senado.
Algo muito parecido com este impasse político de resistência a tais leis oriundas do governo estatal será evidenciada na lei dos sexagenários de 1885 que será agora colocado por um ministério liberal liderado por Souza Dantas, entretanto os mesmos Barões de café irão opor-se novamente, pois a maioria dos sexagenários se encontrava em suas posses e enxergavam com limosidade tal lei. Diferentemente da lei do ventre livre que passara pela assembléia sem modificações no seu corpo jurídico a lei dos sexagenários terá modificada sua data de libertação dos escravos, que passara de 60 anos para 65.
Este processo extenso até então terá seu Capitulo final na promulgação da lei áurea de 1888, que terá seu contorno ideológico traçado principalmente por uma historiografia marxista que pela ação do movimento republicano e as repercussões oriundas dele fazem unir ou ligá-los ao movimento abolicionista.
O fato é que a imagem do imperador e da monarquia estava arranhada pela guerra platina e o crescimento da influência do exercito nacional que já mantinha articulações políticas em níveis locais serão as principais bases para aclamação da republica e os exagerados discursos que se ressaltar que a escravidão era à base da monarquia que a acabar com a escravidão através da lei áurea teria sido como cortado o “anel e o dedo” de sustentação do governo deixar muito a desejar até porque como vimos a lei do Eusébio Queiroz, do ventre livre e depois do sexagenários já vinham decretando fim aos poucos da escravidão inclusive como projeto nacional que tinha apoio por boa parte por exemplo dos senhores de engenho do nordeste, esse discurso tenta obscurecer na história as influencias dos escravos na promulgação da lei áurea já que temos neste período o auge dos movimentos abolicionistas e a força deles não podem ser enquadrados como um manipulação por parte do movimento republicano, mas sim como determinante para em termos jurídicos fosse decretados o fim da escravatura, não podemos esquece aqui que na America latina tínhamos o Haiti com um exemplo negativo no qual negros tomaram o poder e o medo de o “filme se repetir” se encaracolava nas entranhas das mentalidades das elites sejam elas cafeeira ou açucareira.
Contundo vala-se ressaltar dentro deste processo jurídico de debates políticos com interesses econômicos as ações dos escravos no sentindo de encaminhar o mais rápido possível a transição de sua condição servil perante a sociedade, pois autores como Schwartz[3] e Sidney Chalhoub[4], ressaltam as limitações de poderes dos senhores donos de escravos sobre suas posses e como muitas das vezes os escravos usava os artifícios das leis contra seus próprios donos conseguindo vantagens perante uma sociedade escravista, portanto não podemos atribuir as aplacações destas leis como uma mera questão econômica do qual a passagem para trabalho livre se tornaria mais viável através das imigrações, é necessária encaixá-la como um processo de intermediações entre pressões externas, conflitos regionais e as ações dos escravos em prol de sua liberdade do qual sem esta ótica acaba-se restringindo ora pelo fator econômico, ora pelo um fator ideológico oriundos dos discursos abolicionistas que também tinha seus limites de ação perante um cenário nacional.










Referências bibliográficas

PINSKY, Jaime,. A escravidao no Brasil. 16.ed. -. Sao Paulo: Contexto, 1998.. 78 p.
CHALHOUB, Sidney.. Visoes da liberdade uma historia das ultimas decadas da escravida na corte . Sao Paulo: Companhia das Letras, 1990.. 287p. ISBN 85-7164-116-1 (broch.).[5]
LARA, Silvia Hunold, 1955-. Campos da violencia: escravos e senhores da Capitania do Rio de Janeiro : 1750-1808 . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.. 389p. (Oficinas da história)
SCHWARTZ, Stuart B.. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 305 p. (História) ISBN 857460125X (broch.)
VASCONCELOS, Sylvana Maria Brandao de.. Ventre livre, mae escrava: a reforma social de 1871 em Pernambuco . Recife: Editora universitaria da UFPE, 1996.. 127 p. ISBN 8573150521 : (broch.)
KARASCH, Mary C., A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: broch.)
[1] VASCONCELOS, Sylvana Maria Brandao de.. Ventre livre, mãe escrava: a reforma social de 1871 em Pernambuco . Recife: Editora universitaria da UFPE, 1996.. 127 p. ISBN 8573150521 : (broch.)

[2] KARASCH, Mary C., A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 643 p. ISBN 8535900284 (broch.)

[3] SCHWARTZ, Stuart B.. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 305 p. (História) ISBN 857460125X (broch.)

[4] CHALHOUB, Sidney.. Visoes da liberdade uma historia das ultimas decadas da escravida na corte . Sao Paulo: Companhia das Letras, 1990.. 287p. ISBN 85-7164-116-1 (broch.).

sábado, 24 de maio de 2008

Dos argumentos diferenciadores a uma possível ligação entre história e literatura.

Dos argumentos diferenciadores a uma possível ligação entre história e literatura.

Resumo

Este artigo procurará mostrar possíveis ligações entre historia e literatura fazendo a sua abordagem com argumentos críticos que procuram separar estas áreas de campos de estudos, exemplificando algumas ligações de possíveis uniões entre estas áreas.

Dos argumentos diferenciadores a uma possível ligação entre história e literatura

Quando pensamos em história e literatura geralmente vem em nossa mentalidade duas áreas especificas que trabalham com métodos e objetos de estudos totalmente distintos uns do outro, algo que os tornaria impossível de qualquer ligação. Esse pensamento superficial e primário de enxergar essas duas áreas de estudos é totalmente errôneo ao apreciarmos as bases de suas estruturas conceituais do qual explanaremos.
Uns dos primeiros pontos quando se conscientiza sobre a história e a literatura é que a primeira (a história), é aquela que procura reconstruir fatos, acontecimentos, ações e imaginários de uma realidade passada, isto é claro, partindo as suas inquietações da sua contemporaneidade, ou melhor, do seu presente. Já a literatura é aquela que por principio não tem a intencionalidade e a obrigatoriedade de querer reconstruir algo como acontecimentos e ações de uma realidade determinada, e partir assim para uma abordagem universal, do qual não tem a necessidade de reconstruir algo algum, mas sim de criar na medida em que os seres interessados, os produtores literários, tiram do mundo de suas idéias particulares e demonstram as exposições de suas criações.
Portanto a história trabalharia com realidade factual, concreta, real em determinado período cronológico e a literatura com o fictício, abstrato, subjetivo sem preocupação cronológica, no entanto essa dicotomia está longe de construir uma unidade com respeito a suas estruturas conceituais.
Na verdade a busca pelo entendimento do que realmente seja esses dois campos de estudo e suas metodologias sempre foi de grande preocupações dos filósofos e pensadores desde a antiguidade até a pós modernidade, uns dos primeiros a fomentar um pensamento sobre essas duas áreas muitos próximas foi Aristóteles[1] no século IV A.C, em sua obra; A Poética procurou conceituar e separar seus objetivos e metodologias vejamos um parágrafo que explana essa sua idéia sobre esse respeito;

“ Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa ( pois que bem poderiam ser postas em versos as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser de história, se fosse em verso o que eram prosa) – diferem, sim que diz um as coisas que sucederam, e outro a poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquele principalmente o universal, e este o particular” (ARISTOLES, 1973. Pg: 451)

O pensamento aristotélico do século IV, ainda não abrangia um conceito para um literário ou produtor literário é faz uma comparação entre os versos e as prosas dos gregos em seu período clássico baseando-se em um trabalho historiógrafo dessa época, mais precisamente o que é considerado como o “ pai da história”, o Heródoto.
Na assimilação de sua reflexão Aristóteles enxergou um paralelismo opositor existente nos objetivos da produção de cada área de estudo, assim à história objetivaria aos fatos que decorem num passado e a literatura não teria objetivos decorrentes a um determinismo cronológicos, tendo-se num caso uma preocupação de caráter filosófico e irrestritamente atemporal.
No entanto, o que o Aristóteles realmente fez foi encontrar na natureza dos dois campos suas objetividades e metodologias diferentes e não uma separação conceitual que as realmente a distinguisse uma da outra, limitando–se assim o seu pensamento sobre essas áreas.
Outros discursos que são discutidos entre essas duas áreas estão na perplexa ligação que muitos filósofos durante decorrer de sua história geraram e formataram na idéia das seguintes interligações; história como o real e da literatura como o fictício, uma contraposição bem paradoxo como o filosófico e não filosófico de Aristóteles.
Mas só que aqui nós temos uma inversão, a história ganha caráter epistemológico e a literatura de algo fútil. Porém essas idéias já são tipicamente ultrapassadas, pois se pensarmos, por exemplo, nas duas grandes obras que impulsionaram a criação da mentalidade que caracterizamos como grego clássico, no caso, referimos as duas obras homéricas; a Ilíada[2] e Odisséia[3], teremos que relevar que por mais que sua literatura esteja repleta de mitos ideológicos gregos, está inserida nela também um conjuntos de valores e costumes reais típicos de uma contemporaneidade perdida pelos estudos epistemológicos atuais, no qual uma reflexão sobre elas é necessário ainda hoje para a reprodução desta sociedade.
Portanto podemos apresentar que uma obra literária além da sua liberdade irrestrita de não trabalhar com os conceitos reais e concretos dissimulando suas idéias, por exemplo, num imaginário ou num fictício (numa concepção mais moderna do termo) , cai, porém na introspecção de que todo imaginário ou criação de pensamento está preso a elementos que produzem e reproduzem a sua sociedade em questão, assim, podemos concluir que se estivéssemos aqui hoje de escrever uma produção literária como por exemplo explanação sobre a invasão dos alienígenas a terra e formação de uma nova sociedade inter-raciais entre homens e alienígenas, está obra por mais que por sorte acertasse algum coisa sobre especulações futuras, ela só poderia ser analisada criticamente para retratar o período do qual foi descrito, que neste caso seria o pensamento da sociedade do século XXI.
Esse problema de ligar o momento da criação da obra literária a um estudo do imaginário do qual foi descrito está quando não sabemos exatamente a exatidões de sua formação, principalmente quando saímos do âmbito das produções literais escritas e entramos no mundo das criações fonéticas e imaginarias reprodutivista, ou seja, quando saímos da linguagem literal para a linguagem figurativa, que só para citar um exemplo no campo histórico, vejamos aquilo que muitos historiadores chamam de história oral. Mais uma vez voltemos a um exemplo desta problemática através das obras homéricas; a Ilíada e a Odisséia.
Sabemos que por estudos lingüísticos e historiógrafos destas obras, mencionando aqui o trabalho de um grande especialista nesta área, o Moises Finley, em sua obra o mundo de Ulisses[4]. Conhecemos que todas as obras foram produzidas através de versos, e estes versos acima de tudo eram rimados metricamente em cantos que não necessariamente se ligaria um ao outro. Estes cantos poéticos do quais as duas obras homéricas se fomentaram vieram das técnicas lingüísticas e do fundo comum de mitos, lendas, contos e fábulas repassada através de uma tradição oral, constituindo assim uma história oral hierarquizada através da descendência familiar genealógica dos produtores destes cantos, considerados profissionais por suas característica herdada, do qual os historiadores configuram como os AEDOS.
Em suma, Eram homens que saiam andando pela Hélade ( Como a Grécia era chamada) atraindo público para explanação de suas estórias. Porém essas estórias que não são apenas uma reprodução, pois o fundo místico herdado como herança por esse homens ( os AEDOS) eram readaptados e recriados por eles por novos elementos pessoais e certamente contemporâneo a sua contextualidade, resumido é como tivéssemos um fundo místico- filosófico advindo de um passado mais remoto que as obras e outro fundo também místico- filosófico oriundo da sua construção pelos estes homens, que basearam-se no fundo anterior para fomentarem a sua.
Porém, hoje, achar exatamente o período cronológico de um período ou de outro ainda é um desafio atual entre lingüísticas e historiadores que trabalham com este leitorado antigo. Contudo na medida em que tivemos a ponte da linguagem figurativa com a passagem da linguagem literal, ou melhor, da escrita, perdemos muito da subjetividade oral, isso se explanarmos da própria intencionalidade pessoal dos escritores destas pontes de linguagem durantes os séculos históricos até chegaram ao contato conosco, desde dos rapsodos aos monges copistas da idade média muito se mudou dessa produção imaginária.
Hoje se credita que os conjuntos de valores, costumes e fatos que se possa tiram da linguagem poética dos textos como interpretação histórica, está fixada num período caracterizado de pós micénico e pré – formação da civilização grega, uma espécie de “idade da trevas” como Finley nos menciona;

“ que o mundo micénico tenha sido destruído, em bloco e brutamente, vê-se pelas ruínas. Para nós, o que se seguiu é, em todos os sentidos da expressão, uma “idade de trevas”, com uma vasta migração de povos em todo a área do mar Egeu, um declínio marcado do nível de vida, a ausência de grandes centros fortificados e de palácios, o desaparecimento da escrita”( FINLEY, Pg: 10)

Explicitadas as dificuldades criticas que se conserva em procurar tirar através de estudos sobre as obras literárias como as homéricas que citamos, tentando tirar a sua parte poética e sua parte histórica ou do que pode ser considerado como verdadeiro e o que não é verdadeiro, esta errado, pois se for encarado deste jeito será mais uma das reproduções simplistas que estamos apontando sobre as estruturas conceituais que coligam a história e a literatura.
Este pensamento que expomos sobre a concepção de que a produção literária está presa a sua contemporaneidade de sua composição, no qual o autor literário representa através de suas idéias uma representação do seu imaginário e este( o imaginário) é fruto de uma realidade, propagando assim a idéia que todo fundo poético tem um pouco de realidade, no qual os historiadores fazendo assim através de um estudo de todos os fatos que decorriam antes e do atual ao ato da produção, conseguirão enxergar a verdade além da imaginação poética das literaturas. Não é uma idéia tão antiga dentro da historiografia, pois os historiadores que esteja lendo este artigo irão se lembrar nitidamente de uma concepção histórica que virou teoria, conhecido por nós( historiadores) como escola dos annales que tiveram como seus fundadores Lucien Febvre e Marc Bloch[5], na qual provocaram uma verdadeira mudança da perspectiva histórica e sua abordagem dentro da historiografia saindo de uma interpretação de fatos concretos e políticos para uma interpretação dos fatos subjetivos e sociais, abordando temas diversos como: a loucura, a crença, as concepções filosóficas e o imaginário, criando assim exatamente o que procuremos representar no nosso parágrafo anterior ou o que se chamou de história das mentalidades, mais que atualmente se abrangeu para historia dos imaginários, no qual objetivo histórico nesta área é entender e distinguir as diversas estruturas mentais que se formaram ao longo da historia da sociedade, do qual a literatura é um instrumento de exposição que explana e da forma as essas estruturas mentais.
Portanto a literatura neste caso é usada como fonte histórica que ajuda o historiador a construir uma interpretação, ressalvando já, os problemas de quando não sabemos a exatidão das produções imaginárias tornando impossível caracterizar o pensamento a um determinado cronológico, mas mesmos assim os estudos lingüísticos conseguem chegar muito perto desta cronologia pela forma da escrita que só se pode fazer quando as idéias são expostas diretamente e ao mesmo tempo no papel ou para não se ser restrito ao termo moderno, ao papiro, pergaminhos ou qualquer outra forma de conservação documental que tenha ficada intacta as modificações, o que não aconteceu como exemplificamos com as obras homéricas.
Contudo esse uso não pode ser fixa na idéia reducionista de procurar na literatura uma espécie do que é ficcional do autor e o que é que real do seu contexto imaginativo ou dois pontos tem que ser embatido como um todo para que se possa ter um junção holística de vez de diferenciadora como que se separa o joio do trigo.
Na verdade o que tem às vezes é uma tentativa de “ marcar território” como se fosse propriedades de terras cercados por arames farpados de vez de ser tratado como um “ território comunal” no qual a produção ( o conhecimento produzidos em conjunto) serviam para ambas as partes. Entretanto ao invés disto o que vemos é uma serie de restrições de ambas as partes para se configurarem como heterogênea, talvez sem duvida com o medo de perderem seu status de ciências sociais autônoma que tanto o carregam como se fosse um premio pra suas existências fazendo tortuosas conceituações para distinguir uma das outras utilizando de argumentos exclusivistas que só demonstram uma aparente e figurativa separação. Assim argumentos como vimos; filosófico contra não filosófico, concreto contra subjetivo, ficção contra real, ora como para um, ora como caracterizando para o outro, só são tentativas de tentar manter uma distancia entre eles( história e literatura), pois podermos argumentar facilmente contra qualquer argumentos para qualquer lado de abordagem, quanto pra a história, quanto para literatura.
Portanto não podemos dizer que a história não é filosófica, pois isto é desconhecer o processo da produção da escrita histórica e sua variedade de metodologias de pesquisas e é acima de tudo negar o caráter filosófico das interpretações históricas. Dizer também que a literatura não é filosófica é negar o processo que literário faz na fomentação de sua obra, por fim as características antagônicas apontadas como diferenciadoras na verdade forma pontos em comum entre essas duas áreas de campo de estudo, e vimos que a ligação entre elas pode ser feita como o uso da literatura como fonte ou também a história como fonte literária, assumindo assim o vice versa e a dualidade das ligações e só para não ficarmos restrito a somente uma concepção histórica, no qual a literatura foi assimilada pela história, daremos um exemplo aonde a interpretação histórica torna-se fonte para a teoria literária.
Para relatar essa ligação usaremos um gênero de um estilo literário, o romantismo. O romantismo[6] por conceituação foi um movimento de expressão surgido do século XIX, tendo como características literárias; a volta ao passado( num sentido saudosismo), subjetivismo, idealismo e o sentimentalismo das relações humanas. A idéia e as características que apontamos ao romantismo configuram uma parte desta mentalidade, pois ele é considerado como um movimento de protesto contra a ascensão do mundo burguês e da sociedade capitalista do século XIX numa tentativa de resgatar ilusões perdidas num passado considerado gloriosos para esses produtores literários.
Num entanto o que queremos abordar aqui é um estilo oriundo deste romantismo, mais precisamente o que foi denominado pelos teóricos literários de romance histórico. Este estilo dentro do gênero romântico criou suas obras através de uma mistura entre conceitos abrangentes à história com uma concepção literária, fazendo uma busca por passado semelhante a um trabalho de um historiador, analisando seus personagens, seus eventos e até fazendo interpretações de fatos utilizando assim as metodologias do historiador, portanto faz dos métodos históricos como fonte para sua criação, formando assim mais uma ligação possível entre essas áreas, porém ainda existem algumas diferencias do qual podemos distinguir entre o romance histórico e a história.
Talvez uns dos grandes elementos que torna a história e literatura semelhante estão na necessidade de ambas serem expostas através de uma forma de discurso, pois quanto as interpretações quanto as criações poéticas são formadas através de um discurso, quanto figurativo fonético ( história oral , contos, fabulas) ou do figurativo escrito ( tese, livros, poesias) se tornariam algo restrito se não fossem colocados na realidade por um determinado discurso.
Antes de produzir este artigo estive lendo artigos pós modernistas[7] que abrangiam a suas abordagens para reduções relativistas do discurso, chegando alguns a apontar que a realidade não existe, e o que existe na verdade são suas comunicações, seus símbolos, ou seja, o seu discurso.
O que mais me chamou minha atenção foi um teórico chamado Hayden White e sua teoria literária e escrita histórica, exposta na sua obra intitulada de Metahistory, no qual afirma o desafio de restabelecer o dialogo intimo da história com a teoria literária, de sugerir a permanência de uma estreita interação.
Na explanação de sua tese este teórico( Hayden White[8]) estabelece uma ligação tão intima entre esses campos que chega a resumir a história como um fim de um ato poético. A sua idéia se inspira na tese que a história só passa a surgir à medida que esta emite um discurso, ou seja, apresenta se em alguma forma simbólica de linguagem.
O historiador interpretar um acontecimento através de um enquadramento de eventos formulando assim o fato. Essa diferencia entre fato e evento é fundamental para entendermos a sua tese. O evento é formulado pelo aquilo que aconteceu. Já o fato é criado pelo historiador através de sua linguagem e pela sua interpretação ao evento não representando o que realmente aconteceu, mas sim a representação de um discurso histórico e sua interpretação.
A história caracterizada por Hayden White é formado e feita por discursos históricos seria assim tropológica e metafórica e semelhante a literatura e as linguagens figurativas já que sua produção se produz de um interpretação de enquadramentos de eventos, portanto a história é formada por uma criação por parte dos historiadores, nesse idéia a teoria literária procura enxergar os tipos linguagem ou os tropos produzidas por este discurso.
Os tipos que o nosso teórico em questão usa, está baseado na teoria da retórica neoclássica que ainda por sinal não definiu todos os tipos de tropos de linguagem, entretanto os quatros tipos gerais de tropos identificados são; a metáfora , a metonímia, o sinédoque e a ironia algo correspondente aos estilos literários como; romance, tragédia, comedia e Sátira. Nesta configuração o discurso histórico teria a opção de escolha através da linguagem a sua interpretação, essa idéia é extremamente conflitante dentro da historiografia muito historiadores não vêem sentido algum e nem importância se um historiador é trágico ou romântico, o que importa é sua concepção filosófica formulada pelo evento e não sua expressividade, porém a defesa dos que defende a tese da teoria literária na escrita histórica formula que dependendo da escolha de certo tipo de linguagem a sua interpretação pode dar um sentido diferente, modificando sua filosofia e sua visibilidade sobre os eventos.
Esse debate ainda tem muito que crescer principalmente com o avanço das idéias pós modernista que nada existe, somente os símbolos, ou seja, o discurso, isto nos faz lembrar muito a cinematografia Americana na sua famosa trilogia do filme Matrix.

Conclusão

Contudo é possível enxergar ligações entre história e literatura tanto no âmbito teórico como no âmbito das ligações interdisciplinares, ou seja, o uso de uma para o melhor aproveitamento da outra. Assim vimos à história do imaginário dos annales que usa a literatura como um ponto para o entendimento das estruturas mentais da sociedade, como também vimos o uso dos métodos históricos de pesquisa para a formulação dos romances históricos literários, portanto está ligação é possível por mais que se tentar separar estas áreas por argumentos opositores.


Notas Referências

[1] Aristóteles. Poética. Os pensadores. São Paulo, Abril Cultura. 1973.

2 HOMERO, Ilíada, Tradução; Manuel Odorico Mendes, Martin Claret, São Paulo, 2005.

3 HOMERO, Odisséia, Tradução; Manuel Odorico Mendes, Martin Claret, São Paulo, 2005.

4. FINLEY, M. I, O mundo de Ulisses, Editora presença, Lisboa.

5. Burke, Peter, A revolução francesa da historiografia escola dos Annales( 1929-1989).



6. SILVA, Kalina, SILVA, Maciel Henrique, Dicionário de conceitos históricos, editora contexto, 2005.


7. SILVA, Kalina, SILVA, Maciel Henrique, Dicionário de conceitos históricos, editora contexto, 2005

8. Estudos históricos ( CPDOC), Rio de janerio, vol 7, n: 13, 1994

[1] Aristóteles. Poética. Os pensadores. São Paulo, Abril Cultura. 1973.
[2] HOMERO, Ilíada, Tradução; Manuel Odorico Mendes, Martin Claret, São Paulo, 2005.

[3] HOMERO, Odisséia, Tradução; Manuel Odorico Mendes, Martin Claret, São Paulo, 2005.

[4] FINLEY, M. I, O mundo de Ulisses, Editora presença, Lisboa.
[5] Burke, Peter, A revolução francesa da historiografia escola dos Annales( 1929-1989).
[6] SILVA, Kalina, SILVA, Maciel Henrique, Dicionário de conceitos históricos, editora contexto, 2005.

[7]; SILVA, Kalina, SILVA, Maciel Henrique, Dicionário de conceitos históricos, editora contexto, 2005
8- Estudos históricos ( CPDOC), Rio de janerio, vol 7, n: 13, 199

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Introdução do Blog

espaço criado para a propagação dos pensamentos históricos e suas reflexões. A busca pela construção da história remeter uma intensa dinâmica capaz de formular diversas trilhas para se enveredar o passado e tentar dá sentindo ao presente. O historiador como um criador de efeitos amplia a cada segundo os horizontes da história na medida em que se dedica incansavelmente a tarefa de abrir novos caminhos para compreensão do seu conhecimento histórico. "A História é um jovem que incansavelmente bebe a toda hora a água da juventude e seu poço está explicito na sua invariante vontade de sentir e compreender os desejos da vida" (Rafael Agostinho)