terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sexualidade & Gênero, abordagem das relações sociais e históricas do masculino e feminino.

Introdução
As discussões teóricas em volta das relações de gêneros e de toda sua trajetória histórica vem recentemente repercutindo dentro do mais diversos âmbitos sociais, evidenciando as implicações e as influências que estas relações entre sexos e gêneros exercem sobre os comportamentos sociais mais conflitantes da nossa sociedade brasileira contemporânea.
É inegável em nossa base empírica cotidiana que estamos assistindo através dos meios de comunicação em massa a ascensão da violência contra mulher, da discriminação do gênero feminino no mercado de trabalho, os preconceitos contra os homossexuais, entre outros entraves que esta despertando a sociedade brasileira para a importância de compreender de como estamos nos relacionando, sexualmente e socialmente em nosso dia-dia.
O caso de comoção nacional de Elóa, uma menina assassinada brutalmente pelo seu ex-namorado que não aceitava o fim do seu relacionamento afetivo, retrata veemente a necessidade de se pensar nesta temática com profundidade para entender como as relações entre os sexos deslizaram para uma banalização do corpo e para uma violência exacerbada.
Nesta perspectiva sociológica iremos concatenar nossas ideais correlacionando com a definição da sexualidade e as ressonâncias das relações sociais entre os gêneros, abrindo aqui o debate para a construção da identidade sexual, dos papeis sociais e daquilo que poderíamos pensar para diminuir a desigualdade de gênero existente que acarretam em atos de violências como o que citamos.
Nossas escritas estão calcadas nos trabalhos sociológicos feitos entre sociólogos americanos e brasileiros lançado no livro: sociologia, sua bússola para o novo mundo, assim todos os exemplos e boa parte de nossas citações estarão ligadas com os pensamentos destes sociólogos.



Sexo versus gênero

Em 1965, na cidade de Winnipeg, nos Estados Unidos, Janet e John Reimer, um jovem casal de fazendeiros mal saído da adolescência deu à luz a Brian e Bruce, um par de gêmeos. Aos oito meses de idade, por indicação médica, as crianças foram levadas a um hospital onde sofreriam uma circuncisão tida como de rotina. Num episódio que nunca foi totalmente esclarecido, foi usada uma agulha de eletrocauterização em vez de um bisturi para retirar o prepúcio de Brian, procedimento que destruiu completamente seu pênis.

Pouco depois, os pais de Brian e Bruce viram, por acaso, na televisão uma entrevista com o psicólogo Dr. John Money, da Jonhs Hopkins University - Baltimore, na qual ele asseverava que os bebês nasciam "neutros" e teriam sua identidade definida como masculina ou feminina (identidade de gênero) exclusivamente em função da maneira pela qual seriam criados. Tal informação lhes pareceu muito apropriada para a resolução do problema de Brian, o filho mutilado. Logo procuraram aquele especialista, que imediatamente se dispôs a atendê-los, quando indicou uma mudança cirúrgica de sexo, que, realizada,transformou Brian numa menina,Brenda. Money orientou os pais de que deveriam educar "Brenda" como menina, agindo como se a criança tivesse nascido com o sexo feminino.
Os pais de Brian-Brenda não sabiam, mas Money - um psicólogo nascido na Nova Zelândia no seio de uma família regida por rígidos preceitos protestantes - era conhecido como uma espécie de guru da sexualidade e preconizava comportamentos sexuais ousados, embora que compatíveis com o espírito da época nos Estados Unidos, quando vigorava o protesto contra o Viet-Nam, o movimento hippie questionava tradições culturais arraigadas e o movimento feminista explodia com grande radicalismo. Money defendia os casamentos "abertos", nos quais os cônjuges poderiam ter amantes com consentimento mútuo; estimulava o sexo grupal e bissexual, além de, em momentos mais extremados.
O interesse de Money no caso de Brian não poderia ser maior. Como defendia a idéia de que as diferenças de comportamento entre os sexos eram decorrentes de fatores sócio-culturais e não biológicos (nature versus nurture) - tese aclamada pelas feministas de então -, a mutilação de Brian oferecia-lhe uma excelente oportunidade de colocar à prova sua teoria. Havia - em sua opinião - a indicação para a mudança cirúrgica de sexo, os pais tratariam a criança conforme sua orientação e o experimento teria uma contraprova natural, pois havia um irmão gêmeo idêntico, univitelino, que serviria de controle.
Money tinha anteriormente colaborado nos procedimentos pioneiros de "realinhamento sexual" (sex reassignment) em crianças com hermafroditismo. Brian foi a primeira criança nascida normalmente (com definição sexual masculina)a ser submetida a esse processo. Assim, segundo vários relatos que Money publicou no correr dos anos 70, a experiência teria sido um grande sucesso. Os gêmeos estavam felizes em seus papeis estabelecidos: Bruce era um menino forte e levado; "Brenda", sua "irmã", era uma doce menininha. Em função dessa experiência, Money ficou mais famoso. A revista TIME dedicou-lhe uma longa matéria e o incluiu num capítulo sobre gêmeos em seu famoso livro,boy & girl. Como inexplicavelmente deixou de publicar as evoluções do caso, o fato chamou a atenção de um pesquisador rival, Dr. Milton Diamond, da Universidade do Havaí, que procurou informações e reconstruiu a verdade sobre o mesmo, a verdade descrita por Diamond era muito diferente da versão sustentada por Money. Desde os dois anos, "Brenda" rasgava suas roupas de menina e se recusava a brincar com bonecas, disputando com o irmão Bruce seus brinquedos. Na escola, era permanentemente hostilizada pelo comportamento masculinizado e pela insistência em urinar de pé. Queixava-se insistentemente aos pais por não se sentir como uma menina. Mantendo as orientações de Money, os pais diziam-lhe que era uma "fase" que logo superaria.. Quando "Brenda" tinha 14 anos, não agüentando mais a situação, os pais consultaram um psiquiatra de sua cidade, que sugeriu dizer toda a verdade para "Brenda". Tal informação teve um efeito profundo e transformador. Posteriormente, "Brenda" disse: "De repente, tudo fazia sentido. Ficava claro por que me sentia daquela forma. Eu não estava louco". “Brenda” imediatamente se engajou numa busca do sexo perdido. Fez inúmeras cirurgias para fechar sua vagina artificial, recompor a genitália masculina com a implantação de próteses de pênis e testículos, retirar os seios crescidos a base de estrógenos, além de iniciar tratamentos hormonais para masculinizar sua musculatura. Nesse ínterim, a mãe, que se sentia culpada e desorientada com a situação da "filha", tinha entrado em depressão e, a certa altura, tentara suicídio. O pai desenvolveu um alcoolismo grave e o irmão gêmeo Bruce, começara a usar drogas e a praticar atos delinqüências ao atingir a adolescência. "Brenda", agora "David", apesar de todas as cirurgias e da nova identidade masculina, mergulhara também numa séria depressão e tentou suicídio pela primeira vez aos vinte anos de idade.
Quando tinha 30 anos, David foi encontrado por Diamond, que, como dito acima, desconfiara do motivo que levara Money a interromper, sem maiores explicações, o relato de um caso que reputava de tanto sucesso. David soube que, até então, seu caso era mundialmente conhecido, apresentado na literatura médica como um grande sucesso e usado para legitimar procedimentos de alteração cirúrgica de sexo em crianças hermafroditas ou que sofreram algum tipo de mutilação. Tal como Diamond e Sigmundsen, David ficou indignado com tal impostura, e resolveu colaborar com aqueles dois profissionais, dando origem ao trabalho que recolocou a verdade em circulação, engajando-se numa campanha para evitar que outros passassem pelos mesmos sofrimentos que ele tivera de suportar. O trabalho de Diamond foi largamente divulgado e chegou à grande mídia, jornais e televisões norte-americanos. Foi assim que John Colapinto, redator da revista Rolling Stone, tomou conhecimento da vida de David. Tendo em vista entrevistá-lo, Colapinto procurou David e desse encontro surgiu a idéia de escrever sua biografia, que tomou o nome de As Nature made him - The Boy who was raised as a girl. Os lucros da publicação foram divididos meio-a-meio entre Colapinto e David, assim como sua venda para o cinema, já que o livro despertou o interesse do diretor Peter Jackson de Lord of the rings ("O Senhor dos Anéis"). David se casara com uma bondosa mulher que o suportou por 14 anos. Cansada de seu caráter soturno, melancólico, ela propôs a separação. Poucos dias depois, David se matou como um tiro. Ele estava com trina e oito anos de idade. Outros elementos poderiam ter contribuído para seu gesto. Seu irmão Bruce, com quem estava brigado, se suicidara dois anos antes, com uma overdose de medicação para esquizofrenia, um diagnóstico que lhe haviam dado. Além do mais, David perdera todas suas economias advindas dos direitos autorais de sua biografia e futuro filme nela baseado num investimento indicado por um amigo. É verdade que o suicídio de David Reimer poderia ser atribuído a cargas genéticas, já que sabemos da depressão de sua mãe e do grave alcoolismo de seu pai, sem mencionar o suicídio de seu irmão gêmeo. Mas é difícil ignorar o peso das circunstâncias trágicas que se abateram sobre essa família.
A experiência de vivida por David deixa evidente que existem mais coisas envolvidas no tornar-se homem ou mulher, do que diferenças sexuais biológicas. Os sociólogos diferenciam o sexo biológico, do gênero sociológico. O gênero é composto dos sentimentos das atitudes e dos comportamentos geralmente associados a homens e mulheres. O gênero tem inicio nos primeiros estágios da vida. O que acontecia com David, é o que os sociólogos chamam de identidade do gênero,ou seja, a sua identificação com o sexo particular, ou o sentimento de pertencer a esse sexo.

Teorias do gênero
Após, repercutirmos as diferenças conceituais entre sexo e gênero e as implicações que ambas têm nos comportamentos sociais dos indivíduos, na perspectiva da construção da identidade sexual e da discussão sobre os papéis dos gêneros.
Iremos a partir de agora abordar as diferentes explicações ou modelos teóricos que foram atribuídos a esta temática em questão, focando nossa discussão no embate teórico construído entre o essencialismo e o construtivismo social.
Estas duas concepções distintas de enxergar os fenômenos comportamentais que envolvem a emblemática da sexualidade e do gênero na perspectiva social, contribuíram para nos auxiliarmos em nossa trajetória de delinear as diferentes percepções em que a sexualidade e o gênero possam esta envolvida na nossa sociedade contemporânea.
Essencialismo
Antes de qualquer assertiva, para iniciarmos nossas discussões sobre as distintas teorias elaboradas sobre a construção dos gêneros e as diferentes concepções dos teóricos essencialistas que explicam a formação dos gêneros. Faz-se necessário primeiramente colocarmos algumas perguntas intrigantes sobre esta questão, por exemplo: Como e quando definimos nossa sexualidade? Quando o homem e a mulher constroem sua identidade enquanto sexo e gênero? Como se dar as interações sociais entre os distintos sexos? As relações sociais entre os distintos gêneros são de alguma forma igualitária e/ou desigual? Mesmo se levando em conta a influência do relativismo cultural e histórico.
Todas essas perguntas e muitas outras veementes formadas sobre esta temática formam a base científica inicial das pesquisas dos sociólogos, psicólogos, antropólogos e historiadores. Assim é através das distintas percepções e contribuições específicas dada por diferentes áreas das ciências sociais que se é hoje possível traçar algum embasamento cientifico sobre esta questão, demonstrando a complexidade e a importância desta temática.
As teorias essencialistas atribuíram a diferença e a construção da sexualidade e respectivamente ao gênero, uma idéia de “essencial’ ou algo inato que determinaria o sexo e comportamento social enquanto gênero.
O nosso discurso para tal assunto, esta baseado nos estudos de um grupo de sociólogos americanos que juntamente com sociólogos brasileiros da Universidade Federal de Pernambuco lançaram recentemente um livro intitulado: Sociologia, sua bússola para o novo mundo[1].
Neste sentindo, as nossas escritas aqui explanadas sobre as distintas concepções essencialistas existentes, estarão concatenadas através das acepções de Sigmund Freud, e o seu estudo psicanalítico sobre a personalidade e o desenvolvimento psicosexual, e as concepções dos sociobiologos e da psicologia evolucionária das implicações dos instintos e da genética na construção da sexualidade e do gênero em sua perspectiva social.
Procurando achar repostas para os comportamentos humanos e o seu desenvolvimento, é que Sigmund Freud em final do século dezenove desenvolveu seus estudos psicanalíticos sobre a mente humana, focando principalmente em suas pesquisas a essência e o princípio universal que explicaria o surgimento das personalidades.
Reconhecido como “pai da psicanálise” Freud trouxe para psicologia moderna o estudo do inconsciente humano se distinguindo assim da psicologia cientificista reinante no século anterior, do qual esta se focava principalmente no estudo do consciente humano omitindo o inconsciente.
Em seus estudos Sigmund Freud atribui ao homem à concepção inata da idéia de libido, sendo esta, a “energia nuclear” do prazer e dos instintos sexuais que todos os indivíduos carregam consigo como uma natureza humana involuntária.
Baseado nesta concepção essencialista para o desenvolvimento humano, que Freud elaborou a teoria psicosexual do desenvolvimento humano, como uma forma de explicar a formação das personalidades através de estágios distintos no qual passariam os indivíduos em seu desenvolvimento. Os comportamentos dos seres humanos seriam conduzidos por essa libido inconsciente e impulsionados pelos desejos sexuais.
No terceiro estágio (a fase fálica) de sua teoria psicosexual sobre o desenvolvimento, Freud procurou explicar a gênese da sexualidade e atribui as diferencias anatômicas como um fator primordial na identificação do sexo.
Para Freud, nesta fase entre 4 a 6 anos, é o período essencial da diferenciação e da identificação do sexo, pois é neste período que a criança começa a perceber sua parte genital, e se identifica com seu sexo. O menino descobre que é diferente da menina pela presença do pênis e a menina pela ausência.
O menino nesta fase libera sua libido inconscientemente ao vê sua mãe ou qualquer menina nua, passando a ter a ilusão involuntária de sentir prazer sexualmente por sua mãe, porém acaba sentindo frustrado e reprimido através da figura do pai, assim reprime este desejo em seu inconsciente para que mais posteriormente esta repreensão o identifique com seu gênero masculino, se tornando forte e independente.
A menina por sua vez, segundo Freud, tem “inveja” do pênis do homem e acaba neste período se afastando da mãe, que também assim como ela têm essa “ausência” de pênis, acaba também liberando a libido sexual inconsciente pelo pai, que é reprimida pela presença da mãe, sendo esta repreensão mais tarde responsável pela identificação com o gênero feminino, se tornando imatura e dependente dos homens.
Entretanto essa concepção essencialista de Freud pode ser de certa forma contestada quando atribuirmos que este (Freud) também levava em conta a forma como se davam esse reconhecimento anatômico, tanto masculino quanto feminina.
Nesse processo de reconhecimento anatômico é incontestável a influência das interações sociais e da socialização primário, por exemplo; no caso em que a mãe maltrate o menino, este, dificilmente conseguira liberar a libido pela sua mãe, ou mesma a morte dela precoce pode fazer que o menino procure novas formas de identificar-se com sua sexualidade.
Entretanto a teoria essencialista sobre a explicação do gênero não se resumiu somente em Freud, e passou a ganhar no final do século XX uma “nova roupagem” através das pesquisas e dos estudos dos sociobiologistas e da psicologia evolucionária contemporânea.
Estes teóricos atribuíram ao fator genético à formação e a diferenciação dos sexos e dos gêneros, repercutindo esta implicação como possível explicação para os comportamentos distintos entre o homem e mulher e suas relações.
As concepções destes teóricos explanam a idéia que os homens e as mulheres têm instintivamente a missão de perpassar os seus genes para as gerações posteriores, sendo isso, o ato responsável pela sobrevivência humana
Nesta missão de perpassar os genes, segundo estes teóricos, a mulheres partiriam de uma posição diferente ao do homem, pois a mulher durante todo seu ciclo de vida tem um número muito pequeno de excreção de óvulos, enquanto o homem emana milhões de espermatozóides em sua vida sexual.
A implicação desta premissa explicaria os comportamentos distintos entre os dois sexos, a mulher teria instintivamente a ressonância de procurar uma vida mais estável como uma forma de se precaver pela falta de “óvulos” futura tendo a incumbência da responsabilidade dos filhos e uma ambição pelos valores matérias mais forte, o homem por sua vez, por ter um excesso de genes tendem a ser promiscuo e independente tornando-se agressivo pela necessidade de conquistar o acesso sexual as mulheres pela competição.
Essa concepção dos sociobiologistas e da psicologia evolucionária diferentemente da teoria Freudiana ganhou uma conotação ainda mais uma determinista, se fundamentando principalmente nas diferenças biológicos para explicar as distinções existentes entre homens e mulheres.
Antes de discorremos as devidas críticas sobre as correntes essencialistas, devemos dizer que antes de se pensar se o individuo têm ou não têm alguma coisa como essência, como crê os teóricos que explanamos, é necessário levarmos em conta que a questão biológica ou natural também exerce uma influência importante nos comportamentos humanos não podendo ser descartada totalmente. Lógico que este determinismo exacerbado exaltado pelos sociobiologistas e pela psicologia evolucionária só leva a enxergar uma parte ou por muitas vezes nenhuma dela.
Podemos ao elaborarmos nossa primeira crítica apontar o fato das variações culturais e históricas, aonde aplicação das teorias essencialistas se tornariam falhas ou imprecisas devido a diversidade de costumes e formas em que as sociedades se organizam historicamente e culturalmente.
Parecermos que estes teóricos ao elaborarem tais modelos universais usaram como “laboratório social” (se isso é possível) somente a sociedade de sua época em que viviam e não conseguiram tentar aplicar suas implicações em outras culturas ou em outras sociedades históricas.
A segunda crítica que direcionamos ao essencialismo esta na sua tentativa de generalizar os comportamentos a partir de médias de um determinado grupo, assim as variações são quase que ocultadas neste processo de pesquisa, colocando numa “cortina de invisibilidade” o que talvez fosse um resultado oposto ao apontado nestes trabalhos.
A terceira critica que notamos é que os princípios norteadores levantados por estes teóricos não tem uma base de averiguação sustentável, não temos como confirmar se existe ou não existe a libido Freudiana e nem por muitos menos os instintos genéticos da sociobiologia e da psicologia evolucionária.
A quarta e ultima crítica que fazemos é talvez a mais forte delas. Acreditamos que as teorias essencialista vêm contribuindo para esconder ou até perpassar a desigualdade entre os gêneros, na verdade como vimos nas duas teorias que pontuamos, estas duas acepções essencialistas colocam a mulher em um estado de submissão e explica isso como se fosse algo natural, inato, advindo de questões anatômicas ou genéticas.
Estas teorias esquecem a influência social na construção da sexualidade e do gênero, isto advindo com a aprendizagem social e a transmissão cultural e histórica das relações entre homens e mulheres.

Construtivismo social

O construtivismo social seria as diferenças de gênero com reflexo das diferentes posições sociais ocupadas por homens e mulheres percebendo-se a construção pela cultura e pela estrutura sociológica do indivíduo. Ela seria a principal alternativa ao essencialismo.

Socialização de gênero

As meninas aprendem quando brincam com as bonecas Barbie ou Suzi (chamadas de fashion dolls), um modo de vida com atividades domésticas, higiene e cuidados com o corpo e a beleza.
Quanto aos meninos os bonecos têm formas masculinas estereotipadas. Chamados bonecos de ação, enfatiza a força física, a agressividade e, por vezes, a inteligência. Mesmo assim os brinquedos são apenas uma pequena parte da socialização de gênero não podendo ser considerado principais elementos. Pesquisas realizadas na década de 1970 mostraram que desde o nascimento meninos e meninas mesmo se assemelhando em peso, tamanho e condições de saúde são tratados estereotipadamente pelos pais, principalmente pelo pai, sendo as meninas consideradas como frágeis, delicadas e bonitas enquanto os meninos são fortes, ativos, com boa coordenação motora. Também encorajam os filhos a se envolverem em brincadeiras agressivas e competitivas. Já as filhas são encorajadas a se envolver em jogos cooperativos ligados a interpretação de papéis como teatrinho, escolinha, casinha, etc. Esses padrões levam a desenvolver uma preocupação com o sucesso e o estabelecimento de sistemas de hierarquia com o primeiro e a habilidades verbais e emocionais com o segundo.

West e Zimmerman afirmam que o gênero é algo construído e não apenas dado. A prova para isso seriam pais, professores e outras figuras de autoridade tentarem normalmente impor suas idéias acerca de comportamentos de gênero apropriados às crianças, porém elas as interpretam, negociam, resistem impondo suas próprias idéias todo tempo. Outra pesquisa feita pela socióloga Barrie Thorne com crianças norte-americanas da quarta e da quinta séries verificou a auto-segregação e ainda muitos casos de meninas e meninos brincando juntos. Também verificou o chamado “cruzamento de fronteiras” em muitos casos de crianças do sexo masculino brincando com brinquedos estereotipados “de meninas” e vice-versa, observou finalmente algumas situações nas quais ambos os sexos interagiam sem pressão externa e sem a presença de identidades de gênero contribuindo para nossa compreensão da socialização de gênero de duas importantes formas: primeiro, as crianças estão ativamente engajadas no processo de construção de papéis de gênero. Não são simples recipientes passivos das demandas dos adultos. Segundo, embora elas em idade escolar tendam a se auto-segregar por gênero, fronteiras entre meninos e meninas mostram-se às vezes fluidas, às vezes rígidas, dependendo das circunstâncias sociais.

Aos 14 ou 15 anos já esta bem formada a ideologia de gênero. São conjuntos de idéias inter-relacionadas acerca do que constitui papéis e comportamentos femininos e masculinos apropriados. Com exemplo a educação brasileira, nas carreiras universitárias o perfil de opção profissional entre os sexos é acentuado como homens cursando áreas ligadas a exatas e mulheres em humanas e saúde, sendo seus efeitos: uma grande restrição das oportunidades de carreira e de salários das mulheres em áreas ligadas às ciências e aos negócios; e a formação de guetos sexuais nas carreiras acadêmicas. Além disso nossa situação é ainda mais complicada, pois o acesso de ambos os sexos a educação formal apresenta oportunidades e barreiras relacionadas à origem econômica e a pertença racial.


Os Meios de Comunicação em Massa e a Imagem Corporal
Na escola se aprende o papel social que devemos desempenhar, a mídia hoje desempenha esta tarefa e dita o comportamento das pessoas. Como deve agir homens e mulheres. Na década de 70 as mulheres eram vistas como dona de casa, mãe de família, esposa, já os homens desempenhavam sempre o papel do mais forte, dominador e orientador em geral de tudo o que possa estar relacionado com as decisões importantes a tomar, era a autoridade a ser seguida. Todo esse enfoque é possível observar em revistas, cinema, jornais, novelas e a afins. Sendo o ser humano uma propaganda dos moldes apresentados por estes agentes. Na virada do séc XX a imagem da mulher passou a ser a da aparência física, abordadas nas revistas femininas; o papel da mulher era a dependência, a rainha do lar. Depois veio a virada feminina com a reivindicação de gênero; defesa do divórcio, o sufrágio feminino e movimento feminista, vindo assim a mulher fora da esfera doméstica sendo vista agora não só como uma coadjuvante mas como questionadora e tomadora de decisões ou seja uma consumidora.
A imagem foi se tornando mais esguia principalmente, não que os homens tenham fugido a regra, mas para as mulheres a cobrança é bem maior. Desta parte vieram as questões de doenças relacionadas com o desejo do corpo ideal, a Bulimia e a Anorexia; doenças que atingem as pessoas que perseguem o estereótipo do corpo ideal e adoecem por causa disso. Relacionado a isso vem uma indústria forte que alimenta os cofres com a venda de comidas light e diet que hoje inundam o mercado.
Interação Homem-Mulher
As crianças aprendem no ambiente familiar que meninos fazem esportes e são mais capazes de agüentar as durezas da vida e as meninas compreendem que devem sempre fazer o papel de apaziguadoras e sociáveis. Quando adultas mulheres tendem a pedir opiniões e a colaboração de todos; seja no ambiente de trabalho ou no familiar, praticando assim a colaboração de todos os envolvidos. Por causa disto é vista como fraca e incapaz de tomar decisões importantes. Já o homem é rude e direto, raramente é expansivo ou pede a opinião alheia para tomar decisões. Os empreendedores têm esta visão dos gêneros e na primeira oportunidade que surge, fatalmente sua decisão é favorável ao gênero masculino.

Homossexualidade
Abordar tema de tamanha relevância no âmbito sócio-cultural é uma tarefa árdua e complicada. Os especialistas falam que a Homossexualidade pode ser Biológica, adquirida na primeira infância ou de fator hormonal, na se sabe ao certo a origem do homossexualismo, mas devemos lembrar que data de milênios atrás, pois na Grécia Antiga já havia registros, os grandes filósofos e pensadores praticavam a homossexualidade abertamente sem nenhum impecílio.
Há uma divisão para elaboração dos estudos:
Transgêneros: são as pessoas que rompem as barreiras sociais rígidas existentes, os transexuais por exemplo, nascem com determinado corpo mas que na sua capacidade de compreensão e desejo íntimo de ser do sexo oposto;
Homossexuais: são aquelas pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo;
Bissexuais: são pessoas que sentem desejos por ambos os sexos;
No último século a homossexualidade se tornou menos rotulada, não que haja no ambiente atual uma enorme aceitação da livre escolha da opção sexual das pessoas, mas que houve um avanço social no debate temático, é notório. Para a sociologia a origem da homossexualidade não é o mais importante para ser tratado, mas a forma como ela constrói as relações sociais, os sociólogos realizaram estudos no intuito de perceber as estruturas presentes na homossexualidade, perceberam que entre homens e mulheres ela é tão integrada que não poderia ser considerada uma doença, fornecendo base científica para a aceitação da diversidade sexual.
Os homossexuais hoje são organizados e construíram uma rede de solidariedade e luta por seus direitos de cidadania, realizando manifestações e passeatas em prol da liberdade de escolha de cada um.
Onde você se encaixa?
Abre a discussão para saber como é inserido a opção sexual em sociedade. Falar dos rótulos usados para classificar alguém de : bicha, sapatão, gay, menina, menino; como é construída na sociedade a possibilidade da escolha. Violência que decorre do preconceito preexistente, casos de assassinatos e agressões físicas ou verbais, que colocam a opção sexual a frente de valores morais ou éticos. A exclusão social feita através da escolha de amigos, colegas de classe, de colegas de trabalho ou até mesmo a condição de argumentar a homossexualidade como doença, desvio sexual ou uma deficiência, mesmo em sociedades consideradas tolerantes vemos o preconceito bem definido; sendo apresentado por exemplo na forma de escolher um determinado candidato a algum cargo de trabalho ou promoção, ficando assim os homossexuais banidos das possibilidades de escolha ou crescimento profissional, uma das razões do crescimento da prostituição dos mesmos por serem tão discriminados e marginalizados e muitos não têm a coragem de lutar para obter o reconhecimento pela sua capacidade profissional e intelectual. Muitos se escondem em casamentos e se tornam infelizes ou até mesmo chegam a se matar por viver angustiados pelo sofrimento e a indiferença social.
A homofobia está presente seja ela explícita ou não, sua presença é sentida como uma arma que está sempre apontada na direção daqueles que ela deseja aplicar seus duros golpes, sem a menor dúvida a presença dela é imanente da sociedade, seja em maior ou menor grau.

Desigualdade de gêneros

Iremos discorrer nesta parte de nosso trabalho como as relações entre os gêneros (masculino e feminino) se relacionaram durante toda a trajetória da construção das sociedades ocidentais. Enxergando que muitas vezes essa relação se tornou um campo de força ou relação de poder do qual a dominação e a submissão deslizou para uma desigualdade entre gêneros. Veremos também quais as repercussões relacionadas a essa desigualdade, correlacionando aos comportamentos sociais presentes em nossa sociedade brasileira contemporânea, como por exemplo; o assedio, o estupro e a violência contra a mulher, tentando sinteticamente assimilar as implicações desta premissa para propor soluções viáveis.
A palavra desigualdade presente em nosso vocabulário perpassa em nosso imaginário uma relação de superioridade, de dominação, de uma divisão injusta entre as partes, entre outros signos possíveis. Na nossa sociedade brasileira contemporânea enxergamos como muita nitidez a formas distintas em que são tratados os homens e as mulheres em seus papéis e funções sociais, como por exemplo; no mercado de trabalho, na esfera pública, dentro dos centros acadêmicos universitários e inclusive até dentro do nosso corpo jurídico, retratando assim uma desigualdade no qual a mulher esta submissa ao homem.
Na verdade, diferentemente do desenvolvimento histórico dos direitos políticos, que em determinada época do mundo ocidental institui a igualdade política entre as classes através da implantação de uma democracia representativa, as relações entre os gêneros (masculino e feminino) no transcorrer da história foram se afastando deste princípio de igualdade e se constituindo como uma forma de dominação de um determinado gênero sobre outro. No nosso caso o que se verificou foi à dominação do homem sobre a mulher. O que nos arremata a pensar por que ainda não construímos uma democracia de gêneros.
Para entendemos a significação desse embate que colocamos a priori, é necessária descartamos as explicações essencialistas, pois estas já colocam ora como uma idéia inata, ora por fatores genéticos a “superioridade do homem sobre a mulher” desprezando as implicações possíveis oriundo da construção social e histórica destas relações, exagerado em suas abordagens por determinismos biológicos.
Parecermos que se realmente queremos compreender como esta relação de força entre homens e mulheres se constituiu demandando posteriormente para esta desigualdade contemporânea que enxergamos, é primordial traçarmos um esboço histórico das origens destas relações, pois só através desta premissa poderemos entender os fatores que contribuíram para esta atual situação de desigualdade.
No embasamento desta trajetória histórica iremos usar as explicações presentes no trabalho sociológico intitulado; Sociologia, sua bússola para o novo mundo, feito através de união entre sociólogos americanos e brasileiros. As relações entre os gêneros durante a história nem sempre estiveram nessa perspectiva da desigualdade que encontramos hoje.
No surgimento das sociedades das primeiras civilizações do mundo ocidental na velha Europa, a formas de organização social sobre o regimento da caça e da coleta não colocavam o homem e a mulher num status de desigualdade. Neste momento a divisão de tarefas distintas entre os gêneros masculino e feminino tinham a mesma relevância de importância para a reprodução daquela sociedade.
Na verdade pode se explanar que a importância da coleta naquele tempo chegava a ganhar mais relevância do que a caça, fazendo parte de até 80% dos suprimentos alimentícios daquelas civilizações. A figura feminina que se associou a esta atividade ganhou em algumas civilizações uma concepção de divindade, se relacionado muito bem com a idéia de fertilidade e prosperidade dos elementos naturais, como foi na Grécia clássica e no Antigo Egito e suas relações com as enchentes anuais do rio Nilo.
Esse panorama de igualdade começou a se “desarrumar” ainda na base de formação destas primeiras civilizações ocidentais, o fim do último período glacial na Europa ocidental acabou resultando na inundação das terras dos povos que viviam ao nordeste da velha Europa, que habitavam regiões onde a vegetação e as florestas eram restritas e a caça era o principal meio na consumação dos suprimentos alimentícios. Oriundo da implicação da região espacial onde habitavam, os homens destes povos tinham um status de maior importância que as mulheres, pois era sua atividade de caça que garantiam a sustentabilidade daquele povo.
O êxodo e conseguintemente a invasão destes povos a antiga região da velha Europa, modificou as concepções igualitárias existentes entre homens e mulheres, pois as maiorias dos deuses destes povos, diferentemente dos da velha Europa que adoravam a figura feminina representado com símbolos de fertilidade e prosperidade, estes povos tinham em suas concepções de divindades a idéias de deuses guerreiros associadas à supremacia das habilidades de lutas.
A acomodação e a fusão entre estes diversos povos no centro do ocidente europeu trouxeram para esse continente a concepção de propriedade, de escravismo, de colonização e de sua supremacia militar sobre os demais povos do continente enraizando o etnocentrismo nestas antigas civilizações. Assim na antiguidade, os deuses se tornaram masculinos e a mulher nesta sociedade assumirá o papel da reprodução sexual submissa ao homem.
O surgimento do judaísmo tradicional, do cristianismo romano e do islamismo nestas antigas civilizações ocidentais contribuiu para consolidação desta posição de inferioridade da mulher em relação ao homem nestas sociedades, as acepções destas religiões colocam o mundo numa ordem hierarquizada do qual a mulher esta para servir ou auxiliar o homem, sendo esta premissa um dogma, ou seja, incontestável.
Por assim de lembrança poderíamos explanar a acepção dos judeus e dos cristãos sobre a mulher, considerando que os cinco primeiros livros do antigo testamento do cristianismo fazem parte do torá (o livro sagrado do judeu). No livro de gêneses, a mulher é apresentada como um pedaço da costela de adão, feita para auxiliar e servir com obediência as ordens dos homens, assim sendo, não fica muito difícil de imaginar a implicação que isto tem para o gênero feminino e sua relação com masculino.
Outro fator primordial que aumentou o nível de desigualdade entre os gêneros foi à transformação e a passagem entre uma agricultura incipiente para uma agricultura de arado no final da idade antiga, pois até então as técnicas da agricultura eram atividades praticamente monopolizadas pelas mulheres, com a invenção do arado, se houve a necessidade de uma aplicação de mais força física nos trabalhos agrícolas e os homens passaram a dominar as técnicas e deslocaram as mulheres para seus lares tomando conta de seus filhos.
Com esta exclusão do sistema produtivo de sua própria sociedade, fato que vai se acelerar com a industrialização, que por causa da relação existente entre a necessidade da criação dos filhos e a exigência de carga horária de trabalho mais exigente no sistema fabril, as mulheres começam a ficar presas a esfera privada, enquanto os homens trabalhavam e agiam sobre a esfera pública.
Essa lógica acabou se naturalizando nas sociedades ocidentais do século XX, famosas frases que ainda hoje é costumeiro se escutar, por exemplo: “lugar de mulher é em casa”, “vai tomar contar dos teus filhos e deixe-me de asneiras”, mostra como essa idéia construída socialmente na divisão do trabalho vai se consolidando dentro do imaginário de nossa sociedade contemporânea, ratificando a desigualdade de gênero como uma coisa constante no nosso cotidiano.
Iremos agora abordar alguns aspectos que dentro de nossa atual sociedade repercute de forma visível a desigualdade de gênero, que são as práticas que contribuem fortemente para sua permanência.
O primeiro ponto que gostaríamos de levantarmos estar relacionado ao mercado de trabalho atual, vejamos: A mulher de hoje sofre forte discriminações de gênero no mercado de emprego contemporâneo. Na verdade as mulheres acabam tendo menor rendimento que os homens, mesmo praticando a mesma atividade e função. As responsabilidades domésticas tiram o tempo das mulheres para atividade produtiva, entretanto não estaria na hora destas responsabilidades serem equilibradas, por que não? Machismo? Os filhos têm que ser de responsabilidade do casal e não só da mulher, afinal de contas não se faz um filho sozinho.
As mulheres sofrem preconceitos correlação as suas capacidades intelectuais, muitos homens acham que as mulheres são menos capazes e de fez em quando pensamentos machistas soltam “absurdos” do tipo; “que as mulheres têm menos neurônios que os homens’, no entanto a inteligência não esta na quantidade de neurônios mais sim na capacidade que as células nervosas têm de fazer as sinapses nervosas e nisso não existem diferença. Essas idéias acabam tendo resultando mesmo no ridículo que são, e muitas mulheres acabam tendo cargos de baixa qualificação e sendo mal remuneradas por tais idéias preconceituosas.
Todo este estágio de subordinação não significa que as mulheres aceitam tal estado de ordem de forma passiva e natural, na próxima parte deste trabalho iremos abordar sobre o movimento feminista, mais aqui caber-nos dizer que muitas destas manifestações contras a essa submissão, acabam se desenrolando num ato de violência contra a mulher, visando entender esse comportamento iremos discorrer sobre o estupro e o assedio sexual.
O estupro dentro de nossa sociedade brasileira atual esta regida por leis penais atrasadas que acaba privilegiando o agressor, pois só consideram como estupro atos sexuais com penetrações virginais, não considerando o sexo anal e nem o oral. Os casos de estupros quase sempre são associados a patologias psicológicas por parte dos estrupadores que atestando insanidade explicam a quebra das ordens sociais, entretanto estes estrupadores em sã de si ou não, não poderiam se redimirem do fato e nem da decisão de ter planejado e praticado tal ação, mais muitas vezes estes sujeitos são inocentados repassando uma “atmosfera” de impunidade que ajuda a naturalizar esta prática.
A explicação para os comportamentos sociais destes estrupadores que por meio da força usam e abusam do corpo do outro sem seu consentimento, é muitas vezes explicadas através de traumas e histerias ocorridas na sua infância, assim o menino que cresce assistindo o pai bater na mãe, tendem a repetir tal ato quando cresce o que acaba colocando em cheque como a nossa sociedade esta cuidando da educação de seus filhos.
O assedio assim como o estupro também tem uma lei penal que deixa margem para a impunidade, pois o assedio só é crime considerado se for feito de uma pessoa de maior hierarquia sobre uma de mais baixa, não levando em consideração o contrário, e nem mesmo quando as pessoas ocupam o mesmo cargo dentro da hierarquia de uma empresa, por exemplo.
Parecermos que a própria lei é preconceituosa, como se quisesse deduzir que as mulheres iriam sempre ocupar os cargos mais baixos. Como é possível vê o assedio é um comportamento social que reflete esta desigualdade de gênero, e uns dos seus principais lugar de atuação esta vinculado ao trabalho. Piadas sexistas, insinuações, gracinhas, entre outras formas cotidianas de violências simbólicas são constantes nos dias de trabalhos femininos, principalmente em lugares onde se tem grande contingente de homens desproporcional ao de mulheres, esse ato acaba tornando natural e a falta de punição faz que se ratifique como algo constante. Por isso todas essas práticas sociais de agressão, violência e assedio correlacionadas as mulheres repercutem para perpassar a desigualdade dos gêneros, e a solução como tínhamos disto no inicio desta parte, é consolidar uma democracia de gêneros em nossa sociedade.
Algumas ações do ponto de vista político foram pensadas para amenizar a desigualdade rumo à democracia dos gêneros, como por exemplo; criação de políticas públicas que construam creches de qualidade e eficiência em larga escala, para que as mulheres e os homens possam dedicar igualmente na tarefa produtiva. Outra proposta esta vinculada em ações públicas que criem um sistema de avaliação comparativa entre as atividades trabalhistas de homens e mulheres, visando acabar com desigualdade de rendimentos.

O Movimento Feminista e de mulheres

O movimento Feminista surgiu como reação da forma de como as mulheres estavam sendo tratadas até então: seres inferiores sem direitos políticos ou sociais, com sua atribuição máxima ocorrendo com a sagrada maternidade. Por isso, vem como um movimento histórico, político e filosófico-epistemológico, que a partir do século XIX começa a aflorar em várias partes do mundo.
O estudo do feminismo pode ser dividido em três fases distintas. Costuma-se chamar de primeira onda do feminismo o movimento histórico de defesa dos direitos da mulher que pode ser identificado desde o final do século XVIII e que inclui dentre suas maiores conquistas a abertura do ensino superior às mulheres, o acesso a diversas profissões até então exclusivamente masculinas, como a Medicina, por exemplo, o direito das mulheres casadas à propriedade e o direito das mulheres divorciadas ou separadas à custódia dos filhos. A conquista do direito ao voto também deve ser creditada a esta primeira onda do movimento feminista. Já no Brasil, a primeira onda estende-se pelo período de 1850 à 1940, com a luta pela educação, ao emprego e ao voto. Com relação à educação, destaca-se o papel da Educadora Nísia Floresta, que lutou pelo direito das mulheres ao estudo.
Já a conquista do voto pelas brasileiras resultou de um processo de luta iniciado antes mesmo da proclamação da República. Embora a Constituição de 1891 vetasse o direito de voto aos analfabetos, mendigos, soldados e religiosos, sem excluir o voto feminino, as mulheres ainda tiveram que lutar por mais de 40 anos para conquistar esse direito.
Finalmente, o voto feminino foi assegurado em 24 de fevereiro de 1932, através do Código Eleitoral Provisório. Entretanto, este decreto era bastante restritivo, autorizando o direito de voto apenas às mulheres casadas que tivessem a autorização dos maridos e a solteiras ou viúvas, desde que tivessem renda própria. Em 1934, a Assembléia Nacional Constituinte reafirmou o direito assegurado no Código Eleitoral, eliminando as restrições existentes, mas tornando o voto obrigatório apenas àquelas mulheres que exercessem funções remuneradas em cargos públicos. A obrigatoriedade plena do voto para todas as mulheres só foi instituída com a Constituição de 1946(Conferência Nacional das Mulheres Brasileiras, 2002).

Simone de Beauvoir abre o período de transição entre o primeiro e segundo momento do movimento feminista. No final da década de 40, ela escreve o livro “O Segundo sexo”, que denuncia as raízes culturais da desigualdade social, como pode ser vista no trecho abaixo:
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino".
BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo, 1990.

A segunda onda do feminismo inicia-se a partir da década de 60 como o movimento de liberação feminina da dominação masculina em todos os campos da cultura. Saíram em Passeatas, organizaram-se e suas vozes ganharam mais eco. Lutavam pelos direitos iguais entre homens e mulheres; a eliminação da violência sexual e o direito ao controle reprodutivo. É a partir de então que o feminismo passa a ser sistematicamente teorizado no meio acadêmico, dando origem a diversos desenvolvimentos teóricos dentro do movimento, como o movimento das mulheres negras e o movimento lésbico, por exemplo.
No Brasil, a segunda onda surge em plena época de efervescência política: Na época da Ditadura Militar. Ele difere do internacional por causa do contexto que é inserido. As mulheres começam a lutar pela redemocratização do País.
A partir da década de noventa, os objetivos e estratégias do feminismo passam a ser rediscutidos dentro do movimento chamado pós-feminismo, ou terceira onda do feminismo, que passa a reavaliar criticamente as lutas das mulheres, procurando atualizar suas propostas na contemporaneidade. Entretanto, alguns críticos não aceitam a terceira onda como um novo estágio do movimento feminista.
A criação da Plataforma Política feminista em 2002 trouxe uma visão mais abrangente de como o Movimento feminista atual está engajado em todos os setores da estrutura brasileira. A questão sócio-econômica da população, ambiental e da diversidade de gênero, são uns dos assuntos de suas pautas. Outro assunto de suma importância, que há muito vem sendo discutido, é a questão do aborto. Tema bastante controverso, o aborto e encarado por alguns como um dos maiores crimes contra à vida. A CNBB, por exemplo, proclama a “inviolabilidade da vida, desde o primeiro instante da concepção no seio materno. O direito à vida é o direito fundamental do nascituro.” Já as mulheres do movimento feminista olham com a visão de que a mulher é dona de seu próprio corpo e que deveria ser delas o direito ao controle de sua capacidade reprodutiva.

O destino natural das mulheres, ser mãe, esposa e dona de casa, marcado pela maternidade, casamento e dedicação ao lar, foi profundamente revolucionado no século XX. É nesse contexto que as feministas se viram frente ao desafio de demonstrar que não são características anatômicas e fisiológicas que definem as diferenças entre as desigualdades de gênero, mas a militância pelos direitos igualitários entre os seres humanos.














[1] Sociologia: sua bússola para o novo mundo/ Robert Brym...[ et al.]. São Paulo. Thomson Learning, 2006.

sábado, 15 de novembro de 2008

O Movimento Republicano em Pernambuco 1850-1889 (MARC HOFFNAGEL) Síntese

O surgimento do republicanismo em Pernambuco esta coligado a um certo caráter excludente contínuo presente durante todo o império, principalmente do ponto de vista político-econômico, do qual, a participação dos setores políticos influentes da região sobre as principais decisões das políticas nacionais e econômicas eram restritas, além disso essa conjuntura acabou sendo influenciada diretamente pelo aumento involuntário de imposto crescente feito por este regime a província pernambucana.
Ressurgindo assim em solos pernambucanos vários movimentos de tradição separatista e de cunho ideológico republicano como; a revolução de 1817, a confederação do equador de 1821 e a revolução praieira de 1848, que fez emergir durante toda vivência do regime monárquico uma tradição republicana em Pernambuco típica de sua condição histórica antecessor.
O trabalho do Professor Marc Hoffnagel traz de forma minuciosa e descritiva o republicanismo pernambucano. Repleto de detalhes enriquecedores o seu trabalho traz os fios condutores deste republicanismo pernambucano desde a revolução praieira até a proclamação da república em 1889.
O republicanismo em Pernambuco advindo das reivindicações da revolução praieira tem de princípio como uns dos seus principais expoentes a figura de Antonio Borges, este, ligando as suas ações políticas mais ativas aos interesses das camadas dos setores urbanos criticava o regime vigente atual e apontava como causas monarquistas os seguintes pontos de entraves; o aumento crescente de preço dos víveres da terra, o aumento do custo de vida, o monopólio dos comerciantes varejistas portugueses, as fraudes eleitorais e os privilégios de determinados setores da sociedade pernambucana na política provinciana.
Ao lado de Borges também podemos destacar outras figuras importantes como; Albuquerque Melo, Romualdo Alves de Oliveira e Luiz Cyriaco, que assim como Borges tinham como criticas os anseios que foram derrotados na praieira. Assim durante toda a década de 60 e posteriormente na de 70 do século XIX em Pernambuco.
O movimento republicano pernambucano se entrelaçou com as causas dos setores das camadas médias urbanas e suas propostas serão distintas daquelas vistas pelo republicanismo paulista, que diferentemente do que acontecia em Recife, o movimento paulista desde seu princípio se aliou diretamente com a aristocracia cafeeira local formando uma base político-econômica influente na sociedade paulistana, o que não irá acontecer aqui em Pernambuco entre os republicanos e senhores de engenhos.
As propostas dos republicanos durante toda a década de 1870 em Pernambuco voltou-se principalmente as causas dos setores médios urbanos e a crítica ferrenha a política imperial, porém mesmo com toda propagada existente através dos diversos jornais republicanos deste período, este movimento não conseguiu ganha adesão do interior da província e nem muito menos os interesses da aristocracia açucareira pernambucana que vinha algumas idéias reformistas republicanas com certo receio, como; abolicionismo e reformas na distribuição da terra para os ex-escravos após a libertação.
O fato é que o movido por um liberalismo “romântico” típico do século XIX, o movimento republicano pernambucano durante toda essa década 1870, irá combater com todas as suas forças as diversas formas de monopólios existentes naquela sociedade, desde o monopólio política que só elegia os bacharéis (principalmente em direito) e excluam os artesões e profissionais liberais, até o monopólio econômico dos comerciantes portugueses que dominavam o mercado alimentício, propostas como; sufrágio universal, democracia social, educação para os artesões industriais, criações de corporações de artesões e comerciantes nacionais e aversão ao estrangeiro aliado a um nativismo local, predominou como característica principal deste movimento durante toda esta década de 1870, que como vimos não conseguiam aliar suas propostas com os interesses dos setores políticos mais influentes, fazendo que a expressividade do republicanismo tornasse muita pequena do ponto de vista político.
Durante a década de 1880 tivemos a mudança no rumo do movimento republicano pernambucano, a entrada dos bacharéis em direito oriundos da faculdade de direito do Recife trouxe novas concepções filosóficas ao movimento, as idéias de augusto Comte, Herbert Spencer e Ernst Haeckel, fizeram emergir o projeto positivista e evolucionista ao movimento.
Assim as propostas do republicanismo pernambucano ganham a preocupação com o desenvolvimento econômico e técnico das atividades produtivas da província promovida pelo desenvolvimento da ciência moderna, entretanto mais uma vez, os anseios dos republicanos não coligaram com as das aristocracias rurais pernambucanas, apesar de serem contra a violação dos direitos individuais que poderia ser visto com bons olhos para aristocracia que temia a caráter reformista do movimento na década anterior, porém o movimento continuou defendendo os interesses dos setores urbanos em correlação aos monopólios políticos e comerciais, colocando uma democracia política e o fim dos privilégios das aristocracias, como principais meios, dão ênfase para o fim da escravidão como um símbolo de atraso e impedimento do desenvolvimento econômico.
Contudo, mesmo com toda essa mudança filosófica positivista Comtiano no movimento, o republicanismo não ganha força por causa de sua desvinculação com setores influentes da sociedade, não podemos esquecer que os membros que pertenciam ao movimento republicano pernambucano eram compostos por: artesões e profissionais liberais, e muitos estavam diretamente ligados aos senhores de engenho numa relação de dependência econômica e temiam a represália, enfileirando as fileiras dos partidos conservadores e liberais monarquistas.
Com a abolição da escravidão da forma imperativa que aconteceu, sem uma indenização digna aos senhores de engenho fez que alguns destes aderissem ao republicanismo, entretanto quanto esta tendência começava a se consolidar de 1888 até novembro de 1889, se instaurou no sul a república federativa do Brasil e as aristocracias pernambucanas que iniciam um lento processo de adesão ao republicanismo pernambucano acabou declarando fidelidade ao republicanismo paulista e do centro-sul, pois esse era agora a principal força que sustentava o poder em nível nacional.