terça-feira, 30 de dezembro de 2008

I seminário nacional de Teoria da história e Historiografia e O movimento de Maio de 68 na França

O I seminário nacional de teoria da história e historiografia acontecido entre as datas de 13 a 14 de novembro de 2008 na UFPE foi resultado de uma iniciativa idealizada e organizada por uma parceria entre a Fundação Joaquim Nabuco e o Programa de Pós-graduação de história da universidade Federal de Pernambuco, trazendo este ano como eixo de sua pauta temática: As repercussões e ressonâncias que o movimento de maio de 68 na França acarretou para o Brasil não só do ponto de vista político, mas também na perspectiva da assimilação de idéias e nas construções de novas concepções históricas em nossa historiografia brasileira.
O tema debatido em questão ganhou destaque recentemente após 40 anos de seu acontecimento. Inúmeras publicações na França vêm tentando repercutir a importância deste movimento na sociedade contemporânea francesa. As gerações de jovens das décadas de 60 e 70 ficaram marcadas por este movimento ideológico que se expandiu além de uma crítica política aos valores de uma sociedade capitalista conservadora, na verdade este movimento que foi consubstanciada com princípios; comunista, socialista e anarquista tratou de reavivar o espírito crítico e contraditório perdido no ocidente neste século XX.
O movimento rompeu diretamente com as fronteiras de uma concepção partidária, levantados por estudantes universitários franceses que marchavam em prol de direitos sociais “esquecidos” desde o fim da segunda guerra mundial, no qual não vinham sendo realmente praticados pelos novos estados emergente do pós-guerra. Podemos dizer que este movimento foi regido pela celebração da igualdade dos direitos étnicos, buscando eliminar a diferença de raça, cor e gênero e também pela aceitação da liberdade sexual, do prazer e de uma educação menos rígida, tudo isto embalado ao som de ritmos musicais excitantes como o pop rock americano e com a célebre contribuição brasileira através do tropicalismo, que tinha nomes como: Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, entre outros.
O interessante deste movimento iniciado é que ele teve a capacidade de unir os diversos estratos sociais em prol de causas que não necessariamente lhe estavam relacionados em um interesse particular, a união de estudantes com os demais setores da sociedade francesa contra a forma repreensiva do qual o regime do primeiro ministro Gaulle que com os seus batalhões e suas estrátegias de guerra de quateirões de batahas chamaram a atenção de todo ocidente.
A força deste movimento esteva talvez na necessidade que homens dessa época sentiam em resurgir novamente o princípio constestador sobre sua realidade, que depois de duas guerras mundiais via-se marginalizado e estático de sua própria história. Este objetivo é certamente o principal legado de maio de 68, alimentando a alma do homem novamente de novas esperanças e ideías transformadoras sobre sua contemporaneidade.
O movimento começou como uma série de greves estudantes que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. À tentativa do governo de Gaulle de esmagar essas greves com mais ações policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Os protestos chegaram ao ponto de levar de Gaulle a criar um quartel general de operações militares para lidar com a insurreição, dissolver a Assembléia Nacional e marcar eleições parlamentares para 23 de Junho de 1968.
O governo estava próximo ao colapso naquele momento (de Gaulle chegou a se refugiar temporariamente numa base da força aérea na Alemanha), mas a situação revolucionária evaporou quase tão rapidamente quanto havia surgido. Os trabalhadores voltaram ao trabalho, seguindo a direção da Confédération Générale du Travail, a federação sindical de esquerda, e do Partido Comunista Francês (PCF). Quando as eleições foram finalmente realizadas em Junho, o partido Gaullista emergiu ainda mais poderoso do que antes.
A maioria dos insurretos eram adeptos de idéias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viram os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", dentre os quais suas idéias sobre educação, sexualidade e prazer. Uma pequena minoria dos insurretos, como o Occident, professava idéias de direita.
As mesas redondas procuraram comtemplaram as inflências oriundas deste movimento do ponto de vista do imagínário e da construção históriografica. No Brasil a escola métodica positivista advindo desde do secúlo XIX vinha dominando o cénario históriografico brasileiro, e as contestações subjetivas e a nova forma de concepção do tempo projetado pela transformação e a consceintização da ação individual, política, de curta e longa duração repercurtiram para uma nova tomada de direcionamento da historigrafia nacional.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Brasil: A crise dos anos 1920 e a revolução de 1930

O grande processo de urbanização iniciado na revolução industrial e consubstanciado com revolução francesa marcou um novo tempo na história do mundo ocidental, a insurgência pela necessidade de uma produção crescente advindo de um modo capitalista, emergiu um novo patamar na qualidade de vida dos seres humanos e conseqüentemente a prosperidade (embora desigual) proporcionou o avanço contingencial das massas em torno da atividade produtiva que foi deslocada para os centros urbanos.
O século xx presenciou o aparecimento do povo com um papel mais ativo na história, a história das massas é proporcionada pela sua inclusão nos endrames estruturais de sua sociedade. As massas deste novo século desempenham função fundamental na reprodução do sistema capitalista e é essa importância que faz estas populações reivindiquem direitos sociais e políticos antes inatingíveis para si, como por exemplo: o sufrágio universal, direitos trabalhistas e direitos sociais.
Acompanhando mais lentamente o ritmo deste cenário europeu e norte americano, o Brasil vivenciava durante este inicio de século sua tentativa de formar um sistema político democrático coeso, no entanto a república brasileira instaurada em 1889 sob os auspícios do federalismo norte americano esteve longe de conseguir tal objetivo, configurando numa democracia oligárquica de lideranças locais, deu suporte para o surgimento de fenômenos como o coronelismo e o mandonismo local através da constituição 1891.
A entrada da segunda década do século XX foi ponderada de fortes manifestações em todo globo. O fim da primeira guerra mundial repercute diretamente no imaginário dos intelectuais brasileiros, e o movimento modernista brasileiro (paulista) iniciado na semana de arte moderna em 1922, começava a questionar os ideais de “civilização” vindo das vanguardas européias e procurava a nacionalidade brasileira em suas raízes históricas. Outro fator importante deste período foi surgimento do partido comunista brasileiro em 1920 dando uma nova opção de “ideologia” para a lógica de organização da sociedade republicana brasileira baseada na agra-exportação, que apesar de “entoar” a concepção de “revolução” para instaurar um novo regime descartando o principio democrático, acabou tendo grande aceitação nas massas urbanas que viam excluídas os seus interesses sociais urbanos em prol de políticas públicas praticadas para o fortalecimento do setor cafeeiro.
De fato o primeiro regime republicano brasileiro nunca conseguiu “exaurir” o caráter oligárquico implantado desde a sua formação, os direitos políticos só eram dados aos alfabetizados, porém a população brasileira em grande maioria era composta de ex-escravos e estes não tinham a menor instrução, o estado se ausentou na constituição liberal de 1891 liberando o governo do dever de provir a educação, deixando na mão dos coronéis o ato de instruir em trocas de votos e assim emergiu o “curral eleitoral” que tanto deu poder a esses grandes senhores durante todo este período.
Além dessa perspectiva de “democracia oligárquica” este regime tinham que lidar com problemas internos de suas ligações e relações entre diferentes oligarquias desenvolvida em todo território nacional, e a incongruência entre estes fazia ficar inoperantes o Congresso Nacional podendo prejudicar as políticas voltados para o fortalecimento da economia cafeeira. As alianças fortes surgiram como fundamentais para a composição do sistema, entretanto a parceria entre Minas e são Paulo começavam nesta segunda década do século xx e se desestruturarem.
Nas eleições de 1922, as lideranças oligárquicas começavam a se separarem, de um lado a velha coligação minas e São Paulo, do outro a reação republicana (como ficou conhecida) aliando-se Rio grande do sul, Pernambuco e Paraíba, Arthur Bernardes candidato da posição contra Nilo Peçanha representante da reação republicana. Os motivos deste rompimento acabaram ao longo da história deslizando para várias concepções que implicam no entendimento da revolução de 1930, existem tendências historiográficas que apontam o crescimento de interesses industriais dentro das oligarquias com menos representações como as do Rio grande do sul, Pernambuco e Paraíba, como também alguns historiadores que apontam esta fase como uma crise intra-oligárquica desmerecendo o nome dado de “revolução” em 1930, como também aqueles que apontam o surgimento de uma burguesia industrial brasileira que se alia com as oligarquias menos representativas e com o movimento tenentista.
O resultado da eleição deu vitória a Arthur Bernardes em uma eleição apertada e conturbada dando margem a possível manipulação estatal na máquina eleitoral, o que acaba revoltando a oposição que se alia com os setores médios das classes militares, que eram adeptos das idéias de valorização do trabalhador e do mercado interno brasileiro defendida por essas oligarquias exigindo neste momento a implantação de uma reforma do processo eleitoral que eram administrado pela câmara (onde a maioria pertenciam ao governo)
Estes setores médios militares geralmente membros de média patente dentro do serviço militar começava a duvidar da governabilidade do sistema político vigente e temiam pelo ordenamento da sociedade, figuras como Carlos Prestes, liderou a conhecida coluna preste do movimento tenentista que visavam tomar da mão das oligarquias o poder político, porém o golpe fracassou, sendo rechaçados inclusive pelos seus antigos aliados da reação republicana na eleição da chapa de Nilo Peçanha. Mais tarde prestes viajou para o exterior onde teve contato direto com os ideais socialistas do leste europeu.
Contudo o enfraquecimento do sistema político da primeira república era visível pelas intrigas entre as oligarquias tendo nas eleições de 1930 mais um reflexo. Esta eleição foi marcada pela separação da união oligárquica de Minas e São Paulo, a indicação de Washington Luis (paulista) de um candidato conterrâneo em vez de um mineiro debandou boa parte das lideranças do PRM (Partido republicano mineiro) para o lado da reação republicana que tinha como seu candidato o antigo general gaúcho Getúlio Vargas e tendo seu vice João Pessoa da Paraíba.
Assim como nas eleições de 1922 o candidato do governo Julio prestes ganhou de forma apertada de Getulio Vargas repercutindo mais uma vez a contestação da aliança liberal (como ficou conhecida a junção entre as oligarquias mineiras, gaúchas, pernambucanas e paraibanas e o movimento tenentista) de possíveis fraudes eleitorais, porém a “casual” morte de João pessoa em recife por assassinato acaba ganhando denotação de um crime político por parte do governo contra a oposição, dando legitimidade a tomada de poder por parte da aliança liberal, empossando Getúlio Vargas como presidente do Brasil insurgindo assim uma nova era da política brasileira, pois Vargas apesar de ser eleito pela aliança liberal seu governo será marcado por práticas intervencionistas e centralistas.

Refêrência
Ferreira, Marieta, Pinto, Surama, A crise dos anos 1920 e a revolução de 1930.

Oliveira, Lúcia, Sinais da modernidade na era Vargas: Vida literária, cinema e rádio.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O modernismo e a Questão nacional

entrada do século XX no contexto internacional é marcada pelo desenvolvimento tecnológico científico e pelas transformações dos modos de vidas e das relações produtivas em quase todo globo. Inspirado pelo crescimento da ciência positivista essa nova “atmosfera” de progresso repercute sobre os diversos campos da atividade humana, tendo impacto na literatura, na política e na cultura.
O aceleramento da urbanização e o processo industrial fabril foram responsáveis de trazerem as primeiras concepções conceituais de modernidade, sendo este novo século, símbolo de uma nova era para humanidade. O entendimento do moderno correlacionou-se ao de progresso a de uma possível ruptura com o passado estático, quase sempre relacionado com atraso e desprezo, e o novo tempo “moderno” seria destinada pela dinâmica das relações produtivas que consubstanciada pela eletricidade movia uma nova época para os homens.
Entretanto apreciação conceitual de modernidade se esbarrou ao interpenetrar em outros campos da sociedade humana, como por exemplo, na cultura, pois romper com o passado cultural e histórico de uma sociedade não era tão fácil como trocar a forma de produção de uma economia agrícola para uma industrial fabril.
Dentro deste cenário histórico, o Brasil na sua primeira metade do século XX buscou absorver essa “atmosfera” de modernidade trazida principalmente pelos pensamentos das vanguardas européias. A idéia de uma nação como uma unidade nacional, sob os pontos de vista cultural, político e econômico vindo do velho continente europeu tinha grande aceitação no imaginário dos intelectuais brasileiros que enxergavam nestes pontos de vistas o alicerce que levaria o Brasil a se efetivar como uma nação “moderna”.
A concepção de modernismo brasileiro dentro de nossa historiografia atual acabou-se se associando quase como uma uníssona ao movimento da semana de arte moderna de 1922 ocorrido em são Paulo, tendo nomes como; Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Oswaldo de Andrade, Portinari, entre outros. Na verdade o texto da pesquisadora Monica Velloso vem de encontro a esta tendência “tradicional” de nossa historiografia, apontando a insurgência de movimentos modernistas brasileiros (plural) ocorridos em outras regiões nacionais, como a escola “modernista” de 1870 em Recife, e movimento boêmio dos intelectuais cariocas nas duas primeiras décadas deste século.
Portanto podemos dizer que as idéias de modernidade no Brasil foram construídas durante o final do século dezenove e início do vinte, sendo assim a acepção de modernismo brasileiro tem que ser entendida como um conjunto heterogêneo com as devidas distinções entre os movimentos e as épocas que citamos mais acima.
A escola modernista de Recife de 1870 sob a liderança de Tobias Barreto e tendo nomes como, Silvio Romero, Graça aranha, Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha. Lançaram as primeiras concepções de modernismo para o Brasil, advindos da faculdade de direito do Recife, esses intelectuais pensavam num projeto que levaria a sociedade brasileira daquele fim de século enraizada de “aparentes problemas históricos” como a grande diversidade do povo brasileiro, de gênese: índios, brancos, negros e mestiços atrapalhavam a acepção de uma ”identidade” nacional necessária para o progresso de uma sociedade moderna “civilizada”, assim para o seu progresso o Brasil precisava romper com o seu antepassado histórico fundado numa sociedade miscigenada e de produção agrícola, para finalmente ter sua inclusão no mundo “moderno”.
A ótica destes primeiros intelectuais do modernismo brasileiro estava carregada dos conceitos das “cartilhas” evolucionistas do darwinismo social, onde insistiam possíveis diferenças de raças e civilizações, o Brasil pela sua característica histórica, sempre era visto como atrasado e inferior as nações européias e o seu progresso enquanto civilização estaria em eliminar ou romper com tudo aquilo que lhe colocava como “provável” entrave para o progresso e inclusão na era moderna. A miscigenação era visto como um fenômeno que tornou a sociedade brasileira “sem identidade” tendo elementos de varias modos de vidas distintas culturalmente, algo que era visto como perigoso, pois poderia causar um desequilíbrio na ordem social dos grupos étnicos a qualquer momento, impedindo o progresso ou estancando em seu desenvolvimento.
A solução pressuposta pelo movimento, a deplorável teoria do branqueamento pensada por esses intelectuais se concatenava com a idéia de “supremacia racial” onde a “raça” branca em cruzamentos com as demais raças se sobressaíra e perpetuaria o fim das demais “raças”, muitos quadros de pintores da época retratam a imagem de filhos de negros mestiços como brancos, incentivando o casamento inter-racial como projeto de modernidade, outro fator importante projetada por esse modernismo esta na diluição da cultura mestiça por uma cultura “erudita” advindos das vanguardas européias, assim a imigração de italianos, espanhóis e alemães para a plantação de café no sul do Brasil seria o inicio de um processo de europeização da cultura brasileira eliminando seus vínculos históricos coloniais.
Em linhas gerais o modernismo da escola 1870 de Recife lançou os primórdios da idéia de modernismo brasileiro, porém a concepção de modernidade ganhará características próprias a cada região em que desenvolveu um pensamento “moderno” criando assim uma pluralidade signos e símbolos. O modernismo carioca, por exemplo, se caracterizou bem distinto do qual vimos até aqui, seus intelectuais modernos representados pela classe “boêmia” da cidade se recusaram a aceitar as concepções trazidas pelas velhas guardas européias.
A decepção com a primeira república foi mais rapidamente assimilada pelos cidadãos da capital brasileira na época, sua população composta por estratos urbanos sentia que os direitos políticos conquistados pelo advento da república haviam ficado na mão de uma aristocracia rural cafeeira que defendiam os interesses de uma economia agrícola, estando longe de atender as necessidades demandas pela camada urbana carioca.
Essa amargura não se efetivou de forma melancólica, ao contrário, a linguagem satírica e humorística foi à principal forma de contestação deste movimento modernista brasileiro que se sentiam excluídos pelo sistema político vigente, se aliando com o popular em defesa da sua diversidade cultural. As charges e as caricaturas foram o principal meio de expressão deste movimento que ressaltava a importância das “trocas culturais” como um aliado para a modernidade, simbolizada através da luta por direitos trabalhistas e sociais e de uma possível “democracia racial”, vale-se ressaltar a influência da obra-prima de Gilberto Freire, casa grande & senzala, que modificou a concepção negativa da miscigenação não sendo mais encarado como algo perigoso ao ordenamento social.
O modernismo carioca que tinha nomes como, Lima Barreto, Bastos Tigres, Emilio de Menezes, entre outros, acabou elaborando um projeto onde se focava a necessidade de se conhecer o Brasil mais adentro, ou seja, as raízes culturais brasileiras, extraindo uma troca entre culturas regionais. Havia certa inversão a cultura estrangeira vista como aristocrata ligado aos poderosos que teriam desiludido a república dos intelectuias boêmios carioca, assim a modernismo estaria ligado a reconhecimento do popular e luta por direitos políticos e sociais da sociedade urbana excluída de seus interesses e não ligado a uma acepção de progresso movido pela cientificidade tecnológica da produção.
Contudo cabemos aqui dizer, que o sentido da pesquisadora Mônica Velloso ao abordar distintas concepções de modernismo existentes no Brasil, não foi de desmerecer ou desvalorizar o movimento da semana de arte moderna paulista ocorrido em 1922, mas sim de demonstrar que existiram outras concepções sobre modernidade, portanto é necessário ao se estudar este assunto elaborar uma trajetória histórica que passa da escola de 1870 de Recife e do modernismo carioca satírico até chegar aos famosos movimentos antropofágicos e do pau-brasil e o verde-amarelo da escola paulista.
Referência
Velloso, Monica pimenta, o modernismo e a questão nacional, pesquisadora da fundação Casa de Rui Barbosa

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sexualidade & Gênero, abordagem das relações sociais e históricas do masculino e feminino.

Introdução
As discussões teóricas em volta das relações de gêneros e de toda sua trajetória histórica vem recentemente repercutindo dentro do mais diversos âmbitos sociais, evidenciando as implicações e as influências que estas relações entre sexos e gêneros exercem sobre os comportamentos sociais mais conflitantes da nossa sociedade brasileira contemporânea.
É inegável em nossa base empírica cotidiana que estamos assistindo através dos meios de comunicação em massa a ascensão da violência contra mulher, da discriminação do gênero feminino no mercado de trabalho, os preconceitos contra os homossexuais, entre outros entraves que esta despertando a sociedade brasileira para a importância de compreender de como estamos nos relacionando, sexualmente e socialmente em nosso dia-dia.
O caso de comoção nacional de Elóa, uma menina assassinada brutalmente pelo seu ex-namorado que não aceitava o fim do seu relacionamento afetivo, retrata veemente a necessidade de se pensar nesta temática com profundidade para entender como as relações entre os sexos deslizaram para uma banalização do corpo e para uma violência exacerbada.
Nesta perspectiva sociológica iremos concatenar nossas ideais correlacionando com a definição da sexualidade e as ressonâncias das relações sociais entre os gêneros, abrindo aqui o debate para a construção da identidade sexual, dos papeis sociais e daquilo que poderíamos pensar para diminuir a desigualdade de gênero existente que acarretam em atos de violências como o que citamos.
Nossas escritas estão calcadas nos trabalhos sociológicos feitos entre sociólogos americanos e brasileiros lançado no livro: sociologia, sua bússola para o novo mundo, assim todos os exemplos e boa parte de nossas citações estarão ligadas com os pensamentos destes sociólogos.



Sexo versus gênero

Em 1965, na cidade de Winnipeg, nos Estados Unidos, Janet e John Reimer, um jovem casal de fazendeiros mal saído da adolescência deu à luz a Brian e Bruce, um par de gêmeos. Aos oito meses de idade, por indicação médica, as crianças foram levadas a um hospital onde sofreriam uma circuncisão tida como de rotina. Num episódio que nunca foi totalmente esclarecido, foi usada uma agulha de eletrocauterização em vez de um bisturi para retirar o prepúcio de Brian, procedimento que destruiu completamente seu pênis.

Pouco depois, os pais de Brian e Bruce viram, por acaso, na televisão uma entrevista com o psicólogo Dr. John Money, da Jonhs Hopkins University - Baltimore, na qual ele asseverava que os bebês nasciam "neutros" e teriam sua identidade definida como masculina ou feminina (identidade de gênero) exclusivamente em função da maneira pela qual seriam criados. Tal informação lhes pareceu muito apropriada para a resolução do problema de Brian, o filho mutilado. Logo procuraram aquele especialista, que imediatamente se dispôs a atendê-los, quando indicou uma mudança cirúrgica de sexo, que, realizada,transformou Brian numa menina,Brenda. Money orientou os pais de que deveriam educar "Brenda" como menina, agindo como se a criança tivesse nascido com o sexo feminino.
Os pais de Brian-Brenda não sabiam, mas Money - um psicólogo nascido na Nova Zelândia no seio de uma família regida por rígidos preceitos protestantes - era conhecido como uma espécie de guru da sexualidade e preconizava comportamentos sexuais ousados, embora que compatíveis com o espírito da época nos Estados Unidos, quando vigorava o protesto contra o Viet-Nam, o movimento hippie questionava tradições culturais arraigadas e o movimento feminista explodia com grande radicalismo. Money defendia os casamentos "abertos", nos quais os cônjuges poderiam ter amantes com consentimento mútuo; estimulava o sexo grupal e bissexual, além de, em momentos mais extremados.
O interesse de Money no caso de Brian não poderia ser maior. Como defendia a idéia de que as diferenças de comportamento entre os sexos eram decorrentes de fatores sócio-culturais e não biológicos (nature versus nurture) - tese aclamada pelas feministas de então -, a mutilação de Brian oferecia-lhe uma excelente oportunidade de colocar à prova sua teoria. Havia - em sua opinião - a indicação para a mudança cirúrgica de sexo, os pais tratariam a criança conforme sua orientação e o experimento teria uma contraprova natural, pois havia um irmão gêmeo idêntico, univitelino, que serviria de controle.
Money tinha anteriormente colaborado nos procedimentos pioneiros de "realinhamento sexual" (sex reassignment) em crianças com hermafroditismo. Brian foi a primeira criança nascida normalmente (com definição sexual masculina)a ser submetida a esse processo. Assim, segundo vários relatos que Money publicou no correr dos anos 70, a experiência teria sido um grande sucesso. Os gêmeos estavam felizes em seus papeis estabelecidos: Bruce era um menino forte e levado; "Brenda", sua "irmã", era uma doce menininha. Em função dessa experiência, Money ficou mais famoso. A revista TIME dedicou-lhe uma longa matéria e o incluiu num capítulo sobre gêmeos em seu famoso livro,boy & girl. Como inexplicavelmente deixou de publicar as evoluções do caso, o fato chamou a atenção de um pesquisador rival, Dr. Milton Diamond, da Universidade do Havaí, que procurou informações e reconstruiu a verdade sobre o mesmo, a verdade descrita por Diamond era muito diferente da versão sustentada por Money. Desde os dois anos, "Brenda" rasgava suas roupas de menina e se recusava a brincar com bonecas, disputando com o irmão Bruce seus brinquedos. Na escola, era permanentemente hostilizada pelo comportamento masculinizado e pela insistência em urinar de pé. Queixava-se insistentemente aos pais por não se sentir como uma menina. Mantendo as orientações de Money, os pais diziam-lhe que era uma "fase" que logo superaria.. Quando "Brenda" tinha 14 anos, não agüentando mais a situação, os pais consultaram um psiquiatra de sua cidade, que sugeriu dizer toda a verdade para "Brenda". Tal informação teve um efeito profundo e transformador. Posteriormente, "Brenda" disse: "De repente, tudo fazia sentido. Ficava claro por que me sentia daquela forma. Eu não estava louco". “Brenda” imediatamente se engajou numa busca do sexo perdido. Fez inúmeras cirurgias para fechar sua vagina artificial, recompor a genitália masculina com a implantação de próteses de pênis e testículos, retirar os seios crescidos a base de estrógenos, além de iniciar tratamentos hormonais para masculinizar sua musculatura. Nesse ínterim, a mãe, que se sentia culpada e desorientada com a situação da "filha", tinha entrado em depressão e, a certa altura, tentara suicídio. O pai desenvolveu um alcoolismo grave e o irmão gêmeo Bruce, começara a usar drogas e a praticar atos delinqüências ao atingir a adolescência. "Brenda", agora "David", apesar de todas as cirurgias e da nova identidade masculina, mergulhara também numa séria depressão e tentou suicídio pela primeira vez aos vinte anos de idade.
Quando tinha 30 anos, David foi encontrado por Diamond, que, como dito acima, desconfiara do motivo que levara Money a interromper, sem maiores explicações, o relato de um caso que reputava de tanto sucesso. David soube que, até então, seu caso era mundialmente conhecido, apresentado na literatura médica como um grande sucesso e usado para legitimar procedimentos de alteração cirúrgica de sexo em crianças hermafroditas ou que sofreram algum tipo de mutilação. Tal como Diamond e Sigmundsen, David ficou indignado com tal impostura, e resolveu colaborar com aqueles dois profissionais, dando origem ao trabalho que recolocou a verdade em circulação, engajando-se numa campanha para evitar que outros passassem pelos mesmos sofrimentos que ele tivera de suportar. O trabalho de Diamond foi largamente divulgado e chegou à grande mídia, jornais e televisões norte-americanos. Foi assim que John Colapinto, redator da revista Rolling Stone, tomou conhecimento da vida de David. Tendo em vista entrevistá-lo, Colapinto procurou David e desse encontro surgiu a idéia de escrever sua biografia, que tomou o nome de As Nature made him - The Boy who was raised as a girl. Os lucros da publicação foram divididos meio-a-meio entre Colapinto e David, assim como sua venda para o cinema, já que o livro despertou o interesse do diretor Peter Jackson de Lord of the rings ("O Senhor dos Anéis"). David se casara com uma bondosa mulher que o suportou por 14 anos. Cansada de seu caráter soturno, melancólico, ela propôs a separação. Poucos dias depois, David se matou como um tiro. Ele estava com trina e oito anos de idade. Outros elementos poderiam ter contribuído para seu gesto. Seu irmão Bruce, com quem estava brigado, se suicidara dois anos antes, com uma overdose de medicação para esquizofrenia, um diagnóstico que lhe haviam dado. Além do mais, David perdera todas suas economias advindas dos direitos autorais de sua biografia e futuro filme nela baseado num investimento indicado por um amigo. É verdade que o suicídio de David Reimer poderia ser atribuído a cargas genéticas, já que sabemos da depressão de sua mãe e do grave alcoolismo de seu pai, sem mencionar o suicídio de seu irmão gêmeo. Mas é difícil ignorar o peso das circunstâncias trágicas que se abateram sobre essa família.
A experiência de vivida por David deixa evidente que existem mais coisas envolvidas no tornar-se homem ou mulher, do que diferenças sexuais biológicas. Os sociólogos diferenciam o sexo biológico, do gênero sociológico. O gênero é composto dos sentimentos das atitudes e dos comportamentos geralmente associados a homens e mulheres. O gênero tem inicio nos primeiros estágios da vida. O que acontecia com David, é o que os sociólogos chamam de identidade do gênero,ou seja, a sua identificação com o sexo particular, ou o sentimento de pertencer a esse sexo.

Teorias do gênero
Após, repercutirmos as diferenças conceituais entre sexo e gênero e as implicações que ambas têm nos comportamentos sociais dos indivíduos, na perspectiva da construção da identidade sexual e da discussão sobre os papéis dos gêneros.
Iremos a partir de agora abordar as diferentes explicações ou modelos teóricos que foram atribuídos a esta temática em questão, focando nossa discussão no embate teórico construído entre o essencialismo e o construtivismo social.
Estas duas concepções distintas de enxergar os fenômenos comportamentais que envolvem a emblemática da sexualidade e do gênero na perspectiva social, contribuíram para nos auxiliarmos em nossa trajetória de delinear as diferentes percepções em que a sexualidade e o gênero possam esta envolvida na nossa sociedade contemporânea.
Essencialismo
Antes de qualquer assertiva, para iniciarmos nossas discussões sobre as distintas teorias elaboradas sobre a construção dos gêneros e as diferentes concepções dos teóricos essencialistas que explicam a formação dos gêneros. Faz-se necessário primeiramente colocarmos algumas perguntas intrigantes sobre esta questão, por exemplo: Como e quando definimos nossa sexualidade? Quando o homem e a mulher constroem sua identidade enquanto sexo e gênero? Como se dar as interações sociais entre os distintos sexos? As relações sociais entre os distintos gêneros são de alguma forma igualitária e/ou desigual? Mesmo se levando em conta a influência do relativismo cultural e histórico.
Todas essas perguntas e muitas outras veementes formadas sobre esta temática formam a base científica inicial das pesquisas dos sociólogos, psicólogos, antropólogos e historiadores. Assim é através das distintas percepções e contribuições específicas dada por diferentes áreas das ciências sociais que se é hoje possível traçar algum embasamento cientifico sobre esta questão, demonstrando a complexidade e a importância desta temática.
As teorias essencialistas atribuíram a diferença e a construção da sexualidade e respectivamente ao gênero, uma idéia de “essencial’ ou algo inato que determinaria o sexo e comportamento social enquanto gênero.
O nosso discurso para tal assunto, esta baseado nos estudos de um grupo de sociólogos americanos que juntamente com sociólogos brasileiros da Universidade Federal de Pernambuco lançaram recentemente um livro intitulado: Sociologia, sua bússola para o novo mundo[1].
Neste sentindo, as nossas escritas aqui explanadas sobre as distintas concepções essencialistas existentes, estarão concatenadas através das acepções de Sigmund Freud, e o seu estudo psicanalítico sobre a personalidade e o desenvolvimento psicosexual, e as concepções dos sociobiologos e da psicologia evolucionária das implicações dos instintos e da genética na construção da sexualidade e do gênero em sua perspectiva social.
Procurando achar repostas para os comportamentos humanos e o seu desenvolvimento, é que Sigmund Freud em final do século dezenove desenvolveu seus estudos psicanalíticos sobre a mente humana, focando principalmente em suas pesquisas a essência e o princípio universal que explicaria o surgimento das personalidades.
Reconhecido como “pai da psicanálise” Freud trouxe para psicologia moderna o estudo do inconsciente humano se distinguindo assim da psicologia cientificista reinante no século anterior, do qual esta se focava principalmente no estudo do consciente humano omitindo o inconsciente.
Em seus estudos Sigmund Freud atribui ao homem à concepção inata da idéia de libido, sendo esta, a “energia nuclear” do prazer e dos instintos sexuais que todos os indivíduos carregam consigo como uma natureza humana involuntária.
Baseado nesta concepção essencialista para o desenvolvimento humano, que Freud elaborou a teoria psicosexual do desenvolvimento humano, como uma forma de explicar a formação das personalidades através de estágios distintos no qual passariam os indivíduos em seu desenvolvimento. Os comportamentos dos seres humanos seriam conduzidos por essa libido inconsciente e impulsionados pelos desejos sexuais.
No terceiro estágio (a fase fálica) de sua teoria psicosexual sobre o desenvolvimento, Freud procurou explicar a gênese da sexualidade e atribui as diferencias anatômicas como um fator primordial na identificação do sexo.
Para Freud, nesta fase entre 4 a 6 anos, é o período essencial da diferenciação e da identificação do sexo, pois é neste período que a criança começa a perceber sua parte genital, e se identifica com seu sexo. O menino descobre que é diferente da menina pela presença do pênis e a menina pela ausência.
O menino nesta fase libera sua libido inconscientemente ao vê sua mãe ou qualquer menina nua, passando a ter a ilusão involuntária de sentir prazer sexualmente por sua mãe, porém acaba sentindo frustrado e reprimido através da figura do pai, assim reprime este desejo em seu inconsciente para que mais posteriormente esta repreensão o identifique com seu gênero masculino, se tornando forte e independente.
A menina por sua vez, segundo Freud, tem “inveja” do pênis do homem e acaba neste período se afastando da mãe, que também assim como ela têm essa “ausência” de pênis, acaba também liberando a libido sexual inconsciente pelo pai, que é reprimida pela presença da mãe, sendo esta repreensão mais tarde responsável pela identificação com o gênero feminino, se tornando imatura e dependente dos homens.
Entretanto essa concepção essencialista de Freud pode ser de certa forma contestada quando atribuirmos que este (Freud) também levava em conta a forma como se davam esse reconhecimento anatômico, tanto masculino quanto feminina.
Nesse processo de reconhecimento anatômico é incontestável a influência das interações sociais e da socialização primário, por exemplo; no caso em que a mãe maltrate o menino, este, dificilmente conseguira liberar a libido pela sua mãe, ou mesma a morte dela precoce pode fazer que o menino procure novas formas de identificar-se com sua sexualidade.
Entretanto a teoria essencialista sobre a explicação do gênero não se resumiu somente em Freud, e passou a ganhar no final do século XX uma “nova roupagem” através das pesquisas e dos estudos dos sociobiologistas e da psicologia evolucionária contemporânea.
Estes teóricos atribuíram ao fator genético à formação e a diferenciação dos sexos e dos gêneros, repercutindo esta implicação como possível explicação para os comportamentos distintos entre o homem e mulher e suas relações.
As concepções destes teóricos explanam a idéia que os homens e as mulheres têm instintivamente a missão de perpassar os seus genes para as gerações posteriores, sendo isso, o ato responsável pela sobrevivência humana
Nesta missão de perpassar os genes, segundo estes teóricos, a mulheres partiriam de uma posição diferente ao do homem, pois a mulher durante todo seu ciclo de vida tem um número muito pequeno de excreção de óvulos, enquanto o homem emana milhões de espermatozóides em sua vida sexual.
A implicação desta premissa explicaria os comportamentos distintos entre os dois sexos, a mulher teria instintivamente a ressonância de procurar uma vida mais estável como uma forma de se precaver pela falta de “óvulos” futura tendo a incumbência da responsabilidade dos filhos e uma ambição pelos valores matérias mais forte, o homem por sua vez, por ter um excesso de genes tendem a ser promiscuo e independente tornando-se agressivo pela necessidade de conquistar o acesso sexual as mulheres pela competição.
Essa concepção dos sociobiologistas e da psicologia evolucionária diferentemente da teoria Freudiana ganhou uma conotação ainda mais uma determinista, se fundamentando principalmente nas diferenças biológicos para explicar as distinções existentes entre homens e mulheres.
Antes de discorremos as devidas críticas sobre as correntes essencialistas, devemos dizer que antes de se pensar se o individuo têm ou não têm alguma coisa como essência, como crê os teóricos que explanamos, é necessário levarmos em conta que a questão biológica ou natural também exerce uma influência importante nos comportamentos humanos não podendo ser descartada totalmente. Lógico que este determinismo exacerbado exaltado pelos sociobiologistas e pela psicologia evolucionária só leva a enxergar uma parte ou por muitas vezes nenhuma dela.
Podemos ao elaborarmos nossa primeira crítica apontar o fato das variações culturais e históricas, aonde aplicação das teorias essencialistas se tornariam falhas ou imprecisas devido a diversidade de costumes e formas em que as sociedades se organizam historicamente e culturalmente.
Parecermos que estes teóricos ao elaborarem tais modelos universais usaram como “laboratório social” (se isso é possível) somente a sociedade de sua época em que viviam e não conseguiram tentar aplicar suas implicações em outras culturas ou em outras sociedades históricas.
A segunda crítica que direcionamos ao essencialismo esta na sua tentativa de generalizar os comportamentos a partir de médias de um determinado grupo, assim as variações são quase que ocultadas neste processo de pesquisa, colocando numa “cortina de invisibilidade” o que talvez fosse um resultado oposto ao apontado nestes trabalhos.
A terceira critica que notamos é que os princípios norteadores levantados por estes teóricos não tem uma base de averiguação sustentável, não temos como confirmar se existe ou não existe a libido Freudiana e nem por muitos menos os instintos genéticos da sociobiologia e da psicologia evolucionária.
A quarta e ultima crítica que fazemos é talvez a mais forte delas. Acreditamos que as teorias essencialista vêm contribuindo para esconder ou até perpassar a desigualdade entre os gêneros, na verdade como vimos nas duas teorias que pontuamos, estas duas acepções essencialistas colocam a mulher em um estado de submissão e explica isso como se fosse algo natural, inato, advindo de questões anatômicas ou genéticas.
Estas teorias esquecem a influência social na construção da sexualidade e do gênero, isto advindo com a aprendizagem social e a transmissão cultural e histórica das relações entre homens e mulheres.

Construtivismo social

O construtivismo social seria as diferenças de gênero com reflexo das diferentes posições sociais ocupadas por homens e mulheres percebendo-se a construção pela cultura e pela estrutura sociológica do indivíduo. Ela seria a principal alternativa ao essencialismo.

Socialização de gênero

As meninas aprendem quando brincam com as bonecas Barbie ou Suzi (chamadas de fashion dolls), um modo de vida com atividades domésticas, higiene e cuidados com o corpo e a beleza.
Quanto aos meninos os bonecos têm formas masculinas estereotipadas. Chamados bonecos de ação, enfatiza a força física, a agressividade e, por vezes, a inteligência. Mesmo assim os brinquedos são apenas uma pequena parte da socialização de gênero não podendo ser considerado principais elementos. Pesquisas realizadas na década de 1970 mostraram que desde o nascimento meninos e meninas mesmo se assemelhando em peso, tamanho e condições de saúde são tratados estereotipadamente pelos pais, principalmente pelo pai, sendo as meninas consideradas como frágeis, delicadas e bonitas enquanto os meninos são fortes, ativos, com boa coordenação motora. Também encorajam os filhos a se envolverem em brincadeiras agressivas e competitivas. Já as filhas são encorajadas a se envolver em jogos cooperativos ligados a interpretação de papéis como teatrinho, escolinha, casinha, etc. Esses padrões levam a desenvolver uma preocupação com o sucesso e o estabelecimento de sistemas de hierarquia com o primeiro e a habilidades verbais e emocionais com o segundo.

West e Zimmerman afirmam que o gênero é algo construído e não apenas dado. A prova para isso seriam pais, professores e outras figuras de autoridade tentarem normalmente impor suas idéias acerca de comportamentos de gênero apropriados às crianças, porém elas as interpretam, negociam, resistem impondo suas próprias idéias todo tempo. Outra pesquisa feita pela socióloga Barrie Thorne com crianças norte-americanas da quarta e da quinta séries verificou a auto-segregação e ainda muitos casos de meninas e meninos brincando juntos. Também verificou o chamado “cruzamento de fronteiras” em muitos casos de crianças do sexo masculino brincando com brinquedos estereotipados “de meninas” e vice-versa, observou finalmente algumas situações nas quais ambos os sexos interagiam sem pressão externa e sem a presença de identidades de gênero contribuindo para nossa compreensão da socialização de gênero de duas importantes formas: primeiro, as crianças estão ativamente engajadas no processo de construção de papéis de gênero. Não são simples recipientes passivos das demandas dos adultos. Segundo, embora elas em idade escolar tendam a se auto-segregar por gênero, fronteiras entre meninos e meninas mostram-se às vezes fluidas, às vezes rígidas, dependendo das circunstâncias sociais.

Aos 14 ou 15 anos já esta bem formada a ideologia de gênero. São conjuntos de idéias inter-relacionadas acerca do que constitui papéis e comportamentos femininos e masculinos apropriados. Com exemplo a educação brasileira, nas carreiras universitárias o perfil de opção profissional entre os sexos é acentuado como homens cursando áreas ligadas a exatas e mulheres em humanas e saúde, sendo seus efeitos: uma grande restrição das oportunidades de carreira e de salários das mulheres em áreas ligadas às ciências e aos negócios; e a formação de guetos sexuais nas carreiras acadêmicas. Além disso nossa situação é ainda mais complicada, pois o acesso de ambos os sexos a educação formal apresenta oportunidades e barreiras relacionadas à origem econômica e a pertença racial.


Os Meios de Comunicação em Massa e a Imagem Corporal
Na escola se aprende o papel social que devemos desempenhar, a mídia hoje desempenha esta tarefa e dita o comportamento das pessoas. Como deve agir homens e mulheres. Na década de 70 as mulheres eram vistas como dona de casa, mãe de família, esposa, já os homens desempenhavam sempre o papel do mais forte, dominador e orientador em geral de tudo o que possa estar relacionado com as decisões importantes a tomar, era a autoridade a ser seguida. Todo esse enfoque é possível observar em revistas, cinema, jornais, novelas e a afins. Sendo o ser humano uma propaganda dos moldes apresentados por estes agentes. Na virada do séc XX a imagem da mulher passou a ser a da aparência física, abordadas nas revistas femininas; o papel da mulher era a dependência, a rainha do lar. Depois veio a virada feminina com a reivindicação de gênero; defesa do divórcio, o sufrágio feminino e movimento feminista, vindo assim a mulher fora da esfera doméstica sendo vista agora não só como uma coadjuvante mas como questionadora e tomadora de decisões ou seja uma consumidora.
A imagem foi se tornando mais esguia principalmente, não que os homens tenham fugido a regra, mas para as mulheres a cobrança é bem maior. Desta parte vieram as questões de doenças relacionadas com o desejo do corpo ideal, a Bulimia e a Anorexia; doenças que atingem as pessoas que perseguem o estereótipo do corpo ideal e adoecem por causa disso. Relacionado a isso vem uma indústria forte que alimenta os cofres com a venda de comidas light e diet que hoje inundam o mercado.
Interação Homem-Mulher
As crianças aprendem no ambiente familiar que meninos fazem esportes e são mais capazes de agüentar as durezas da vida e as meninas compreendem que devem sempre fazer o papel de apaziguadoras e sociáveis. Quando adultas mulheres tendem a pedir opiniões e a colaboração de todos; seja no ambiente de trabalho ou no familiar, praticando assim a colaboração de todos os envolvidos. Por causa disto é vista como fraca e incapaz de tomar decisões importantes. Já o homem é rude e direto, raramente é expansivo ou pede a opinião alheia para tomar decisões. Os empreendedores têm esta visão dos gêneros e na primeira oportunidade que surge, fatalmente sua decisão é favorável ao gênero masculino.

Homossexualidade
Abordar tema de tamanha relevância no âmbito sócio-cultural é uma tarefa árdua e complicada. Os especialistas falam que a Homossexualidade pode ser Biológica, adquirida na primeira infância ou de fator hormonal, na se sabe ao certo a origem do homossexualismo, mas devemos lembrar que data de milênios atrás, pois na Grécia Antiga já havia registros, os grandes filósofos e pensadores praticavam a homossexualidade abertamente sem nenhum impecílio.
Há uma divisão para elaboração dos estudos:
Transgêneros: são as pessoas que rompem as barreiras sociais rígidas existentes, os transexuais por exemplo, nascem com determinado corpo mas que na sua capacidade de compreensão e desejo íntimo de ser do sexo oposto;
Homossexuais: são aquelas pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo;
Bissexuais: são pessoas que sentem desejos por ambos os sexos;
No último século a homossexualidade se tornou menos rotulada, não que haja no ambiente atual uma enorme aceitação da livre escolha da opção sexual das pessoas, mas que houve um avanço social no debate temático, é notório. Para a sociologia a origem da homossexualidade não é o mais importante para ser tratado, mas a forma como ela constrói as relações sociais, os sociólogos realizaram estudos no intuito de perceber as estruturas presentes na homossexualidade, perceberam que entre homens e mulheres ela é tão integrada que não poderia ser considerada uma doença, fornecendo base científica para a aceitação da diversidade sexual.
Os homossexuais hoje são organizados e construíram uma rede de solidariedade e luta por seus direitos de cidadania, realizando manifestações e passeatas em prol da liberdade de escolha de cada um.
Onde você se encaixa?
Abre a discussão para saber como é inserido a opção sexual em sociedade. Falar dos rótulos usados para classificar alguém de : bicha, sapatão, gay, menina, menino; como é construída na sociedade a possibilidade da escolha. Violência que decorre do preconceito preexistente, casos de assassinatos e agressões físicas ou verbais, que colocam a opção sexual a frente de valores morais ou éticos. A exclusão social feita através da escolha de amigos, colegas de classe, de colegas de trabalho ou até mesmo a condição de argumentar a homossexualidade como doença, desvio sexual ou uma deficiência, mesmo em sociedades consideradas tolerantes vemos o preconceito bem definido; sendo apresentado por exemplo na forma de escolher um determinado candidato a algum cargo de trabalho ou promoção, ficando assim os homossexuais banidos das possibilidades de escolha ou crescimento profissional, uma das razões do crescimento da prostituição dos mesmos por serem tão discriminados e marginalizados e muitos não têm a coragem de lutar para obter o reconhecimento pela sua capacidade profissional e intelectual. Muitos se escondem em casamentos e se tornam infelizes ou até mesmo chegam a se matar por viver angustiados pelo sofrimento e a indiferença social.
A homofobia está presente seja ela explícita ou não, sua presença é sentida como uma arma que está sempre apontada na direção daqueles que ela deseja aplicar seus duros golpes, sem a menor dúvida a presença dela é imanente da sociedade, seja em maior ou menor grau.

Desigualdade de gêneros

Iremos discorrer nesta parte de nosso trabalho como as relações entre os gêneros (masculino e feminino) se relacionaram durante toda a trajetória da construção das sociedades ocidentais. Enxergando que muitas vezes essa relação se tornou um campo de força ou relação de poder do qual a dominação e a submissão deslizou para uma desigualdade entre gêneros. Veremos também quais as repercussões relacionadas a essa desigualdade, correlacionando aos comportamentos sociais presentes em nossa sociedade brasileira contemporânea, como por exemplo; o assedio, o estupro e a violência contra a mulher, tentando sinteticamente assimilar as implicações desta premissa para propor soluções viáveis.
A palavra desigualdade presente em nosso vocabulário perpassa em nosso imaginário uma relação de superioridade, de dominação, de uma divisão injusta entre as partes, entre outros signos possíveis. Na nossa sociedade brasileira contemporânea enxergamos como muita nitidez a formas distintas em que são tratados os homens e as mulheres em seus papéis e funções sociais, como por exemplo; no mercado de trabalho, na esfera pública, dentro dos centros acadêmicos universitários e inclusive até dentro do nosso corpo jurídico, retratando assim uma desigualdade no qual a mulher esta submissa ao homem.
Na verdade, diferentemente do desenvolvimento histórico dos direitos políticos, que em determinada época do mundo ocidental institui a igualdade política entre as classes através da implantação de uma democracia representativa, as relações entre os gêneros (masculino e feminino) no transcorrer da história foram se afastando deste princípio de igualdade e se constituindo como uma forma de dominação de um determinado gênero sobre outro. No nosso caso o que se verificou foi à dominação do homem sobre a mulher. O que nos arremata a pensar por que ainda não construímos uma democracia de gêneros.
Para entendemos a significação desse embate que colocamos a priori, é necessária descartamos as explicações essencialistas, pois estas já colocam ora como uma idéia inata, ora por fatores genéticos a “superioridade do homem sobre a mulher” desprezando as implicações possíveis oriundo da construção social e histórica destas relações, exagerado em suas abordagens por determinismos biológicos.
Parecermos que se realmente queremos compreender como esta relação de força entre homens e mulheres se constituiu demandando posteriormente para esta desigualdade contemporânea que enxergamos, é primordial traçarmos um esboço histórico das origens destas relações, pois só através desta premissa poderemos entender os fatores que contribuíram para esta atual situação de desigualdade.
No embasamento desta trajetória histórica iremos usar as explicações presentes no trabalho sociológico intitulado; Sociologia, sua bússola para o novo mundo, feito através de união entre sociólogos americanos e brasileiros. As relações entre os gêneros durante a história nem sempre estiveram nessa perspectiva da desigualdade que encontramos hoje.
No surgimento das sociedades das primeiras civilizações do mundo ocidental na velha Europa, a formas de organização social sobre o regimento da caça e da coleta não colocavam o homem e a mulher num status de desigualdade. Neste momento a divisão de tarefas distintas entre os gêneros masculino e feminino tinham a mesma relevância de importância para a reprodução daquela sociedade.
Na verdade pode se explanar que a importância da coleta naquele tempo chegava a ganhar mais relevância do que a caça, fazendo parte de até 80% dos suprimentos alimentícios daquelas civilizações. A figura feminina que se associou a esta atividade ganhou em algumas civilizações uma concepção de divindade, se relacionado muito bem com a idéia de fertilidade e prosperidade dos elementos naturais, como foi na Grécia clássica e no Antigo Egito e suas relações com as enchentes anuais do rio Nilo.
Esse panorama de igualdade começou a se “desarrumar” ainda na base de formação destas primeiras civilizações ocidentais, o fim do último período glacial na Europa ocidental acabou resultando na inundação das terras dos povos que viviam ao nordeste da velha Europa, que habitavam regiões onde a vegetação e as florestas eram restritas e a caça era o principal meio na consumação dos suprimentos alimentícios. Oriundo da implicação da região espacial onde habitavam, os homens destes povos tinham um status de maior importância que as mulheres, pois era sua atividade de caça que garantiam a sustentabilidade daquele povo.
O êxodo e conseguintemente a invasão destes povos a antiga região da velha Europa, modificou as concepções igualitárias existentes entre homens e mulheres, pois as maiorias dos deuses destes povos, diferentemente dos da velha Europa que adoravam a figura feminina representado com símbolos de fertilidade e prosperidade, estes povos tinham em suas concepções de divindades a idéias de deuses guerreiros associadas à supremacia das habilidades de lutas.
A acomodação e a fusão entre estes diversos povos no centro do ocidente europeu trouxeram para esse continente a concepção de propriedade, de escravismo, de colonização e de sua supremacia militar sobre os demais povos do continente enraizando o etnocentrismo nestas antigas civilizações. Assim na antiguidade, os deuses se tornaram masculinos e a mulher nesta sociedade assumirá o papel da reprodução sexual submissa ao homem.
O surgimento do judaísmo tradicional, do cristianismo romano e do islamismo nestas antigas civilizações ocidentais contribuiu para consolidação desta posição de inferioridade da mulher em relação ao homem nestas sociedades, as acepções destas religiões colocam o mundo numa ordem hierarquizada do qual a mulher esta para servir ou auxiliar o homem, sendo esta premissa um dogma, ou seja, incontestável.
Por assim de lembrança poderíamos explanar a acepção dos judeus e dos cristãos sobre a mulher, considerando que os cinco primeiros livros do antigo testamento do cristianismo fazem parte do torá (o livro sagrado do judeu). No livro de gêneses, a mulher é apresentada como um pedaço da costela de adão, feita para auxiliar e servir com obediência as ordens dos homens, assim sendo, não fica muito difícil de imaginar a implicação que isto tem para o gênero feminino e sua relação com masculino.
Outro fator primordial que aumentou o nível de desigualdade entre os gêneros foi à transformação e a passagem entre uma agricultura incipiente para uma agricultura de arado no final da idade antiga, pois até então as técnicas da agricultura eram atividades praticamente monopolizadas pelas mulheres, com a invenção do arado, se houve a necessidade de uma aplicação de mais força física nos trabalhos agrícolas e os homens passaram a dominar as técnicas e deslocaram as mulheres para seus lares tomando conta de seus filhos.
Com esta exclusão do sistema produtivo de sua própria sociedade, fato que vai se acelerar com a industrialização, que por causa da relação existente entre a necessidade da criação dos filhos e a exigência de carga horária de trabalho mais exigente no sistema fabril, as mulheres começam a ficar presas a esfera privada, enquanto os homens trabalhavam e agiam sobre a esfera pública.
Essa lógica acabou se naturalizando nas sociedades ocidentais do século XX, famosas frases que ainda hoje é costumeiro se escutar, por exemplo: “lugar de mulher é em casa”, “vai tomar contar dos teus filhos e deixe-me de asneiras”, mostra como essa idéia construída socialmente na divisão do trabalho vai se consolidando dentro do imaginário de nossa sociedade contemporânea, ratificando a desigualdade de gênero como uma coisa constante no nosso cotidiano.
Iremos agora abordar alguns aspectos que dentro de nossa atual sociedade repercute de forma visível a desigualdade de gênero, que são as práticas que contribuem fortemente para sua permanência.
O primeiro ponto que gostaríamos de levantarmos estar relacionado ao mercado de trabalho atual, vejamos: A mulher de hoje sofre forte discriminações de gênero no mercado de emprego contemporâneo. Na verdade as mulheres acabam tendo menor rendimento que os homens, mesmo praticando a mesma atividade e função. As responsabilidades domésticas tiram o tempo das mulheres para atividade produtiva, entretanto não estaria na hora destas responsabilidades serem equilibradas, por que não? Machismo? Os filhos têm que ser de responsabilidade do casal e não só da mulher, afinal de contas não se faz um filho sozinho.
As mulheres sofrem preconceitos correlação as suas capacidades intelectuais, muitos homens acham que as mulheres são menos capazes e de fez em quando pensamentos machistas soltam “absurdos” do tipo; “que as mulheres têm menos neurônios que os homens’, no entanto a inteligência não esta na quantidade de neurônios mais sim na capacidade que as células nervosas têm de fazer as sinapses nervosas e nisso não existem diferença. Essas idéias acabam tendo resultando mesmo no ridículo que são, e muitas mulheres acabam tendo cargos de baixa qualificação e sendo mal remuneradas por tais idéias preconceituosas.
Todo este estágio de subordinação não significa que as mulheres aceitam tal estado de ordem de forma passiva e natural, na próxima parte deste trabalho iremos abordar sobre o movimento feminista, mais aqui caber-nos dizer que muitas destas manifestações contras a essa submissão, acabam se desenrolando num ato de violência contra a mulher, visando entender esse comportamento iremos discorrer sobre o estupro e o assedio sexual.
O estupro dentro de nossa sociedade brasileira atual esta regida por leis penais atrasadas que acaba privilegiando o agressor, pois só consideram como estupro atos sexuais com penetrações virginais, não considerando o sexo anal e nem o oral. Os casos de estupros quase sempre são associados a patologias psicológicas por parte dos estrupadores que atestando insanidade explicam a quebra das ordens sociais, entretanto estes estrupadores em sã de si ou não, não poderiam se redimirem do fato e nem da decisão de ter planejado e praticado tal ação, mais muitas vezes estes sujeitos são inocentados repassando uma “atmosfera” de impunidade que ajuda a naturalizar esta prática.
A explicação para os comportamentos sociais destes estrupadores que por meio da força usam e abusam do corpo do outro sem seu consentimento, é muitas vezes explicadas através de traumas e histerias ocorridas na sua infância, assim o menino que cresce assistindo o pai bater na mãe, tendem a repetir tal ato quando cresce o que acaba colocando em cheque como a nossa sociedade esta cuidando da educação de seus filhos.
O assedio assim como o estupro também tem uma lei penal que deixa margem para a impunidade, pois o assedio só é crime considerado se for feito de uma pessoa de maior hierarquia sobre uma de mais baixa, não levando em consideração o contrário, e nem mesmo quando as pessoas ocupam o mesmo cargo dentro da hierarquia de uma empresa, por exemplo.
Parecermos que a própria lei é preconceituosa, como se quisesse deduzir que as mulheres iriam sempre ocupar os cargos mais baixos. Como é possível vê o assedio é um comportamento social que reflete esta desigualdade de gênero, e uns dos seus principais lugar de atuação esta vinculado ao trabalho. Piadas sexistas, insinuações, gracinhas, entre outras formas cotidianas de violências simbólicas são constantes nos dias de trabalhos femininos, principalmente em lugares onde se tem grande contingente de homens desproporcional ao de mulheres, esse ato acaba tornando natural e a falta de punição faz que se ratifique como algo constante. Por isso todas essas práticas sociais de agressão, violência e assedio correlacionadas as mulheres repercutem para perpassar a desigualdade dos gêneros, e a solução como tínhamos disto no inicio desta parte, é consolidar uma democracia de gêneros em nossa sociedade.
Algumas ações do ponto de vista político foram pensadas para amenizar a desigualdade rumo à democracia dos gêneros, como por exemplo; criação de políticas públicas que construam creches de qualidade e eficiência em larga escala, para que as mulheres e os homens possam dedicar igualmente na tarefa produtiva. Outra proposta esta vinculada em ações públicas que criem um sistema de avaliação comparativa entre as atividades trabalhistas de homens e mulheres, visando acabar com desigualdade de rendimentos.

O Movimento Feminista e de mulheres

O movimento Feminista surgiu como reação da forma de como as mulheres estavam sendo tratadas até então: seres inferiores sem direitos políticos ou sociais, com sua atribuição máxima ocorrendo com a sagrada maternidade. Por isso, vem como um movimento histórico, político e filosófico-epistemológico, que a partir do século XIX começa a aflorar em várias partes do mundo.
O estudo do feminismo pode ser dividido em três fases distintas. Costuma-se chamar de primeira onda do feminismo o movimento histórico de defesa dos direitos da mulher que pode ser identificado desde o final do século XVIII e que inclui dentre suas maiores conquistas a abertura do ensino superior às mulheres, o acesso a diversas profissões até então exclusivamente masculinas, como a Medicina, por exemplo, o direito das mulheres casadas à propriedade e o direito das mulheres divorciadas ou separadas à custódia dos filhos. A conquista do direito ao voto também deve ser creditada a esta primeira onda do movimento feminista. Já no Brasil, a primeira onda estende-se pelo período de 1850 à 1940, com a luta pela educação, ao emprego e ao voto. Com relação à educação, destaca-se o papel da Educadora Nísia Floresta, que lutou pelo direito das mulheres ao estudo.
Já a conquista do voto pelas brasileiras resultou de um processo de luta iniciado antes mesmo da proclamação da República. Embora a Constituição de 1891 vetasse o direito de voto aos analfabetos, mendigos, soldados e religiosos, sem excluir o voto feminino, as mulheres ainda tiveram que lutar por mais de 40 anos para conquistar esse direito.
Finalmente, o voto feminino foi assegurado em 24 de fevereiro de 1932, através do Código Eleitoral Provisório. Entretanto, este decreto era bastante restritivo, autorizando o direito de voto apenas às mulheres casadas que tivessem a autorização dos maridos e a solteiras ou viúvas, desde que tivessem renda própria. Em 1934, a Assembléia Nacional Constituinte reafirmou o direito assegurado no Código Eleitoral, eliminando as restrições existentes, mas tornando o voto obrigatório apenas àquelas mulheres que exercessem funções remuneradas em cargos públicos. A obrigatoriedade plena do voto para todas as mulheres só foi instituída com a Constituição de 1946(Conferência Nacional das Mulheres Brasileiras, 2002).

Simone de Beauvoir abre o período de transição entre o primeiro e segundo momento do movimento feminista. No final da década de 40, ela escreve o livro “O Segundo sexo”, que denuncia as raízes culturais da desigualdade social, como pode ser vista no trecho abaixo:
"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino".
BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo, 1990.

A segunda onda do feminismo inicia-se a partir da década de 60 como o movimento de liberação feminina da dominação masculina em todos os campos da cultura. Saíram em Passeatas, organizaram-se e suas vozes ganharam mais eco. Lutavam pelos direitos iguais entre homens e mulheres; a eliminação da violência sexual e o direito ao controle reprodutivo. É a partir de então que o feminismo passa a ser sistematicamente teorizado no meio acadêmico, dando origem a diversos desenvolvimentos teóricos dentro do movimento, como o movimento das mulheres negras e o movimento lésbico, por exemplo.
No Brasil, a segunda onda surge em plena época de efervescência política: Na época da Ditadura Militar. Ele difere do internacional por causa do contexto que é inserido. As mulheres começam a lutar pela redemocratização do País.
A partir da década de noventa, os objetivos e estratégias do feminismo passam a ser rediscutidos dentro do movimento chamado pós-feminismo, ou terceira onda do feminismo, que passa a reavaliar criticamente as lutas das mulheres, procurando atualizar suas propostas na contemporaneidade. Entretanto, alguns críticos não aceitam a terceira onda como um novo estágio do movimento feminista.
A criação da Plataforma Política feminista em 2002 trouxe uma visão mais abrangente de como o Movimento feminista atual está engajado em todos os setores da estrutura brasileira. A questão sócio-econômica da população, ambiental e da diversidade de gênero, são uns dos assuntos de suas pautas. Outro assunto de suma importância, que há muito vem sendo discutido, é a questão do aborto. Tema bastante controverso, o aborto e encarado por alguns como um dos maiores crimes contra à vida. A CNBB, por exemplo, proclama a “inviolabilidade da vida, desde o primeiro instante da concepção no seio materno. O direito à vida é o direito fundamental do nascituro.” Já as mulheres do movimento feminista olham com a visão de que a mulher é dona de seu próprio corpo e que deveria ser delas o direito ao controle de sua capacidade reprodutiva.

O destino natural das mulheres, ser mãe, esposa e dona de casa, marcado pela maternidade, casamento e dedicação ao lar, foi profundamente revolucionado no século XX. É nesse contexto que as feministas se viram frente ao desafio de demonstrar que não são características anatômicas e fisiológicas que definem as diferenças entre as desigualdades de gênero, mas a militância pelos direitos igualitários entre os seres humanos.














[1] Sociologia: sua bússola para o novo mundo/ Robert Brym...[ et al.]. São Paulo. Thomson Learning, 2006.

sábado, 15 de novembro de 2008

O Movimento Republicano em Pernambuco 1850-1889 (MARC HOFFNAGEL) Síntese

O surgimento do republicanismo em Pernambuco esta coligado a um certo caráter excludente contínuo presente durante todo o império, principalmente do ponto de vista político-econômico, do qual, a participação dos setores políticos influentes da região sobre as principais decisões das políticas nacionais e econômicas eram restritas, além disso essa conjuntura acabou sendo influenciada diretamente pelo aumento involuntário de imposto crescente feito por este regime a província pernambucana.
Ressurgindo assim em solos pernambucanos vários movimentos de tradição separatista e de cunho ideológico republicano como; a revolução de 1817, a confederação do equador de 1821 e a revolução praieira de 1848, que fez emergir durante toda vivência do regime monárquico uma tradição republicana em Pernambuco típica de sua condição histórica antecessor.
O trabalho do Professor Marc Hoffnagel traz de forma minuciosa e descritiva o republicanismo pernambucano. Repleto de detalhes enriquecedores o seu trabalho traz os fios condutores deste republicanismo pernambucano desde a revolução praieira até a proclamação da república em 1889.
O republicanismo em Pernambuco advindo das reivindicações da revolução praieira tem de princípio como uns dos seus principais expoentes a figura de Antonio Borges, este, ligando as suas ações políticas mais ativas aos interesses das camadas dos setores urbanos criticava o regime vigente atual e apontava como causas monarquistas os seguintes pontos de entraves; o aumento crescente de preço dos víveres da terra, o aumento do custo de vida, o monopólio dos comerciantes varejistas portugueses, as fraudes eleitorais e os privilégios de determinados setores da sociedade pernambucana na política provinciana.
Ao lado de Borges também podemos destacar outras figuras importantes como; Albuquerque Melo, Romualdo Alves de Oliveira e Luiz Cyriaco, que assim como Borges tinham como criticas os anseios que foram derrotados na praieira. Assim durante toda a década de 60 e posteriormente na de 70 do século XIX em Pernambuco.
O movimento republicano pernambucano se entrelaçou com as causas dos setores das camadas médias urbanas e suas propostas serão distintas daquelas vistas pelo republicanismo paulista, que diferentemente do que acontecia em Recife, o movimento paulista desde seu princípio se aliou diretamente com a aristocracia cafeeira local formando uma base político-econômica influente na sociedade paulistana, o que não irá acontecer aqui em Pernambuco entre os republicanos e senhores de engenhos.
As propostas dos republicanos durante toda a década de 1870 em Pernambuco voltou-se principalmente as causas dos setores médios urbanos e a crítica ferrenha a política imperial, porém mesmo com toda propagada existente através dos diversos jornais republicanos deste período, este movimento não conseguiu ganha adesão do interior da província e nem muito menos os interesses da aristocracia açucareira pernambucana que vinha algumas idéias reformistas republicanas com certo receio, como; abolicionismo e reformas na distribuição da terra para os ex-escravos após a libertação.
O fato é que o movido por um liberalismo “romântico” típico do século XIX, o movimento republicano pernambucano durante toda essa década 1870, irá combater com todas as suas forças as diversas formas de monopólios existentes naquela sociedade, desde o monopólio política que só elegia os bacharéis (principalmente em direito) e excluam os artesões e profissionais liberais, até o monopólio econômico dos comerciantes portugueses que dominavam o mercado alimentício, propostas como; sufrágio universal, democracia social, educação para os artesões industriais, criações de corporações de artesões e comerciantes nacionais e aversão ao estrangeiro aliado a um nativismo local, predominou como característica principal deste movimento durante toda esta década de 1870, que como vimos não conseguiam aliar suas propostas com os interesses dos setores políticos mais influentes, fazendo que a expressividade do republicanismo tornasse muita pequena do ponto de vista político.
Durante a década de 1880 tivemos a mudança no rumo do movimento republicano pernambucano, a entrada dos bacharéis em direito oriundos da faculdade de direito do Recife trouxe novas concepções filosóficas ao movimento, as idéias de augusto Comte, Herbert Spencer e Ernst Haeckel, fizeram emergir o projeto positivista e evolucionista ao movimento.
Assim as propostas do republicanismo pernambucano ganham a preocupação com o desenvolvimento econômico e técnico das atividades produtivas da província promovida pelo desenvolvimento da ciência moderna, entretanto mais uma vez, os anseios dos republicanos não coligaram com as das aristocracias rurais pernambucanas, apesar de serem contra a violação dos direitos individuais que poderia ser visto com bons olhos para aristocracia que temia a caráter reformista do movimento na década anterior, porém o movimento continuou defendendo os interesses dos setores urbanos em correlação aos monopólios políticos e comerciais, colocando uma democracia política e o fim dos privilégios das aristocracias, como principais meios, dão ênfase para o fim da escravidão como um símbolo de atraso e impedimento do desenvolvimento econômico.
Contudo, mesmo com toda essa mudança filosófica positivista Comtiano no movimento, o republicanismo não ganha força por causa de sua desvinculação com setores influentes da sociedade, não podemos esquecer que os membros que pertenciam ao movimento republicano pernambucano eram compostos por: artesões e profissionais liberais, e muitos estavam diretamente ligados aos senhores de engenho numa relação de dependência econômica e temiam a represália, enfileirando as fileiras dos partidos conservadores e liberais monarquistas.
Com a abolição da escravidão da forma imperativa que aconteceu, sem uma indenização digna aos senhores de engenho fez que alguns destes aderissem ao republicanismo, entretanto quanto esta tendência começava a se consolidar de 1888 até novembro de 1889, se instaurou no sul a república federativa do Brasil e as aristocracias pernambucanas que iniciam um lento processo de adesão ao republicanismo pernambucano acabou declarando fidelidade ao republicanismo paulista e do centro-sul, pois esse era agora a principal força que sustentava o poder em nível nacional.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Jacqueline Hermann, Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado.(resumo)


O texto traz de forma sintética os principais aspectos envolvidos com o aparecimento dos movimentos religiosos populares no inicio da república, principalmente nas regiões interioranas afastadas do controle institucional do novo governo. As repercussões desses movimentos estão diretamente correlacionadas com o processo de transição entre o império e a república, porém é inegável que outras evidências irão impulsionar o desenvolvimento de tais fenômenos, como por exemplo; a existência do catolicismo popular que fundia elementos de várias culturas originárias na colonização com as doutrinas cristãs, dando certo caráter místico e profano na propagação desta religião no Brasil.

Analise da autora embasa tais movimentos não só de forma descritiva, pois também abordar as principais concepções e teorias que foram desenvolvidas por sociólogos, historiadores e antropólogos como possíveis explicações e interpretações para tais movimentos, enfatizando esta explanação nas figuras de padre Cícero, Antonio Conselheiro e José Maria.

Entretanto antes de qualquer analise sobre os tais movimentos é necessário entender os impactos sofridos pela igreja católica nesta transição política institucional entre império e república. O surgimento da república representou o fim do padroado e do regalismo no catolicismo do Brasil, dando certa liberdade de ação para igreja independente do estado, atendendo assim os desejos das lideranças eclesiásticas, mas ligada a Roma, porém esta transição também se configurou por certa perda de ação, pois limitava a esfera de atuação desta igreja através de algumas medidas adotadas no projeto de elaboração da constituição republicana em 1890, como por exemplo; o reconhecimento e obrigatoriedade do casamento civil, registro civil dos batismos, secularização dos cemitérios, alienação dos bens da igreja e o impedimento de formação de novas comunidades religiosas, especialmente as companhias de Jesus.
Essa perda de autonomia e poder da igreja católica, advindo pelo surgimento da república e a elaboração da constituição criou um movimento de reação por parte da Santa Fé e das autoridades eclesiásticas brasileiras, que se organizando em corporações agiram de forma política para tentar amenizar os impactos dessa secularização idealizada pelos princípios liberais e federalistas que envolviam os constitucionistas da época.

Essa contra-reação por parte da igreja para manter certos poderes obtive êxito em alguns aspectos, pois os bens da igreja foram salvos de apropriação além do mais pode garantir as congregações e as ordens religiosas liberadas sem reservas. Entretanto o que representou uma vitória para os eclesiásticos na promulgação da constituição de 1891, não se configurou para boa parte da população que via essa secularização de casamentos, batismos e cemitérios uma ação de imposição do estado, mais especificamente, uma ofensa a religiosidade desse povo. Portanto partindo dessa relação, política-religião, no alvorecer da república, que a autora aborda as implicações políticas da república sobre a igreja e a religiosidade de sua população, e como isso implicou num corrente contraria de reação através dos movimentos religiosos populares.

Inicialmente o texto traça um pequeno esboço teórico com as concepções dos principais pensadores e as interpretações que estes atribuíram a esses movimentos, a primeira a ser analisada é Queiroz. A abordagem de Queiroz enfatiza a formação de uma cultura rústica no Brasil advindo desde do período colonial, esta cultura assim denominada pela autora, seria o resultado do ajustamento da cultura do colonizadores com as culturas dos nativos e escravos, sendo uma vertente autônoma e independente das duas que lhe formaram. Essa cultura estaria mais presente na fusão da relação campo-cidade e no ajustamento que o colonizador teve de fazer para adaptar-se ao novo mundo.

Entretanto para Queiroz o surgimento dos tais movimentos que classifica como messiânicos, tratou-se de certa anomalia presente no inicio da república pela falta de organização desta cultura rústica, pois a ausência de lei presente principalmente nas regiões onde o mandonismo local na figura dos coronéis não conseguia estabelecer laços de compromissos e dependências com a população faziam surgir tais movimentos messiânicos que por ora eram reformadoras, ora erma restauradores, portanto o aspecto religioso desses movimentos seria uma função secundarias desses levantes, tendo a questão sociopolítica o principal motivo propulsor de propagação.

A segunda abordagem demonstrada pela autora é de Rui Facó, assim como Queiroz também caracteriza esse movimento como uma ação sociopolítica, mais especificamente uma reação do povo sertanejo a desigualdade e a miséria que se encontrava a região nordestina na época, porém não irá se fundamentar nas implicações da ausência de lei ou de possíveis falhas das relações de compromissos e laços que se configurava o poder dos coronéis, mais exalta monopólio da terra na formação do Brasil, no qual por muito tempo criou-se uma camada excludente e marginalizado na sociedade, encontrando no crime, (na figura dos cangaceiros) ou através dos movimentos religiosos um mecanismo de expressão e luta social. Assim, portanto o monopólio da terra, a pobreza e miséria da população sertaneja seriam a face material da natureza destes movimentos e a religiosidade apenas um pano de fundo, um instrumento para consolidação desses levantes.

A terceira Abordagem explanada por Hermann expõe o pensamento de Monteiro, Este, assim como Queiroz, também credita certa importância para a formação de uma cultura rústica no Brasil, como também nas questões de mandonismo local, ausência de lei e falhas das relações de compromissos e laços do coronelismo, porém se especifica mais em sua analise na construção de um catolicismo rústico ou popular no Brasil, aonde os elementos distintos de outras culturas foram incorporadores sobre o catolicismo tradicional (romanizado).

Contudo o que diferencia Monteiro de Queiroz e Facó é que diferentemente dos dois últimos, este enaltecer a importância desta característica típica desse catolicismo rústico, como uma forte influência para formação desses movimentos religiosos populares. Monteiro explana que este catolicismo popular dava a essa população uma identidade própria que era marginal devida a influência da Santa Fé de romanizar este igreja após o fim do padroado, e ao mesmo tempo autônomo, diferente do catolicismo tradicional (romano) ganhando assim base para seu fortalecimento.

Após esse pequeno esboço a historiadora (Hermann) começa a detalhar de forma sintética os movimentos que propôs explanar, iniciando seu discurso no surgimento da figura da figura de Padre Cícero em Juazeiro. A história do padre Cícero, Antonio conselheiro e do monge José Maria detalha um pouco todo o debate teórico que relatamos.
Órfã de pai, Cícero desde da infância tinha um certo misticismo em sua personalidade tendo vários sonhos com elementos sacros, o que levou a ir ao seminário de fortaleza para dedicar-se a esse vocação que acreditava, em um de seus sonhos teve a aparição do sagrado coração de Jesus sagrando devido aos males cometidos pelos homens e em sua volta um grupo de sertanejos, do qual, Jesus lhe dizia para cuidar deles.
Entendeu este sonho como uma revelação do senhor e decidiu ficar na cidade de juazeiro para cumprir a ordenação divina, assim que saiu do seminário dedicou-se inteiramente em alimentar a religiosidade das populações pobres do vale do Cariri, porém foi 14 anos depois de ingresso na vida religiosa que um fato mudou o rumo de sua história, o milagre da hóstia que na boca da beata Maria Araújo se transformou em sangue, era o símbolo da mensagem em seu sonhos e que não demoraria muito para a volta de Jesus a terra.
Passou toda sua vida na tentativa de comprovar o milagre, foi excomungado pelo Papa, proibido de realizar missas e todo e qualquer tipo de palavra escrito pelo padre de juazeiro era considerado um insulto ao catolicismo, mesmo depois que os relatores mandados pelo papa ratificaram a confirmação do milagre. Entretanto a recusa da igreja se fundamentava na forma como a adoração ao sangue da hóstia se fazia acima das doutrinas católicas, isto sempre que quando o milagre acontecia, no qual, dando um significado messiânico, padre Cícero utilizando de seu sonho a visão do padre que era aquele povo sertanejo seria os que estariam ao lado de Jesus na hora da restauração do mundo, era na verdade, uma constatação que surgia uma igreja dentro de outra igreja, e se essa igreja independente da outra tornasse nacional, por exemplo, era tudo que não queria as autoridades eclesiásticas locais e o papado.
Quase que paralelamente mais sem ter um contato direto surgia um boato sobre um Antonio do mar no interior alagoano, que suas palavras alimentavam a alma e curavam os enfermos, diferentemente de Cícero, Antonio conselheiro não teve em sua infância uma vocação ou uma espécie de aparição como teve o padre de juazeiro, o leme da vida de Conselheiro vai ser transformado totalmente quando sofreu a traição de sua mulher, transtornado num estado de ira se perde pelo mundo a matar traidores pelo interior nordestino, ganha prestigio pelo seu censo justiça social e começa a fazer uma forte crítica a república por ser contra a vontade divina, do qual se legitimava a monarquia imperial desrespeitando com isso qualquer lei que viesse do novo regime.
Mais ao sul, na região entre santa Catarina e Curitiba, já tinha se ouvido falar do beato João Maria que propagava que os castigos de deus estaria próximo e o novo reino estava porvir, essa punição seria oriundo pela instauração da república. Em seus raciocínios repugnava a igreja formada nos conchaves que este novo governo, explicitando que esses padres eram mentirosos e que defendiam princípios que ia contra a vontade divina e falava que o mundo não duraria no máximo mil anos e dois mil já era demais. Desertor do exercito Miguel Lucena Boa Ventura vai dizer sucessor desse monge profético e ira usa o codinome José Maria para formar um grupo de seguidores num sentido de forma uma comunidade longe daquela perversidade dita anteriormente pelo beato.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Império Romano viu a formação do 'embrião' das bolsas de valores atuais Tradição mercantilista foi reforçada no Renascimento. (Rarassíma matéria)

Império Romano viu a formação do 'embrião' das bolsas de valores atuais
Tradição mercantilista foi reforçada no Renascimento. Holandeses desenvolveram os mercados acionários como os conhecemos.
Paula Adamo Idoeta Do G1, em São Paulo
Em 1895, as negociações da bolsa eram registradas em enormes quadros negros
A crise que abalou o mercado financeiro internacional -e inclusive o Brasil- nas últimas semanas chama a atenção do público para as bolsas de valores.

Entenda a crise dos mercados financeiros

Mas o que muita gente não sabe é que as bolsas e o mercado acionário são mais antigos do que parecem.

Desde o Império Romano, as empresas já formavam seu capital vendendo ações ao público. Os homens de negócios, ainda que não contassem com a simpatia popular, se tornaram uma das classes mais influentes do Império. Esse pode ser considerado o embrião das Bolsas de Valores atuais, cujo funcionamento atual está determinando o rumo da economia mundial. Não é difícil perceber, portanto, que a especulação não é nova na história da humanidade.

"A compra ou venda de títulos representa uma especulação sobre o que virá no futuro – alguns chamam isso de investimento; outros, de aposta. Mas, de alguma maneira, os homens sempre especularam", escreveu o autor Robert Sobel no livro "The Big Board – A History of the New York Stock Market" (O Grande Quadro – A História da Bolsa de Valores de Nova York), que registra exemplos semelhantes ao dos romanos nas sociedades grega e mesopotâmia, por exemplo. O período do Renascimento só fortaleceu essa tradição mercantilista e especulativa. Segundo Sobel, os mercadores renascentistas tentavam reduzir seus riscos organizando empresas de ações conjuntas, que serviam para financiar viagens de navios comerciais. Os lucros que viessem depois eram divididos entre os donos das ações. No século XV, alguns destes mercadores chegavam a lucrar 100% ao investir em um barco que levasse e trouxesse mercadorias do Oriente Médio. Claro que lucros tão abundantes atrairam mais e mais investidores, o que levou ao surgimento dos primeiros corretores de ações: eles se congregavam nas cidades – que não paravam de crescer – e tinham como função principal intermediar as transações entre investidores.

Bolhas e tulipas

A Bolsa de Valores como conhecemos hoje aparentemente começou com os holandeses. Em 1602, nasceu a Companhia das Índias Orientais, para fazer transações comerciais no Oriente, e em 1688 corretores e especuladores já compravam e vendiam suas ações no Mercado de Amsterdã. Também na Holanda surgiu uma das primeiras crises do mercado financeiro, que inclusive lembra muito a atual crise das hipotecas. "O mercado mais incrível do começo do século XVII não era em ações, mas sim em bulbos de tulipas", explica Robert Sobel. As flores foram introduzidas pelos turcos e logo se tornaram uma sensação entre os holandeses. Seus preços, por conseqüência, foram à estratosfera. Quando os mercadores começaram a perceber que as tulipas não valiam o preço pelo qual estavam sendo vendidas, a bolha estourou, e o pânico dominou o mercado.

'Stock Exchange' no Brasil
A crise foi fortemente sentida, mas não impediu que o mercado financeiro continuasse a se desenvolver. A compra e a venda de ações se tornaram intensas em Londres e Paris, por exemplo. Segundo Sobel, na capital britânica, em 1773, os corretores costumavam se reunir em um café, que se tornou um ponto de referência e logo ganhou o nome de "The Stock Exchange", termo pelo qual as bolsas são conhecidas até hoje. O Brasil chegou a ter nove bolsas de valores, segundo a Comissão de Valores Monetários (CMV). A primeira delas surgiu no Rio de Janeiro, com a formação da Junta dos Corretores de Fundos Públicos da Corte, em 1848, fundada a partir da expansão do café e do volume de moeda circulante no país, explica Maria Bárbara Levy no livro "História da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro". A bolsa paulista nasceu em 1890, logo após a Proclamação da República. Mas enfrentou uma crise logo em seu primeiro ano. É que, em 1891, o governo, para estimular a industrialização e aumentar a oferta de crédito, passou a emitir mais dinheiro. Os resultados da "política do encilhamento" foram desastrosos: a especulação aumentou e a inflação também. "O dinheiro emitido pelo governo não tinha lastro, o que gerou a crise", disse ao G1 o economista Roberto Troster, especializado em mercado financeiro.



Em 1934, as negociações eram feitas em torno de um balcão central.
Quatro anos depois, a bolsa paulista reabriu com o nome de Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, época em que, segundo a Bovespa, as negociações de ações eram registradas em enormes quadros-negros. Com seu crescimento, a Bovespa acabou absorvendo as demais bolsas brasileiras. Booms e cracks
Troster explicou que, a partir de então, a Bolsa enfrentou uma série de "booms" e "cracks", até a internacionalização nos anos 90 e a chegada dos investimentos estrangeiros. Nos anos 2000, foi a época da incorporação de novas tecnologias e das transações eletrônicas. Corretor de valores da Bovespa há 35 anos, Paulino Botero de Abreu Sampaio nem sequer se lembra de quantas crises presenciou no mercado financeiro. "Foram muitas", disse ao G1. "Mas assim aprendi que não há crise que não passe".


Fonte da Matéria: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL793825-16107,00-IMPERIO+ROMANO+VIU+A+FORMACAO+DO+EMBRIAO+DAS+BOLSAS+DE+VALORES+ATUAIS.html

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Rupturas e continuidade da educação no estado varguista (1930-1945).

I- Introdução
As décadas 20 e 30 do século XX no cenário brasileiro representaram para o contexto interno e externo do país uma grande efervescência de movimentos e conflitos políticos e sócio-econômicos. Esses conflitos tiveram gênese através das transformações estruturais do modelo político-econômico brasileiro vigente, está mudança teve como sua principal impulsão à decorrente crise econômica de 1929, aonde foi colocado em xeque o modelo agroexportador sustentado por uma elite oligárquica.
Nesse sentido vemos que a necessidade de criar um novo modelo político-econômico aliado a crise política instaurada na velha república no ultimo governo de Washington Luiz que questionava a forma indireta e fraudulenta desse regime, fez-se emergir nesse cenário as oposições e os movimentos armados reivindicando mudanças estruturais no âmbito político, econômico e social.
Dessa situação saiu movimentos como: a semana de artes modernas, a formação do partido comunista e origem do tenentismo que juntava uma política nacionalista com a necessidade de se impor novamente a ordem social quebrada com crise do modelo em 29.
A solução colocada em prática para tentar homogeneizar esse grande caldeirão de interesses e conflitos gerado num cenário nacional e será através da formação do estado varguista em 1930 que tentara solucionar o problema. Representando uma certa ambigüidade na sua forma de governar, o estado varguista colocará em prática um novo modelo político-econômico voltado agora para o desprezado mercado interno usufruindo como alicerce uma política nacionalista e populista que tinha como objetivo trazer a urbanização e industrialização do país.
Nessa direção o estado varguista consolidou a modelo de substituição de importações já que até então o mercado interno era controlado pelos produtos manufaturados vindo das importações. Sua política criou embargos para as importações e facilitou o crescimento natural do mercado interno.
Entretanto o esgotamento do crescimento do mercado interno e a necessidade de recursos tecnológicos de capitais fez que Vargas cai-se num conflito que geraria sua saída, já que pregando um nacionalismo e o paternalismo ao extremo pra se perpetuar no poder teria agora uma nova realidade de negociar com outras nações sobre investimentos estrangeiros para levantar esse mercado interno emperrado por falta de tradição e de preparo para isto.
O estado varguista segurou enquanto pode a decisão nacional de se ter um crescimento lento mais independente ou um crescimento rápido a custa do capital estrangeiro, isto devido a sua política nacionalista que não lhe dava a condição de aceitar a segunda opção e que mais lhe faz sair pós quinze anos do poder.
Enquanto pode procurou tirar proveito do cenário externo como, por exemplo, na segunda guerra mundial, no qual negociou com o Estados Unidos a entrada do Brasil na guerra em troca de indústrias bases colocadas na área de volta redonda. Esta Breve introdução demonstra os conflitos que dinamizaram o estado varguista que dentro do cenário nacional teve que lhe dar que uma sociedade estratificada e cheia de interesses conflitantes, no qual sua postura ambígua será o marco de seu regime.
II- Ruptura e Continuidades da Educação do estado varguista
No campo educacional o estado varguista não será muito diferente que em sua extensão política, na verdade o que veremos é um reflexo de uma na outra, assim a ambigüidade e as contradições da postura do estado varguista será visível também na educação.
Podemos começar pelo próprio chamamento ou convocação pouca utilizada dos pioneiros da escola nova que, 1932 lançam um manifesto propondo reformas na organização educacional como um todo, propondo como eixo principal o controle federal do sistema e uma autonomia aos estados.
No entanto muito pouco será aproveitado no estado varguista que desprezando o manifesto que o próprio tinha convocado irá centralizar a educação exclusivamente a esfera federal deixando de lado a proposta de autonomia e dando um caráter autoritário do ponto de vista administrativo.
Nessa passagem vemos uma clara ruptura com a educação vigente anteriormente regido pelo ato adicional de 1834, que delegava aos estados a incumbência da educação e deixava isento a esfera federal. Nesta casso temos a volta do governo federal como agente principal responsável pela educação da nação.
Contundo com o que parecia ser bom, pois a educação encontrava-se em péssimo estado por uma descentralização desorganizada em 1843, no qual os estados eram jogados como responsáveis da educação sem ter nenhuma ajuda nacional criando assim disparidades geográficas em âmbitos educacionais que até hoje não foram resolvidas, a atitude centralizadora do estado Varguista mesmo que autoritária iria trazer assim uma uniformidade de recursos entre os estados, porém no âmbito do ensino não houve muita ruptura.
O que enxergamos no estado varguista em correlação ao ensino é continuidade da defasagem do modelo político-econômico com a educação praticada em seu momento histórico. Mesmo com a crescente modernização do país através da urbanização, industrialização e do mercado interno o ensino permaneceu com seu caráter acadêmico e literário influenciada pelos moldes antigos, desconexo assim com a crescente necessidade de qualificação da mão-de-obra que atendesse a emergência da sua sociedade histórica.
Neste cenário ficava visível a falta de uma função social e econômica específica para educação no estado varguista e mesmo quando a necessidade “batia na porta” e deixava nítido o papel econômico e político da educação, principalmente na qualificação da mão de obra para o crescente mercado interno via-se emergir a força conflitante e opositora do conservadorismo influenciado pela velha elite aristocrata agrária que entrava em ação e agia no sentindo de resgatar e preservar toda uma herança colonial de um ensino voltado para ócio e a erudição, porém o crescimento da demanda social pela educação devida à urbanização e o surgimento de oportunidades providas da industrialização trará uma grande diminuição dos números do analfabetismo nacional e o conflito entre uma educação voltado para social e uma educação voltado pra academia ainda hoje não se têm plena solução.
Outro ponto de vista que podemos evidenciar na perspectiva de continuidade ou de ruptura no âmbito do ensino do estado varguista está voltada ao ensino religioso na educação, que terá seu retorno posto pelo estado varguista devido ao apoio política da igreja ao seu regime, porém ao olharmos para o que era antes veremos que será uma ruptura, já que na república velha a educação era laica, entretanto se voltarmos um pouquinho mais entraremos em toda nossa herança jesuítica do nosso período colonial e neste caso seria continuidade.
Encerraremos esta parte apontando alguns das práticas adotados na educação do estado varguista que refletia claramente como propaganda ideológica do seu pensamento político, mais especificamente o nacionalismo, o carro-chefe de sua política e principal base de sua sustentabilidade, pois serão impostas nessa época, nas escolas, aulas de civilidade e moral além de atos de nacionalismos como cantar e decorar o hino nacional no início das aulas por exemplo.
III- Considerações Finais
Ao elaborarmos esse trabalho podemos notar que atos políticos, econômicos e sociais estão ativamente agindo sobre a educação seja ele qual e quando for seu acontecimento ou momento histórico que debruçamos em análise.
Nesta ótica o estado varguista e educação praticada neste período se refletem como espelho da imagem da sociedade daquela época, que por suas intensas transformações e conflitos criam um cenário cheio de contradições mais repleto ao mesmo tempo de fascinação.

sábado, 20 de setembro de 2008

Bestializados ou Bilontras ? (José Murilo de Carvalho) Síntese

O inicio do regime republicano no Brasil em final do século XIX desencadeou dentro do cenário nacional uma série de expectativas e anseios sobre o imaginário popular, principalmente, de qual seria o direcionamento deste novo regime e de como se daria a nova relação entre os cidadãos e o republicanismo.
No cerne desta temática, o capitulo V, do livro: os bestializados, do historiador José Murilo de Carvalho, traz a tona a emblemática de como se estabeleceram as relações entre a nova forma de governo e sua população, especificando exatamente em seus estudos a cidade do Rio de Janeiro, que naquele momento era a atual capital administrativa do regime republicano brasileiro.
Intitulado: Bestializados ou Bilontras (o mesmo de espertalhão, gozador), este capitulo aborda sobre diferentes primas às visões ou expectativas geradas em torna do cidadão republicano brasileiro. Ao iniciar sua proposta de estudo o autor lança de premissa que, ao se instaurar o sistema republicano criou-se uma inúmera quantidade de expectativas e anseios por parte dos intelectuais da época e das lideranças de uma certa elite republicana sobre a ação popular neste novo regime, como também houveram aspirações dos líderes das alas operarias mais radicais para que esta população tivesse um vida política mais ativa com o novo estado.
Neste momento, esperava-se da população brasileira a mesma reação que aconteceu em países europeus quando instauraram suas repúblicas, ou seja, que este povo agora tivesse consciência da possibilidade de sua ação política, formando partidos políticos, discutidos idéias sobre o gerenciamento do estado, influenciando nas decisões estatais, enfim, uma organização civil ativa que agisse diretamente no estado e estabelecesse os direitos e os deveres neste novo tempo da sociedade brasileira.
Entretanto para perplexidade de ambos a população carioca em sua boa parte, estava organizada através associações civis de caráter comunitário que não tinham entre seus interesses ações ou atividades que promovessem, por exemplo, formações de partidos políticos, estas organizações civis tinha fins de cooperação e assistencialismo, para determinados grupos ou mesmo fins religiosos ou festivos, alias ambos ao mesmo tempo.
Este posicionamento da maioria da sociedade carioca nos primórdios da republica fez que muitos pensadores, que ao enxergarem a apatia política desta população, principalmente os membros das elites, classificaram esta população de vários nomes pejorativos, como; ignorantes, imbecis, e até de bestializados. Essa postura das camadas das elites de descrença e desprezo pelo povo, do qual não compreendiam este como povo era fortalecida através das grandes festividades e arruaças que esta população promovia, misturando na festas religiosas elementos sagrados e profanos de diversas culturas, como por exemplo, o fado, o samba e a capoeira.
Entretanto apesar da população se organizar de uma forma distinta dos modelos esperados pela elite e pelos movimentos operários mais anarquistas, este povo não estava alheio ao estado, agiam e reivindicavam ações públicas do ponto de vista comunitário, como; arruamento, limpeza pública, transporte, como também exigiam retaliações contra arbitrariedades e exploração de fiscais e funcionários públicos, porém essas exigências não se tratavam de queixas ao governo, mas sim de demonstrar aquilo que a população considerava legitimidade do estado, não caindo aqui na tentação de achar que este população queria uma intervenção mínima do estado, ou seja, que fossem seguidores do liberalismo. Na verdade esta população se via como súditos do estado, no qual necessitavam de sua presença, porém não se enxergavam ainda como agentes fundadores deste estado e muito menos participativo dele como esperava os intelectuais políticos da época.
Buscando entender o porquê deste comportamento popular dentro da capital republicana naquele momento, o historiador, se lança em algumas linhas de explicações teóricas possíveis de entendimento, assim volta seus olhos para compreender como se deu a história das cidades em seu fenômeno urbano. Trançando um paralelo com o trabalho do sociólogo Marx Weber e com outros pensadores brasileiros, como; Alberto Sales, o autor mostra que as cidades que historicamente foram oriundas das culturas ibéricas tenderam a integração, ao holismo, enfim, a valorizar o todo sobre o individual, estas cidades geralmente latinas americanas vão de contraponto com as cidades de gêneses nas culturas anglo-saxões que valorizam, o individualismo, a liberdade individual e o particular sobre o coletivo. A base do argumento weberiano se elucida que as regiões anglo-saxões e ibéricas foram cortadas por tendências teóricas distintas de cidades, na qual, enquanto uma por um bom tempo foi à fortaleza do catolicismo e da representação de uma sociedade nos princípios da hereditariedade, da nobreza e da monarquia, as cidades herdeiras das culturas anglo-saxões absorveram com primazia as implicações ressonantes das reformas protestantes e da revolução cientifica, fatos que consolidavam os valores burgueses nas formações destas cidades.
Outra linha de explicação explanada pelo historiador trata-se das características das cidades latinos americanas, principalmente o Rio de Janeiro, formada no século XVI com o principio de ser um centro administrativo e político da colônia, porém será em 1808 com a chegada da corte portuguesa que a cidade se desenvolvera como cetro comercial do império ultramarino português, sendo base de passagem para o trafico negreiro com a metrópole. Esta condição de corte e de centro político fez da cidade carioca e sua população quase que sua totalidade vivesse especificamente através dos cargos públicos e do comercio, não se formando uma atividade produtiva, como em: são Paulo, Buenos Aires e Pernambuco.
Contundo essas duas linhas de explicação não são capazes de explicar os traços e nem o imaginário desta população, principalmente, os seus pontos de vista do que era o republicanismo no Brasil, para José Murilo, o Rio de Janeiro dessa época havia se tornado um campo de força de ordens e desordens, de um lado uma elite preocupada com o estabelecimento de novas leis que regessem a ordem social, do outro, a tradição, o jeitinho, as espertezas e as ironias de uma população carioca que se amarava em valores populares e que tinha suas próprias leis alheia a constituição, só se revoltavam quando o estado tentava impor suas leis formais na base da repreensão, como na revolta da vacina, porém logo era contornado. Na verdade o que existia era uma separação do real e do formal, a república não era levada a sério por esta população, representando uma mera formalidade, sendo motivos de muitas chacotas nos jornais contemporâneos da época, revelando aí a fragilidade deste regime em se consolidar como o consenso de sua população, portanto o povo não era bestializado, mas sim um bilontra deste regime enfraquecido e sem consenso popular.





Referência

CARVALHO, José Murilo de,. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi . 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 196 p. ISBN 858509513X (broch.)