terça-feira, 21 de julho de 2009

Artigo publicado na história e-história (http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=146)

Opressão, repreensão e decadência: a saída de Nassau e os últimos anos da soberania holandesa pós-Nassau, 1644 a 1654.


por Rafael Agostinho Da Silva
Sobre o autor *


Introdução

O cenário da dominação holandesa no Brasil Contemplou eventos muitos importantes em sua época, Marcando traços profundos na história das então capitanias do nordeste Brasileiro, nas quais faziam parte; Paraíba, Pernambuco, Alagoas (sul de Pernambuco), Rio grande do norte, Piauí, Ceará e Maranhão.
Apesar de se tratar de um período curto dentro de uma história mais global, pois a dominação flamenga durou 24 anos (1630-1654), porém não podemos esquecer que a dominação flamenga tratou-se de um período de muita intensidade política, econômica, social e cultural que foi desenvolvida em uma específica região do território nacional (Nordeste).
O seu caráter traz para os historiadores uma característica fundamental para o debate sobre as histórias das colonizações, pois nesta ocasião houve uma “tentativa” de impor uma nova colonização a uma área que vinha sendo colonizada pelos portugueses desde meados do século XVI. Este fato demonstra a grande relevância que têm esse período e talvez a grande existência quantitativa de literaturas e trabalhos científicos que são proporcionados para essas duas décadas e meia de Brasil - Holandês.


A saída de Nassau (1644)

Recentemente talvez por modismo ou por grande influência de uma crescente pós-modernidade a maiorias dos trabalhos sobre a dominação holandesa se encaminham para uma abordagem unilateralmente cultural e fazem verdadeiros tratados sobre a influência cultural holandesa no Brasil e sua incompatibilidade cultural com os luso-brasileiros e com os portugueses que aqui se encontravam, apontando os aspectos diferenciadores dessa região como grande destaque e talvez de fundamental importância para a ruína desta “tentativa” de império holandês.
Destaca-se nestas análises principalmente os períodos que foram governados pelo príncipe João Mauricio Nassau, caracterizado pela maioria dos historiadores como o auge da dominação holandesa no Brasil. Seu governo teve fundamental importância pelos grandes investimentos colocados nos aspectos urbanos, arquitetônicos e culturais. Ressaltemos aqui as construções dos “seus palácios” de Friburgo e Boa vista e o seu grande incentivo a educação dos locais e dos índios Tapuyos.
Contudo este enquadramento por partem de nossos recentes estudos historiográficos foram o que deram gênese e o principal incentivo para a construção de nossa pesquisa histórica sobre o tema em questão. Ao apreciarmos a grande importância dada ao período de Nassau e toda “luz” em volta deste personagem, enxergamos existir certa “escuridão” sobre aquilo que vinha depois dessa fase. Emergindo-nos aqui a necessidade de entender os acontecimentos ocorridos entre “o auge” da dominação e uma possível “decadência”.
Neste artigo estamos procurando responder questionamentos e indagações de tipo; Como foi o período pós Nassau ou pré- insurreição pernambucana? Qual foi a organização política e a posição da república holandesa nesta fase? Houve uma continuidade ou ruptura correlação ao governo de Nassau?. Para responder este tipo de perguntas tínhamos que sair de todo um emblema de discursos e óticas culturais que a pós-modernidade tentar resgatar com grande veemência, buscando numa historiografia abordagens políticas e econômicas que foram de princípio tão predominante no início do século XX.
Dentro desta pesquisa encontramos três historiadores do qual colocaremos em questão para a compreensão do tema, que são; Flavio guerra, e os seus sintéticos livros; História de Pernambuco e uma aventura holandesa no Brasil, Pereira da Costa, em sua grande coleção dos seus; anais pernambucanos, no qual nos focamos no terceiro volume 1635-1665, e terceiro historiador, Hermann Wätjen em seu: O domínio colonial holandês no Brasil. Todos praticamente datam de um mesmo período historiográfico por voltam de 1930 e carregam as influências de uma história política e nacionalista característico de uma historiografia alemã Rankeana, apesar de já estarmos no berçário inovador da recente escola dos Annales em sua origem.
Partiremos de um ponto inicial para começarmos a entender este período, neste caso seria o evento gênese que marcou o inicio da década que estamos pesquisando, por isso iremos debatermos a necessária questão compreensiva de como decorreu à saída de Nassau do governo do Brasil holandês. Segundo Flavio Guerra a retirada do príncipe foi por motivos inteiramente políticos - econômicos que podemos enxergar nesta sua seguinte passagem:
Nassau começara aos poucos entrando em choque, se desentendo com os diretores da W.I.C. Não se coadunando com a sua administração os modos ambiciosos e puramente mercenários dos burgueses de Amsterdã. Passou ele a ser tratado como um perdulário, o “rico príncipe que queria ser imperador nas Américas”. E pressionado pelas impertinências e picuinhas, deixou o governo do Brasil holandês em 1644 regressando aos Países Baixos. (GUERRA, 1979, P.55)
A citação de Guerra resume em escala ampla aquilo que de ponto de vista generalizado se explana sobre a saída Nassau do governo do Brasil holandês, pois existe em ampla aptidão por parte dos nossos historiadores (brasileiros) certa admiração pelo Conde e Príncipe, principalmente, diga de passagem, pela sua grande capacidade administrativa de governar com certa paz e tranqüilidade uma região tão conflitante em seus máximos sentidos.
Pernambuco se tratava de uma região de grande diversidade social, na qual tínhamos; portugueses, negros escravos, luso brasileiros, índios e os próprios holandeses. Assim como a pós-modernidade nos aponta existia toda uma diferencia de modos, costumes, religiões e idéias que davam ao local uma espécie de “caldeirão cultural” que apesar de terem tido ocorridos algumas fusões culturais, as resistências por mais política que fossem acabaram se estruturando em “barreiras culturais” que travavam a homogeneização da região.
Portanto vem desta preposição a importância que se denotam para Nassau, como se fosse ele (Nassau) o homem capaz de amenizar essas diferencias possibilitando num período curto de tempo uma governabilidade “pacífica” a uma região no qual para conquistá-la foi necessária uma grande quantidade massiva de capital.
Não podemos esquecer que a conquista do Nordeste brasileiro gerou comprovadamente um grande débito a empresa comercial responsável pela administração da colônia, a W.I.C(companhia da índias ocidentais) A pouca importância mencionado a esta implicação é demonstrada de forma sintética pelo historiador Guerra na sua seguinte citação:
Com a saída do conde, pode-se dizer que desapareceu na colônia o principio de autoridade. Ele fora o único capaz de equilibrar os interesses da Holanda, sem ferir os da terra, mantendo a paz.(GUERRA, 1979,P. 55)
Essa fomentação de Guerra se baseia acima de tudo nos discursos que explanam o período de Nassau inter-relacionado a uma fase de “liberdade política”, econômica, social e religiosa, no qual o governo do príncipe Nassau proporcionou para superar a crise após a conquista do litoral nordestino, ou melhor, da recém Nova Holanda.
Nesta crise a maioria dos engenhos de açúcar tinha sido devastada e as plantações queimadas durante o processo de invasão, foram necessárias uma grande força diplomática para restaurar a principal economia da colônia, o açúcar. Isto nos é muito bem descrito pelo Wätjen na sua seguinte explanação:
Não era fácil tarefa para o governo Recifense com os insuficientes recursos postos à sua disposição reparar todos os danos causados pela guerra pernambucana, e satisfazer aos diretores em sua ânsia de lucros cada vez maiores. É de admirar, entretanto, que João Mauricio tenha, apesar de tudo, sabido insuflar um novo alento á economia agrícola estiolada e re-erguer a abatida prosperidade do país. (WÄJTEN, 1938,P. 196)
Contudo todo um discurso que Nassau reergueu as capitanias com bases nas mediações e negociações entre os locais e os interesses holandeses deixa por si, incessantes indagações e grandes lacunas para preencher ou então seremos levados a crê num equilíbrio social nos setes anos em que Nassau governou.
Entretanto em nenhum momento podemos esquecer que a dominação holandesa se tratava de uma invasão e que por mais que a diplomacia de Nassau tentasse equilibrar os direitos entre as diversas classes que existiam na Nova Holanda, os privilégios dos holandeses eram visíveis, porém seus atos faziam que esta opressão fosse “maquiada” ou amenizada, isto evidentemente deu uma governabilidade qualificada em correlação aos outros governos holandeses aqui administrados, afastando de seu regime o latente perigo que significava a idéia de dominação. Wätjen e Guerra nos ratificam isto através das suas seguintes citações;
Por mais que fosse ao encontro dos portugueses e procurasse grangear-lhes a amizade, João Mauricio guardava-se em todo caso de lhes confiar postos de responsabilidade, embora pudessem eles, como João Fernandes Vieira e Manoel Calado fazer parte do seu circulo intimo. Ouvi-lhes de bom grado o conselho. Mas em caso algum lhes era permitido ocupar posições em que se pudessem tornar perigosos á dominação holandesa. (WÄJTEN, 1938,P.203)
Pois, maior que fossem os benefícios oferecidos por Nassau aos pernambucanos, seria sempre os holandeses aqueles brutais invasores de linguajar estranho, religião antagônicas, idéias opostos, tudo enfim diferente da velha colonização lusa. O regime flamengo era duro, sem favores, e nunca o braço justiceiro e imparcial de Nassau pudera evitar os favores e as preferências a patrícios da Holanda.(GUERRA, 1979, P. 55)
Se a opressão de uma dominação foi amenizada neste período por Nassau, porém mesmo com todas suas ações “defensivas” ainda existiram muitas rebeliões libertadoras como a do maranhão de 1642, no qual, Nassau desesperadamente exigia urgentemente do alto conselho (Oficiais do centro da administração da W.I.C) mais capital para investir na reestruturação dos fortes, do aumento da tropa e no pagamento em dia dos seus soldos.
No entanto o seu pedido foi recusado com argumentos que Nassau havia gasto uma grande quantidade dos investimentos da companhia nas construções “pessoais” de seus palácios e na formação de uma “imaginaria” corte local. A solução dada do Alto conselho para Nassau era que ele procurasse arrancar juros da produção de açúcar, arcando sozinho com seu próprio governo, podemos dizer que essa reposta secretou a saída de Nassau de Pernambuco.


Junta governamental (1646-1654)

Após a saída de Nassau o Supremo Conselho do Recife assumiu o governo até 1646 onde houve uma reunião dos Estados Gerais para o qual nomearam cinco membros que formariam o alto conselho ou a junta de governo, presidido agora por Walter van Schonenborch. Como nos mostra Pereira da Costa;
Este conselho governou até agosto de 1646, quando foi substituído por um outro composto de cinco membros, com o titulo de alto conselho ou junta do governo, organizado pelo novo regimento de 10 de outubro de 1645 e aprovado pelos estados gerais, ficando nessa parte alterado o que foi dado a Nassau em 1636 (PEREIRA,1983,P.187)
O novo conselho recém nomeado tinha uma dura missão a cumprir. Primeiro tentar substituir o grande status social que Nassau atingiu durante seus os sete anos de governo, os relatos de Wajten (1938) relata que sua saída foi extremante gloriosa chegando a ser ovacionado pela população local que já via com maus olhos a mudança para um novo governo.
Segundo, o clima de rebeliões que voltava a paira na atmosfera da nova Holanda principalmente depois 1642, colocava este novo governo em alerta para possíveis conspirações ou a iminência de um ataque próximo.
As “liberdades dadas” e alguns privilégios compartilhados da época de Nassau foram reconsiderados pela Junta e colocados como “absurdos” para este novo conselho que necessitava de recursos para financiar os custos da colonização. Era necessário impor a ordem novamente para que assim pudessem garantir as safras anuías de açúcar.
Destes cortes de “liberdades” podemos apontar duas ações que tiveram fundamental importância e caracterizaram este governo pós-Nassau. Primeiro a liberdade religiosa, pois a maioria dos portugueses era católica e o fim de sua liberdade religiosa foi um banque moral muito grande para os colonizados.
Usando simplesmente a argumentação da imposição política o novo governo pós Nassau chegou ao extremo apontando e denunciando as igrejas católicas como base para a conspiração dos rebeldes, contudo o que se escondeu neste discurso foi à incapacidade da Junta Governamental de abafar os insurretos através da capitulação dos seus líderes, tomado atitudes que provocavam ainda mais ódio existente na população pelos holandeses. Flavio Guerra classificou a organização política deste período pós Nassau com as seguintes palavras;
Dirigidos novamente por um governo militar, os invasores retornaram a ser apenas dominadores, e desencadeou-se outra vez brutal a incompreensão entre os da terra e eles, que aumentou e tomou aspectos mais grave quando os judeus e protestantes voltaram a ultrajaras crenças, passando a fechar igrejas, devassar conventos, sacristias e até capelas de engenhos, onde se dizia estarem se reunindo conspiradores. Havia qualquer coisa de real nas suspeitas. Era o foco do irredentismo que começava a lavrar. (GUERRA, 1979, P.55)
Outro ponto que causou profunda rebelião nos moradores recifenses correlação ao novo governo foi o modo duro de como foi cobrado às dívidas que os próprios holandeses teriam ajudados os portugueses a criar no período de Nassau. Essas dívidas foram provocadas pelo processo de recuperação dos engenhos pós a guerra de conquista e que foram pagas através de empréstimos holandeses aos proprietários locais num preço de altos juros.
Nassau durante o seu governo vivia prorrogando o prazo para não criar convulsão e evitar assim que o sistema de produção de açúcar parasse, pois para Nassau isto sim seria muito preocupante para a Companhia. O que não aconteceu com o novo governo que procurou reaver esses capitais de volta usando da excessiva brutalidade nas cobranças destas dívidas.
Essas ações praticadas pela nova Junta contribuíram para intensificar as conspirações dos insurretos que começaram a se preparar com mais força, conseguintemente esta opressão resultou num aumento dos números de conflitos que necessariamente precisaria de mais capital para deter estes novos conflitos e principalmente para equipar o exército e pagar seus soldos.
No entanto em meio ao conflito o único meio de gerar capital acabou se paralisando neste tempo, pois a área comercial das cidades e essencialmente as produções de açúcar não conseguiram se estabelecerem produtivamente num período de guerra e como nesse tempo os estados gerais e a companhia não queria mais desperdiçar dinheiro com a colônia a Junta se enxergava isolada e sua manutenção dependia unicamente de seus esforços.
Nessa conjuntura existia uma grande desconfiança por parte da Junta de haver uma grande corrupção na emissão do capital, ou seja, desvios dos capitais dos acionistas vindo da Europa, com isso uma grave crise econômica estava sendo formada e por questão de tempo isto levaria na derrocada holandesa e na insurreição pernambucana.
Com base em tudo que já argumentamos podemos agora responder as perguntas que logo de inicio colocamos como “os holofotes da pesquisa”. Primeiro, o período pós Nassau foi de intensa opressão e muitos dos “favores” que Nassau tinha colocados em prática em seu governo foram abdicados, isto fruto de uma intensa necessidade de restaurar os cofres da companhia responsável pela administração da colônia na época, que vivia neste período em enfermo prejuízo.
Segundo, a organização política desta fase se caracterizou por cinco membros nomeados pelos Estados Gerais dos países baixos que assumiram uma posição extremamente opressora de cortar gastos com administração local tendo agora a junta local à obrigação de arcar sozinha com suas despesas.
Terceira e ultima indagação que fizemos foi sem houve ou não ruptura em correlação ao governo de Nassau, podemos afirmar aqui que houve mudanças nos modos mais não uma ruptura, pois a opressão está presente nos dois períodos, quanto no governo de Nassau de forma suave, tanto quanto no governo pós Nassau de forma dura e militar.

Considerações finais

O estudo retratado aqui se trata apenas de umas das abordagens possíveis que a História pode proporcionar em suas variantes incalculáveis, Construídas com as mesmas fontes usadas ou com outras mais abrangentes e oportunas sobre o mesmo assunto. Sucintamente levamos em conta que o período em questão ainda é muito pouco abordado e havendo certo esquecimento por parte de nossa historiografia.
Podemos explanar que essa “esclerose” de esquecimento é fruto de todo um discurso historiográfico que enobrece com grande “brilho” e pompa a fase de Nassau na dominação, vista inclusive como uma espécie de “idade de ouro” do período holandês. O pós-Nassau é certamente algo que só é visto como uma decadência não se levando em consideração os fatos que marcaram e caracterizaram este período.


Referências

COSTA PEREIRA, F. A: Anais pernambucanos. Recife: Fundação Do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, 1983. 3 v.
GUERRA, Flávio: História de Pernambuco. Recife: Assembléia legislativa Do Estado De Pernambuco, 1979.
GUERRA, Flávio: Uma Aventura Holandesa no Brasil. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 1977.
WÄJTEN, Hermann: O domínio colonial holandês no Brasil. Tradução: Pedro Celso Uchoa Cavalcanti. Recife: Companhia editora nacional, 1938.


* Graduando em História pela UFPE.
Cadastrado no CNPQ, rafasilva2@gmail.com

FONTE: www.historiaehistoria.com.br

domingo, 31 de maio de 2009

Celso Furtado, introdução à sua visão da ocupação econômica do Brasil (período colonial)

I – Da expansão comercial à empresa a agrícola.

A ocupação econômica do território americano pelas “lentes” do pensamento de Celso Furtado se tratou de um episódio irreversível da expansão comercial européia, por onde, seus objetivos e metas acabaram delineando a história deste continente, que neste exato momento acabava de se submergir “a luz” dos principais acontecimentos destes séculos (XV e XVI).
As atividades comerciais em franca ascensão na Europa, desde o século XI, assistiram a uma expansão territorial diferente daquelas acontecidas em sua história interna, não se tratava de uma necessidade de expansão provocada por uma contingência demográfica ou ruptura no nível das estruturas políticas do continente, a expansão era em busca de mercados e de novas rotas comerciais.
Portugal teve o auge de seu desenvolvimento econômico aliado a esta expansão comercial, a descobertas das ilhas do atlântico (Madeira, São Tomé, Ceuta) e a nova rota para o comércio com o oriente através da costa ocidental africana, significou uma forte ruptura do mercado europeu monopolizado pelas cidades italianas portuárias (Gênova e Veneza) e de antemão um forte impacto nas relações comercias estabelecidas pelos árabes e turcos otomanos com o leste europeu.
A “descoberta” do território americano foi um fruto de todo esse novo momento econômico que passava o continente europeu. Entretanto a ocupação territorial do novo continente teria que ser suportado por uma atividade produtiva ou uma exploração conscientemente viável para os países que se diziam “donos desta região” (Portugal e Espanha).
A Espanha acabou se beneficiando nesta empreitada da ocupação territorial por ter em seus domínios territoriais velhas civilizações mexicanas e andinas com grandes tradições em expropriação aurífera, e formou na exploração dessas riquezas e desses povos o principal alicerce de sua ocupação econômica.
Contudo, Celso furtado expõe que não foram somente preocupações econômicas que influenciaram na ocupação do território americano, as pressões políticas de países mais desenvolvidos em sua expansão econômica (França, Holanda e Inglaterra) ameaçavam diretamente os territórios lusos e hispânicos.
As pressões políticas que não aceitavam o acordo bilateral (tratado de Tordesilhas) entre espanhóis e portugueses influenciaram diretamente nas políticas futuras que seriam adotadas para a ocupação deste enorme continente por parte dos reinos de Portugal e Espanha.
O primeiro efeito imediato no lado espanhol foi à diminuição do perímetro do território ocupado em correlação ao que estava estabelecido no acordo com os portugueses, a ocupação espanhola se restringiu a região do México, das Antilhas e do Peru, Implantando uma base militar fixa em cuba para defesa do território, no entanto, mesmo a alta produção de ouro e prata custeando as defesas espanholas não foram suficiente para que houvesse perdas de algumas regiões, como por exemplo, As Antilhas.
Pelo lado português, a ocupação econômica do território brasileira passava por muito mais dificuldades que aquelas encontradas pelos seus “vizinhos” espanhóis, a “miragem” da existência de áreas auríferas no interior do território brasileiro eram atrativos para outros países, e pressionavam politicamente Portugal há tomar alguma decisão sob o ponto de vista da ocupação efetiva do seu território, havia-se no início do século XVI um pequeno comércio de peles e madeiras com índios, onde o sistema de feitorias era suficientemente necessário para tomar contar desta empreitada.
Na verdade o que se enxergava para os portugueses e espanhóis era que grande parte deste território tinha quase ou nenhuma utilidade econômica para suas metrópoles, com exceção é claro das regiões auríferas do vale da Prata e do México, todo o restante do continente americano necessitava de uma grande quantia de investimento para se fixar alguma atividade produtiva.
No mercado europeu existiam poucos produtos que possibilitassem uma alta rentabilidade para uma produção americana, se levando em conto o alto custo com o transporte da carga e perigos advindos da insegurança marítima desta época rodeado por piratas e corsários.
“ A exploração econômica das terras americanas deveria parecer, no século XVI, uma empresa completamente inviável. Por essa época nenhum produto agrícola era objeto de comércio em grande escala.” (FURTADO, p.14)

Porém para os portugueses, havia de imediato uma plena necessidade de se implantar alguma atividade produtiva capaz de colonizar o território, principalmente porque era necessário deslocar sua ocupação do litoral para o interior, a ameaça francesa que vinha estabelecendo uma colônia de povoamento na região setentrional do Brasil (Maranhão) era algo extremamente preocupante para os portugueses e ameaçava a perda do território.
A decisão de implantar uma empresa agrícola no Brasil por parte de Portugal em meados do século XVI foi no ponto de vista de Celso Furtado um evento profundamente marcante na história da América Latina, pela primeira vez a América passaria a fazer parte integrante da economia reprodutiva européia, coligando-se ao continente através de um fluxo de bens voltados para o mercado europeu.

II – Fatores do êxito da empresa agrícola.

A implantação da empresa agrícola açucareira brasileira em meados do século XVI obteve êxito devido a um conjunto de fatores que na época se agregaram e possibilitaram uma base solida para a ocupação econômica do território brasileiro.
Uns dos primeiros fatores que possibilitou o sucesso lusitano foi sua experiência técnica na produção e na solução de problemas referentes à fabricação do produto, os domínios das técnicas de fabricação foram dominados através dos contatos com os genoveses e venezianos.
Embora as técnicas de refinamento do açúcar ainda permanecessem por um bom tempo sobre o monopólio dos comerciantes italianos, as experiências na plantação, na fabricação de equipamentos para sua produção nas ilhas do atlântico fizeram que os portugueses tivessem uma clara noção da rentabilidade do mercado açucareiro europeu, que tinha naquele momento apenas pequeno focos de produção por todo continente.
O aumento na produção do açúcar dentro mercado europeu causou nessa época (século XV) uma diminuição no preço do produto, diminuindo também sua rentabilidade, criando uma superprodução no mercado, entretanto a conseqüência mais imediata da inclusão dos portugueses no mercado foi à ruptura com monopólio existente entre os venezianos, mais tarde criou-se uma política que restringia a quantidade ofertada do produto por cada região da Europa.
Contundo a produção portuguesa de açúcar não seria possível se não tivesse uma capacidade de redistribuição e um mercado para comercializar bastante vasto, neste cenário a presença holandesa foi de fundamental importância. Os flamengos compravam o açúcar português refinavam e redistribuíam por toda Europa, dando a possibilidade aos portugueses de ter que produzir uma grande produção de açúcar para abastecer este vasto comércio.
Essa possibilidade facilitou a penetração do açúcar brasileiro no mercado europeu a um preço fixo e viável para sua implantação na distante colônia, além disso, os holandeses também serviram de capitais de investimentos na inclusão de novos engenhos no Brasil, que aumentavam a produção no território brasileiro, em suma o comercio açucareiro brasileiro ganhava um sócio em sua empreitada.
O ultimo grande problema a ser solucionado para implantação com êxito da empresa agrícola brasileira, era o da mão-de-obra, não existia na Europa uma oferta grande capaz de abastecer essa empreitada, além disso, seria necessário oferecer um salário duas vezes maior para poder atrair essa mão-de-obra européia ociosa, elevando demais o custo da produção.
A solução se deu através da implantação do tráfico de escravos estabelecidos com os povos nativos africanos através de escambos de bens de pequeno valor agregado, que só precisava ser ampliado e redistribuído para colônia em grande escala, assim fecha-se o ciclo dos fatores que possibilitaram o sucesso lusitano na formação da primeira atividade econômica no Brasil.








REFERÊNCIA

FURTADO, Celso: Formação econômica do Brasil, 32º. Ed. Companhia Editora Nacional. 2003.

terça-feira, 10 de março de 2009

Resenha do documentário, Why we fight.(2005)

O trama do documentário, we why fight, traduzido para o português com o seguinte título; as razões para guerra. Discursa em seu roteiro uma análise crítica e contundente da formação do complexo industrial militar norte americano. (expressão primeira vez pronunciada no discurso de despedida do ex-presidente D. Eisenhower)
Os signos e as ressonâncias em que se desenvolveu esse grande complexo militarista americano vêm repercutindo diretamente na ingerência da política interna e externa deste país. As palavras proféticas de um presidente em seu ultimo ato em finais da década de 60 se concretizou como uma previsão obscura do tempo, de fato o século vinte foi palco do crescimento astronômico do poderio militarista americano e sua ânsia por auto-suficiência vem modificando os interesses políticos deste país, levando os EUA a um estado de guerra permanente.
Não é necessário fazermos aqui um exercício de memória muito grande para constatamos a implicação desta insaciável “sede” de guerras que alimenta esse grande complexo industrial militar que se construiu através das duas grandes guerras mundiais ou a guerra de trinta e um anos que moldou a história do século XX.
A doutrina do governo Bush(2003) de ataques preventivos aos declarados inimigos, o famoso “eixo do mal” ( Irã, Coréia do norte e Iraque) se fortaleceu com acontecimento que se tornou o “estopim” de uma nova intervenção militarista norte americano em territórios estrangeiros. A queda das torres gêmeas do World Trade Center em 11 de Setembro (2001) liderado por Osama Bin Laden e a facção política terrorista a Al Quaida encaminharam o nascedouro século XXI a presenciar de forma angustiante as suas primeiras guerras entre nações.
A invasão ao Afeganistão e a derrubada do regime político do Talibã numa das caçadas mais sensacionais da história, atrás do atualmente mais procurado homem do mundo(Bin Laden) pareceu um passo pequeno para uma indústria militar ansiosa por lucros, que ficava cada ano mais contente com os gastos substâncias do ministério de Defesa norte americano que aumentava seus custos em níveis espetaculares.
O documentário dirigido pelo diretor, Eugene Jarecki, trás com grande brilhantismo e lucidez diversas entrevistas, imagens, fotos e propagandas de como esse império militarista vêm nas ultimas décadas sendo posicionado dentro do Pentágono, dos Congressistas americanos, e principalmente sua força de manipulação da imprensa e da opinião pública em prol de seus interesses, mesmo num país democrático e com a existência de liberdade de imprensa.
Why we fight, que traduzido ao pé da letra significa, porquê lutamos? Tratou-se de uma série de documentários feitos no período da segunda guerra mundial, dirigidos pelo Frank Zarpa, Na verdade era uma espécie de vídeo auto motivacional que enfatizava os valores defendidos pelos nortes americanos naquela guerra contra o nazismo. A democracia e a liberdade eram palavras associadas à força americana simbolizada através do seu poderio militar.
Esta associação histórica entre força militar, liberdade e democracia deram as corporações armamentistas norte americanos uma trilha para se desenvolverem e se tornarem auto-suficiente mesmo em período não-bélicos. Essa condição arrematou os EUA a idéia de “guardião do mundo e dos valores da liberdade e da Democracia”, que em conjunto com essa tarefa haverá sempre a necessidade dos EUA de ser a “a polícia do mundo”.
Essa concepção de “Dono do mundo” não estar somente nas cabeças dos cidadãos americanos, por mais que possa parecer eufemismo e egocentrismos, o mundo foi forçado a pensar da mesma forma. Da década de 50 até os tempos atuais quase que as totalidades das guerras acontecidas tiveram a intervenção norte americana diretamente ou indiretamente, é muito significativo algumas entrevistas com alguns políticos americanos como senador Mackem e historiadores americanos que relatam que cada vez que os EUA vê alguma coisa no globo que não lhe interessa, já é argumento suficiente para se projetar uma guerra.
No período da guerra fria os EUA dividiram o mundo em unidades de planejamentos, a idéia que se um país se tornasse comunista no ocidente poderia trazer a tendência para os demais ao seu redor, tornando-os também comunistas. Isto levou o país a uma corrida armamentista jamais visto na história, EUA e a URSS, disputavam “bala por bala” produzida quem tinha o maior poderio militar, levando a ciência a projetarem armas químicas como a bomba atômica, que tinha como seu objetivo uma destruição devastadora de massas, ou seja, um extermínio de uma geração inteira de seres humanos.
O desmoronamento da URSS significou que o mundo voltaria a conviver com uma única grande potência, assim como a Inglaterra tinha sido durante o século XIX, os EUA, passava a ser o país com maior poderio político-econômico e militar e suas redes de influências atingiu os quatros cantos do mundo. A economia liberal capitalista administrado sobre um sistema democrático de governo estruturou-se como o modelo a ser seguido, como também houve a expansão de sua cultura conhecido mundialmente como “América life”.
Os motivos das diferentes guerras nos quais os EUA se envolveram durante esse curto espaço de tempo, da metade do século XX até os tempos atuais têm toda essa construção histórica de um aparato militar industrial, pois a cada soldado americano em campo de batalhas, há do outro lado milhões de pessoas produzindo armas, sapatos, munição e alimentação, sustentando a guerra e as corporações que se preparam para esse momento como se já soubesse disso.
Uns dos fatos mais contundentes relatado no documentário se tratam da revelação que dentro dos documentos da CIA (agência de inteligência norte americana) existe uma palavra chamada “blowback” que significa quando uma intervenção norte americana pode significar uma retaliação e/ou se há uma necessidade de uma nova intervenção. Isto demonstra como os EUA constroem área de conflitos espalhados pelo mundo, para que posteriormente possa intervir através da guerra.
Isso se torna ainda mais complexo, quando existem escândalos que envolvem agentes dos governos e congressistas nortes americanos em conjunto com membros do Pentágono e das corporações armamentistas na proliferação de novos contratos milionários, construindo novas tecnologias armamentistas, incansavelmente como se o país fosse à guerra no outro dia.
A guerra do Iraque (2003) misturou antigas pendências deixadas na primeira intervenção com uma nova roupagem trazida pelos ataques terroristas e a argumentação de que o Iraque guardava armas de destruição em massa aliado a idéia de que o Iraque era uma nação que abrigava o terrorismo. A guerra se iniciou e muito pouco se questionou os motivos trazidos como explicação, o mundo parecia mais preocupado com a duração da guerra do que em saber o que realmente estava fazendo aquelas nações lutarem.
A idéia central do documentário é alertar para concretização do discurso ditado pelo presidente Eisenhower à algumas décadas atrás, que já dizia que os interesses deste complexo podia intervir nos interesses da sociedade civil, podemos dizer que o estado de guerra permanente no qual os EUA criam e são obrigados a conviver não representa a vontade da sociedade civil, mas sim de um complexo industrial militar que se fortalece a cada ano, usando os sentimentos de medo e insegurança de uma nação para proliferarem seus lucros.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Universidades, transformações e as reformas religiosas do século XVI.

As transformações dos conhecimentos científicos esperados pela reforma ou muitas vezes explanados através de discursos históricos, são desmitificados ao perceberem que este procurou propagar suas doutrinas e os seus valores, assim como a igreja católica e as universidades administrada sobre seu currículo.

As criações de universidades calvinistas, luteranas e anglicanas, saíram do controle ideológico do papado, mais não de sua submissão ao controle estatal. Nesta linha de raciocínio as universidades não se separaram do seu doutrinário religioso para um sentido mais laico, e a produção dos saberes internos voltavam para a confirmação dos embates religiosos.

A importância da divulgação do conhecimento era essencial para a formação social, política, religiosa e cultural, de uma sociedade que estava se reformulando após a crise do final da idade média.

Quais princípios iriam nortear essa sociedade? Por que gerou uma grande quantidade de conflitos? O luteranismo, calvinismo, anglicanismo, catolicismo ou nenhum desses seria responsável pela transmissão dos valores, das virtudes, e dos conhecimentos necessários para a formação da nova sociedade. Para quem favoreciam determinado tipo de ensino? Para a nobreza aristocrata? Para a pequena burguesia mercantil ou para camadas populares? Todas estas perguntas refletem na formação desta sociedade européia indefinida, e muitas vezes caracterizada como um período transitório por análises posteriores.

Este dialogo que mencionamos accima trata-se de uma questão que reflete um espelho dessas fases de indagações sobre a sociedade e os conflitos gerados por estes. Assim temos mencionado no texto a expansão das universidades protestantes e seus conflitos internos entre luteranos, anglicanos, e calvinistas, localizada essencialmente dentro das regiões de sua formação, mais especificamente a Inglaterra. Já em paralelo, assim, a fim de conservar os seus preceitos, a reformulada igreja católica em sua recuperação, impulsionava a implantação de universidades nas zonas fronteiriças da cristandade, com claro objetivo de parar o avanço das universidades protestantes, sem esquecermos, aqui, de sua ação expansiva através dos jesuítas e sua catequese na América.

Em suma, o texto mostra a briga pelo poder de formar a alma humana, no sentido de prover suas idéias e gerar seus valores, conceitos e virtudes, na semântica de colocar um determinado padrão de sociedade, e a luta nesta situação, saía da esfera religiosa e entrava na complexidade de que tipo de sociedade sairia a partir dos saberes de determinados princípios. Entre os presentes na época estavam; anglicanos, calvinistas, luteranos, o católico ou um que saísse desse caráter religioso e fosse mais laico, e respeitasse a liberdade individual.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O envelhecimento moderno e as teorias oriunda da psicologia comtenporânea.

ENVELHECIMENTO “IDEAL” OU “BEM SUCEDIDO’, TEORIA DO DESCARGO DO EGO X TEORIA DA ATIVIDADE

O envelhecimento que geralmente se é enxergado como fruto de um fator biológico, quase como se fosse uma perspectiva natural, imutável e involuntária dos seres humanos, esconde na verdade as ressonâncias que se estabelecem nas interações sociais e como as influências e as experiências sociais agem sobre esse processo, alguns desses aspectos sociais influenciadores vem sendo abordados pela psicologia social contemporânea, apesar de que muito ainda há de ser revelado sobre esse tema, principalmente porque a subjetividade e a diversidade das reações que indivíduos dão em correlação as influências e das experiências sociais são inumeráveis.
A concepção de velhice se ramifica em seu aspecto natural, porém cabe-nos aqui dizer que essa naturalidade não é determinante, pois os efeitos oriundos dessa fase como; enfraquecimento dos ossos, déficits de memórias, perda de poder de regeneração imunológica entre outros, podem chegar mais cedo para alguns e mais tardes para outros, interferindo neste fator questões genéticas, emocionais, biológicas e sociais. A velhice social; que dentro de nossa sociedade ocidental capitalista neoliberal esta quase que entrelaçado ao afastamento dos idosos de dois fatores; da produtiva ou do seu trabalho e da função ativa na gerência do estado, aonde são elaborados mecanismo de “exclusão” como a aposentadoria compulsória e a isenção do voto após os 65 anos.
Quanto à velhice natural e a velhice social estão internamente entrelaçadas, interagindo de forma dialética exercem influência um sobre o outro, portanto é neste panorama que se tentar elaborar teorias que digam qual é a forma de enfretamento, comportamento, identidade ou ação “ideal” para lhe dar com esta fase da vida humana?.
Esta pergunta inquietante foi talvez o principal “leme” dos teóricos da psicologia do desenvolvimento social, que para estudar a velhice como objeto tiveram que partir de preposição necessária reveladora que nesses estudos não se estar em jogo a tentativa da psicologia de fomentar uma “formula perfeita” ou uma “receita de bola” perfeita capaz de lhe dar com todos os desafios advindos desta fase, mas sim de averiguar os diversos caminhos que os indivíduos traçam em reação as experiências sociais.
Neste sentido apesar de não existir o “ideal” de velhice, pois até por que essa implicação remitiria a negligência da subjetividade humana, porém podemos dizer que existe idealismos, ou seja, diferentes formas de enfretamento, comportamento, identidade ou ação humana construída através dos moldes em que a sociedade se organiza, exemplificando todo nosso discurso, vejamos; têm a concepção de velhice da cadeira de balanço ao redor dos netos, ou do idoso solitário intelectual que se refuga em seus livros usando a linguagem como instrumento de “viagem” ao mundo ou ainda o do idoso ativo que trabalha meio expediente e pratica atividades físicas ou religiosas como um forma de enfretamento ou comportamento as adversidades oriundas dessa idade.
Entre tantos modelos a escolher os psicólogos acabaram estabelecendo dois caminhos que possam levam ao idoso a satisfação e a superação dos desafios que chegam neste período, que se trata da teoria do desencargo do ego versus a teoria da atividade.
Apesar dos modelos serem contraditórios e um implicar praticamente na anulação do outro, podemos ao emitir uma opinião pessoal que dentro desse jogo de força existente entre essa duas teorias, seria extremamente interessante se estabelecesse o equilíbrio entre esses dois pólos de vez da confrontação, mais lógico que isso se trata de uma opinião pessoal, ainda não temos embasamentos científicos para tentar desconstruir essas teorias da psicologia psicossocial ou talvez tenhamos e não sabemos.
A teoria do desencargo do ego se elucida na premissa da aceitação da morte de forma positiva, sendo este indivíduo desencarregar do seu ego todas as dúvidas, angústias e incertezas que atormentam os idosos nesta fase, perguntas como; Será que minha vida teve sentido? O que eu fiz da vida? Será que eu podia fazer diferente? Podem fazer o idoso entrar em um estado patológico psicológico mais grave influenciando fortemente sua saúde e suas relações sociais.
Neste sentido a teoria do desencargo do ego procura da ênfase as interações sociais mais íntimas estabelecidas dentro do circulo familiar, aonde para estes teóricos são as formas como as pessoas se relacionam dentro do seu ambiente familiar que irá contribuir para o sucesso ou não dessa aceitação positiva da morte. Assim pessoas que tiveram suas relações familiares desde cedo destruídas tendem a sofrer mais o impacto desta premissa involuntária que é a consciência da morte e as pessoas que tiveram a sorte de terem famílias bem estruturadas tendem a lhe dar positivamente sobre a consciência da morte.
Em sobreposto a esta teoria do desencargo do ego existe na psicologia do desenvolvimento psicossocial a teoria da atividade. Primeiramente podemos dizer que esta teoria diferentemente da explicação da teoria do desencargo procurou dar ênfase na relação de função e de atividade como uma forma de superação desta consciência da morte, elucidando suas bases conceituais através da idéia de continuação ou prolongamento das relações externas advindo com consentimento produtividade.
Neste modelo o sentimento de inutilidade, fraqueza e a perda do papel social do idoso na sociedade são os verdadeiros causadores que contribuem para uma aceitação negativa desta fase, levando o idoso a pensar; Eu sou velho demais para fazer essas coisas? Não se preocupa comigo eu não sirvo mais para nada mesmo? Eu bem gostaria de fazer aquilo mais minha idade não deixa? Todos esses questionamentos levam o idoso a uma acomodação, uma conformação e ao um sentimento autodestrutivo que arrestam os idosos a casos patológicos graves.
Portanto os defensores desta teoria criticam de forma contundente a maneira excludente em que os idosos são tratados pela sociedade contemporânea capitalista, quase como se fossem “cargas” a serem levados pelos mais jovens e lutam bravamente pela necessidade de criação de políticas públicas que incentivem os idosos a manterem sua produtividade no trabalho ou pratique atividades físicas, culturais ou religiosas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA E O VERMELHO E O NEGRO (RESENHA)

Antes de qualquer assertiva, podemos dizer que O Vermelho e o negro[1] é uma obra clássica do gênero romântico do século XIX, retrata com grande veemência e com riqueza de detalhes o cenário histórico em que a sociedade Francesa se encontrava após a queda de Napoleão. Traz de fundo os conflitos políticos entre os liberais dispostos a consolidar uma república burguesa, contra uma tentativa de contrapartida da população menos favorecidas de instaurarem princípios mais democráticos na república Francesa em meio à primeira metade deste século.
Essa obra prima consegue dar ao leitor a sensibilidade literária de enxergar os diversos comportamentos presentes no cotidiano daquela sociedade. Com grande realismo, Stendhal, pseudônimo de Marie-Henry Beyle, consegue descrever os sentimentos e as emoções presentes numa época marcada pela perda dos valores morais e pela ascensão da ambição e da riqueza material dos homens.
Primeiramente para entender a lógica dissertada pela obra, se faz necessário anteriormente laçarmos “luzes” sobre a vida do autor em questão. Marie-Henry Beyle ou Stendhal teve sua origem na cidade Grenoble (França) em 23 de janeiro de 1783. Estudou muito jovem, mais precisamente aos dezesseis entrou na École Centrale de Grenoble, sendo reconhecido dentro desta instituição pelo seu brilhantismo intelectual.
Logo não demorou muito para que Marie-Henry Beyle ambicionasse atingir com seu brilhantismo as praças intelectuais da capital Paris. Tinha de principio a intenção de se matricular na Escola politécnica. Neste período semeou para dentro de si os ideais republicanos e anticlericais contrários a sua realidade provinciana mais conservadora em Grenoble.
Entretanto devido as suas péssimas condições financeiras teve que se lançar intensamente na carreira militar, participou com grande firmeza da campanha Francesa na Itália como subtenente do VI regimento de Dragões. Foi na Itália que Marie-Henry Beyle pode estudar e freqüentar teatros, museus e galerias. Sempre que possível durante suas incursões militares anotava todas as observações que sua vida tinha lhe proporcionado a ir tão longe de sua aspirada Paris.
Terminado a Campanha militar, Stendhal pode finalmente ingressar em Paris e procurou delinear como seu principal objetivo naquele momento, torna-se um autor dramático, porém ainda teve problemas com as condições financeiras e teve que voltar à carreira militar, mais adiante conseguiu para si alguns cargos públicos, quando morreu em 22 de Março de 1842, era Cônsul em Civitavecchia. Marie-Henry Beyle Tornou-se especialista no gênero romântico, e suas obras são consideradas clássicas deste estilo literário.
Neste breve sinopse sobre a vida do autor do Vermelho e o Negro, podemos nos atrever, sem lógico de dizermos aqui que não estarmos à margem de qualquer erro, a fazer uma reflexão construtiva ou uma ponte crítica que possa existir na relação entre a figura de Julien Sorel, principal personagem da obra e a vida pessoal de Stendhal que acabamos de descrever.
Parecermos aqui muito similar que ambos, Julien Sorel e Stendhal tenham partido de uma província Francesa em direção a Paris, não será mesmo? E que ambos respectivamente tinham uma capacidade cognitiva acima da média, pois Julien Sorel sem muita dificuldade aprendeu o latim e decorava trechos de páginas inteiras dos jornais, e por incrível que pareça que essa comparação inocentemente começa a se confirmar, é que ambos se esbarraram na condição financeira do seu nascimento. Parece ser muito coincidência para dizermos que foi apenas uma obra do acaso ou não?.
Podemos dizer que a figura de Julien Sorel não se trata na verdade do próprio autor transfigurado dentro de sua própria história? Pergunta emblemática essa que montamos. Podemos ratificar como argumento verídico de nossa comparação entre Julien e Stendhal, Ao levarmos em conta a forma como o autor já no meio do livro começa a se deslizar-se e a perdesse ao se referir a Julien Sorel com a palavra Herói, ou melhor, como nosso herói, no qual como podemos vê nitidamente no trecho abaixo que selecionamos;

“ Os primeiros passos de nosso herói[2], que se considerava tão prudente, foram como a escolha do confessor, leviandades. Arrebatado por toda a presunção de ser um homem imaginoso, ele tomava suas intenções por fatos e supunha-se um hipócrita consumado.” [3](STENDHAL, p: 174)

A figura do herói em volta da imagem emblemática de Julien não poderia na verdade ser o próprio autor tentando se auto-gloriar de sua vida através de seu romance? Sendo este personagem o seu reflexo na história?. Certamente não conseguiremos achar respostas dentro do livro, pois entramos no jogo da subjetividade, aonde se houve intenção de Marie-Henry Beyle de fazer ou não fazer isso, só o próprio, poderia nos responder com veemência, e nas minhas pesquisas não encontrei nenhum texto seu que afirmasse que Julie Sorel fosse seu espelho na historia do Vermelho e o Negro.
Seria bastante intrigante se aqui buscássemos colocar a imagem de Julien Sorel associado a determinado lado no conflito político que aconteceu durante todo o cenário da história. Julien Sorel poderia ser um liberal? Um moderado? Ou simples camponês revoltado? Mais uma vez deixo nítido que o que irei descrever trata-se de uma opinião pessoal e conseguintemente esta passível de erros.
Ao analisar a figura de Julien Sorel, Eu me sentir extremamente indisposto e a angustiado, pois não conseguir enquadrá-lo em nenhum dos padrões partidários que explanei logo acima, para mim Julien não era nem liberal e nem moderado e nem muito menos um camponês revoltado, por mais que este último possa ser-lhe atribuído a ele devido a sua origem provinciana na cidade de Verrières.
Julien Sorel durante toda sua trajetória histórica se permeia através de laços de compromissos e de relações de forças com os mais diversos grupos sociais de sua sociedade, contratando durante toda sua caminhada, quase como sempre, com a triste realidade de ter sido filho de um carpinteiro provinciano.
Entretanto sua relação conturbada com seus irmãos e com seu pai, pequenos camponeses inseridos no comercio de madeira provinciana, fazia-lhe ter certo desgosto pelo estilo rústico e grosseiro em que seus familiares levavam a vida, pois apesar de no final de sua vida já no calabouço dirigido a ser guilhotinada, tenha admitido para si mesmo o mérito do pai sobre os nobres das sociedades que tinha vivido em Paris, quase lhe colocando como superior, este ideal camponês não cairia bem para Julien Sorel que rejeitava a visita do pai durante todo tempo que esteve na prisão.
Julien Sorel talvez fosse um homem que não se permitia ser encaixotado como um ser de “essência” permutou de opinião varias vezes durante a história, sua crítica ao nascimento e a sociedade de castas francesa em Paris traz consigo também os elogios aos seus costumes e os jeitos “civilizados” que estes se relacionam, principalmente em meio a grosseira burguesa transfigurada em figuras como do Sr Valenod.
Compreendeu como ninguém a forma como a nobreza estruturava suas formas de relações, entendia aquilo que chamou de “espírito” ou polidez nobre, sendo a necessidade de criar uma espécie de “identidade” própria desta casta, que a distinguia sobre as demais classes. Entretanto somava se a esse requisito aquilo que era essencial ao nobre, que era ter um bom nascimento.
Podemos reparar que várias vezes durante a história, a imagem de Julien vai ser considerada como de uma alma “nobre“, sem lógico nos iludirmos em dizer que este tivesse algo de nobreza, pois sabemos da hipocrisia que movia o “espírito” de Julien, principalmente pela sua ânsia em ascender socialmente independente dos meios que iria usar para atingir.
Talvez por essa gana de querer ascender socialmente de forma rápida e a qualquer custo, que este, não procurou “tomar partido” nesse conflito político e filosófico sobre os direitos dos nobres, apesar de achar abominável a idéia de superioridade que estes tinham sobre as demais classes.
Durante sua trajetória Julien foi vítima e prejudicado diversas vezes por este princípio que diferenciava os homens, inclusive a morte dele (Julien) foi um pouco relacionada a esta questão das castas, pois se aqueles que inocentemente pensarem no caso de suposição que se Julien fosse nobre de nascimento a história teria um final feliz, cassando tranquilamente com Mathilda, estão demasiadamente equivocados, pois o mesmo (julien) não se admitia ser feliz vivendo sobre tal conduta nobre.
Julien detestava e até odiava a forma como os nobres mantinham sua amizades, ou melhor, como muitas vezes é aparecido no livro através dos contingentes de seus “salões de falsas amizades” estando isto acima de toda sua moralidade, entretanto entedia que era o maior número de relações influentes que determinavam o nível de poder de cada nobre, ou seja, o poder está na relação. Julien passou toda sua estadia no palácio do Sr. La Mole para compreender essa implicação, e exatamente por isso procurou como objetivo entendê-los primeiros que criticá-los ferozmente.
Uma passagem muito interessante sobre a postura de Julien pode-se relatar através de um jantar acontecido no palácio de La Mole quando o mesmo (julien) indagado sobre certo filosofo por Mathilda elabora de certa forma exagerada uma assertiva crítica aos críticos da alta sociedade, porém mesmo sendo ele um, perpassando de forma nítida sua hipocrisia de forma muito bem realista.
O seguinte trecho faz menção a J.J. Rousseau e sua obra Contrato social, vejamos:
“ Uma palavra atingira a imaginação de Julien, afastando dele qualquer ilusão. Sua boca exprimiu um desprezo qualquer talvez um pouco exagerado.
- J.J. Rousseau – respondeu ele – não passa, para mim, de um tolo, quando se põe a julgar a alta sociedade; ele não a compreendia, e nisso tinha uma alma de Lácio parvenu.
- Ele escreveu o Contrato social – disse Mathilda, num tom de veneração.
- Enquanto prega a república e a destruição das dignidades monárquicas, esse parvenu embriaga-se de felicidade se um duque muda a direção de passeio depois do jantar para acompanhar um dos seus amigos”[4] (STENDHAL, P: 273)


Antes de falarmos dessa crítica de Julien a Rousseau, temos que nos referimos ao termo parvenu usado por ele. Esta palavra francesa extremamente pejorativa se referia aos indivíduos que ascendiam socialmente além de sua classe, estes, eram mal visto perante os olhos da alta sociedade, quase como se fossem possíveis revolucionários, e certamente encabeçavam as fileiras dos liberais, sendo estes em boa parte de sua maioria burguesa, ou seja, burgueses que ganhavam títulos e cargos dos governos como; as prefeituras e governadores de determinados departamentos franceses, como o caso do Sr. Valenod no final do livro.
Julien criticou Rousseau por desconhecer completamente as formas como se relacionavam os nobre e principalmente por este desconhecer como esta alta sociedade se organizava estruturalmente. Julien explanava que era através de um “espírito” ou uma polidez de costumes, refletido através de práticas como o duelo, por exemplo, ou até sua forma política de relação e compromissos, aonde os salões mais cheios representavam maior reputação entre os “iguais” eram na verdade a lógica como estava organizada a nobreza de Paris nessa época, porém para Julien Rousseau não enxergava isto.
Sua assertiva foi mais a fundo a questionar o caráter revolucionário de Rousseau, indagado se o mesmo não abandonaria seus princípios em troca da proteção e/ou dos privilégios que um nobre pode oferecer, assim como ele próprio tinha feito a seguir a carreira de secretario de um nobre da corte, para ele o que importava era a ascensão meteórica e a riqueza, a moralidade estava em segundo plano para Julien.
Essa característica de ascensão meteórica, riqueza a toda custo e falta de moralidade, coloca julien, na minha humilde opinião, como possuidor de certo “espírito” burguês, pois apesar de não ter a propriedade e nem o capital característico de um burguês numa concepção mais clássica e de se recusado a fazer logo de inicio do livro uma associação de comércio com seu amigo Fouqué, Julien não tinha a vontade ser apenas mais um trabalhador braçal de sua pequena cidade provinciana em Verrières. Aspirava ter riquezas para produzir de acordo com o que seu mérito fosse capaz de lhe dar, falta-lhe na verdade um capital introdutório ou um crédito de base, que buscava através da venda dos seus serviços intelectuais, seja como protetor dos filhos da Sra. Renal ou como Secretario do Sr. La mole.
Certamente o ponto mais interessante que tenho desta minha suposição, esta quando eu menciono que existe certo “espírito burguês” em volta de Julien, de fato isso é realmente intrigante, pois acredito que a burguesia ainda não tinha a forma e nem as práticas definidas, portanto não havia ainda práticas que realmente delinear-se o que era ser um burguês no inicio do século XIX, não podemos ser anacrônicos em querer transportar nossos conceitos de burguesia atual ao que estavam sendo evidenciados ainda de que forma tímidas no inicio deste século XIX.
Entretanto se a burguesia não tinha práticas delineadas no momento, a nobreza também via suas práticas se modificarem à medida que este século XIX se desenrolava, a preocupação com a renda e o medo do empobrecimento seria impensável nas cortes dos séculos XV e XVI, a necessidade de controlar os gastos e de terem funcionários remunerados não existia nas mentalidades de seus antepassados.
Na verdade a nobreza deste século não era nem de longe aquela que tempos atrás tinha os poderios incalculáveis. A coragem e a virtude que outrora fazia esta classe mandassem em tudo e em todos com seu poder não se via mais. Sua coragem, ou melhor dizendo, sua prudência neste século, via-se reduzida ao medo de uma revolução republicana e do terror de perderem todas suas riquezas, tinham medo também dos lacaios e dos seus empregados, tinham medos dos Parvenu, estavam encolhidos e conspiravam formas de reverter esta situação.
Podemos evidenciar esta situação calamitosa em que se encontrava a nobreza através de certo “saudosismo” explanado pela personagem Mathilda que ora por outra ressaltava os valores de seus antepassados, não só como uma forma de auto-afirmação de sua casta, mais também como uma crítica aquela nobreza presente sem brilho em que ela enxergava através dos salões, vejamos;

“Oh!, pensava Mathilda, era na corte de Henrique III que se encontravam grandes homens, não só pelo caráter como pelo nascimento! Ah! Se julien tivesse servido Jarnac ou em Moncontour, eu não teria mais duvidas. Nesses tempos de energia e de força, os franceses não eram bonecos. O dia da batalha era quase que o de menores perplexidades. Suas vidas não estavam aprisionadas, como uma múmia do Egito, em um invólucro comum a todos, sempre igual.”[5] (STENDHAL, P: 312)

A nobreza francesa deste século assistia aterrorizada a ascensão do Parvenu, ou seja, burgueses que lhe tomavam os cargos públicos e o controle políticos dos departamentos franceses, e mesmo que muitos destes burgueses ainda se submetessem a lógica das castas e aceitasse sua “inferioridade” perante os nobres, o “fantasma” do ideal inglês de 1688 rondava as cabeças dos mais severos conservadores. Na verdade era a possibilidade de a frança ter os seus princípios monárquicos sendo colocados abaixo de uma constituição e de um poder legislativo que fazia que estes nobres temessem toda hora pela sua situação.
A França dividida entre dois partidos era para a nobreza um grande paradoxo em seu imaginário. Neste panorama político a nobreza enxergava que a menos que seu partido moderado conseguisse esmagar as forças e os ideais contrários propagados através dos jornais republicanos, e de filósofos como Rousseau citado na obra que com seus ideais iluministas propagavam influências sobre as opiniões de imprensas e das juventudes mais liberais jacobinas, e que só assim era possível se manter esta estrutura partidária atual.
No insucesso disto, os nobres teriam que se preparar, portanto, a mão de recorrer para uma idéia mais conservadora ou restauradora, que seria eliminar essa conjuntura partidária oriunda desde 1789. Voltando se isso era possível se pensar ainda, aos tempos dos regimes absolutistas inspirado na imagem de Luís XIV ou até mesmo mais anterior.
Pondo em vista isso Nada mais interessava para estes nobres, as propostas jacobinas, girondinas, liberais ou conservadores, pois estas só lhe chamavam atenção pelo seu caráter imediato. Na verdade queriam restituir o que achavam que eram naturalmente dito como seu de direito enquanto classe; o poder. Não estavam dispostos a ficar disputando como um partido prefeituras ou sub-prefeito de determinados departamentos franceses, os interesses da classe viam na frente do partido.
Neste enquadramento das diversas forças políticas atuantes deste século, é necessário explanar um pouco sobre a forma como a igreja católica é retratada neste livro. A Primeira menção correlacionada a esta instituição está logrado quando Julien decidiu logo de inicio da história se tornar padre, principalmente por causa da riqueza e do prestigio que o cargo lhe poderia trazer.
Na verdade logo já em sua pequena cidade o cura que lhe ensinou latim já indagava ao futuro seminarista a leviandade que a carreira poderia lhe causar, e que dificilmente ele poderia juntar riqueza sem que tivessem ceder favores para determinados políticos locais.
Ao sair da sua cidade provinciana em direção ao distrito de Besançon para dedicar-se aos estudos no seminário, julien contrastou com uma realidade bastante conflitante. Na verdade existia uma “intriga” secular entre os janselistas mais conservadores e os da congregação do coração do bom Jesus, que eram mais liberais. Na verdade os padres se comportavam quase como quem se estivessem em clima de “guerra invisível” por postos eclesiásticos, e o diretor-geral que era janselista e amigo de julien, sofreu diversas vezes os ataques por parte desta ala mais liberal. Muitas destes ataques caiam na figura de Julien, que era considerado como seu pupilo dentro deste seminário.
A vida de Julien no seminário é bastante intrigante, sua postura indiferente diante da maioria dos seminaristas que geralmente eram pobres camponeses com estilos rústicos, fizeram torna-se diferente dos demais e muitas vezes perseguidos pelos companheiros, parece que as mudanças vindas dos conflitos políticos, começavam a se interpenetrar dentro da igreja católica e refletida através de suas práticas.

Voltando para o cenário conflituoso que estávamos descrevendo, tem uma parte muito interessante e minuciosamente explanada no livro quando Sr La mole convida julien ao que parece ser um encontro partidário ou uma convenção de classe, é interessantíssimo quando os membros deste ilustre encontro pedem para que Julien se afaste das mesas de discussões, quase que acusado-o ou mesmo temendo que o mesmo seja um “espião” liberal, mesmo sendo ele o encarregado de levar as decisões ali colocadas para as províncias mais afastadas da capital, neste caso a informação eram destinadas a Strasburgo. Vejamos;
“ – Sr. Sorel – disse o duque - , retire-se para a sala vizinha; depois mandaremos chamá-los.
O dono da casa tomou um ar de inquérito:
- os postigos não estão fechados – disse ele a meia voz para seu vizinho. – será inútil olhar para a janela – gritou totalmente a julien[6].
Eis-me metido, no mínimo, numa conspiração, pensou este. Felizmente ela não é daquelas que conduzem à praça de Grève. Ainda que venha a ser perigosa, eu devo não só isso, mas muito mais ao marquês. Espero que me seja dado reparar todo o desgosto que minhas loucuras ainda lhe darem um dia[7]. (STENDHAL, P: 360)

A nobreza passa a ter medo de suas relações com os outros membros da sociedade, sendo assim, seu criado, seu cabeleireiro, seu secretário passam a ser vistos a qualquer hora do dia como possíveis ameaçadores da ordem, podemos dizer que dentro do imaginário desta nobreza o controle já começava a se desvanecer à medida que o mesmo temia a reação daqueles não nobres.
Estes nobres enxergavam talvez que os ideais oriundos deste século estavam em plena mudança e o inicio desta transformação tinha iniciado justamente em sua Paris, quase como se fosse um centro propagador de difusão de princípios republicanos e liberais por todo globo, inclusive tendo repercussão nas colônias americanas. O auxilio de outras cortes era a ultima saída desta nobreza francesa recuada, porém boa parte das cortês européias se encontravam em baixas condições financeiras, e os nobres ingleses não estavam dispostos a ajudarem depois daquilo que Napoleão tinha feito no passado.

Mais saindo desta observação das práticas definidores de burgueses e nobres no início do século dezenove. Poderíamos pensar que a hipocrisia e a dissimulação de Julien Sorel durante toda obra poderia ser um mecanismo de ataque a aqueles princípios monárquicos, pois era através do seu mérito pessoal que ele conseguia mostrar para aqueles senhores que era tão capaz e “civilizado” quanto eles, era talvez uma forma indireta de atacar esta classe demonstrando toda sua intelectualidade e sua capacidade, incomodando com o seu brilhantismo.
Através deste mecanismo de hipocrisia e dissimulação de se inserir perante a alta sociedade de Paris, pois odiava os modos de relacionamentos daquela sociedade nobre, Julien contrariava a lógica que somente determinadas castas tinham a capacidade de possuir determinados cargos, não podemos esquecer aqui também que seu ídolo inspirador era Napoleão, adorava-o quase como se fosse um Deus.
Neste sentido, julien por tramar uma estratégia de ascensão e de viver com seus possíveis “inimigos” cordialmente, mesmo que de forma hipócrita, pode agir de uma forma indireta para a queda dos princípios monárquicos que os mais tarde os levaram a morte. A impressão que dar é que quando foi colocado por Stendhal que julien vai ser um herói usando a palavra, tivesse o autor em mente que este herói seriadesta burguesia em ascensão do século dezenove, e se Napoleão usou as armas neste combate, julien Sorel usou seu mérito e sua inteligência nesta batalha.
Entretanto este resumo estaria incompleto se não abordássemos os signos e os significados das paixões que envolveram julien Sorel com duas personagens que estavam acima de seu nível social, que foram a Sra. de Renal e a Sra. Mathilda.
A paixão entre indivíduos entre níveis sociais diferentes sempre alimenta muita atenção e curiosidade, pois entre o amor destes quase como sempre nesse tipo de romance é separado ou divido pela questão da casta.
Quanta vez não ficou visível que julien repudiava a Sra. de Renal por achar que ela o tratava como um criado ou um amante qualquer, assim como Julien suspeitou em por boa parte da história do amor de Mathilda, achando que o mesmo se fazia por uma suposta conspiração para acabar com sua promissora carreira.
Talvez as características mais marcantes em quase todos estes romances nos quais os personagens são marcados pelas distinções sociais de origem, são os comportamentos das mulheres. Geralmente são as mulheres que são os seres mais dotados de sensibilidades e sujeitos a irem de encontro contra seus próprios princípios em nome do amor, elas abandonam riqueza, prestigio, e até os privilégios de sua classe. Já os homens pelo seu lado quase nunca são dotadas deste aspecto, são mais duros, frios e passam muitas vezes por insensíveis, calculam cada passo e dificilmente se perdem por uma paixão.
Esse tipo de romance dependendo do final, poder ter significado distinto, no caso de nossa obra em questão o final é trágico e o seu significado será crítico. Poderíamos aqui dizer que quando as histórias de romances têm um final feliz, se entendem geralmente que todas as adversidades que foram encontradas na história foram superadas e/ou acabaram perdendo importância em nome da velha máxima que o amor é capaz de superar tudo e a todos e torna-os iguais, perante o sentimento (bem sentimentalista), independentes de crença, raça, cor e distinção social.
Entretanto quando os romances acabam em um final trágico vem-se revelar uma crítica ao contexto histórico que neles se encenavam ou representavam. No vermelho e o negro, a crítica seria voltada a sociedade de castas, ao principio do nascimento, e ao não reconhecimento do mérito como uma forma distinção entre os homens, e uma crítica também a ambição e a busca alucinada pela riqueza material.
Este será os princípios que não deixarão julien ter um final feliz, é agonia de um homem que viveu neste principio deste século que se inquietava com a realidade que lhe circundava e não era capaz de vê-la de forma feliz.
Não podemos esquecer que em boa parte quando esteve preso julien acreditava ter assassinado a Sra. de Renal, e acabou admitindo para si mesmo que não fez aquilo só por ciúme, mais também pela perda da riqueza que tinha conquistado após o pai de Mathilda ter-lhe dado o cargo de tenente de um batalhão francês. Quando a carta da Sra. de Renal acabou com sua reputação desmoralizando o seu caráter para o pai de Mathilda, seu encheu de ira por ter perdido tudo que já tinha conquistado.
Em minha opinião, e deixando mais uma vez nítido que estou passível de erros, O vermelho e o negro trata-se de uma obra romântica que procurou fazer de uma forma crítica e realista uma descrição complexa dessas diferenças sociais existentes na sociedade francesa do século XIX, Stendhal traz através dos sentimentos e das emoções a subjetividade, que como homem do seu tempo, nenhum historiador contemporâneo pode alcançar.
Talvez a ultima significação que nos resta explanar trata-se das relações de poderes que se relataram no final do livro. Julien quando foi preso recebeu a visita de seus amigos que através de diferentes formas procuraram salva-los da guilhotina, porém enquanto seu amigo, um pequeno proprietário lhe dava a proposta de vender todos os seus bens para subornar o carcereiro da prisão, Mathilda, uma dama da alta sociedade, contratou um advogado e usou de sua influência como nobre para reverter à decisão dos jurados, oferecendo altas quantias.
Fica assim visível e simbolizada nesta parte, que o poder não esta na lei, mais sim nos mecanismos e nas relações que as fazem serem executadas. Julien só foi condenado devido ao ciúme que Sr Valenod uns dos jurados de seu julgamento por ter sido rival de julien no amor pela Sra. Renal, aliado ao fato de este ter garantias que se tornaria teria o governador de Besançon, influenciou os demais jurados para seu veredicto, fazendo um vingança pessoal, porém vale-se salientar por mais que julien fosse culpado mesmo, a lei não foi o que decidiu o destino de Julien, mais as relações em volta do poder.


REFERÊNCIA

Stendhal, O vermelho e o negro; tradução: Souza Junior e Casemiro Fernandes. São Paulo. Abril Cultura. 1979.

1. Stendhal, O vermelho e o negro; tradução: Souza Junior e Casemiro Fernandes. São Paulo. Abril Cultura. 1979.

[2] Grife e Negrito Nosso.
Capitulo XXVI – O mundo, ou o que falta ao rico.

[4] Capitulo VIII, Segunda parte – Qual é a condecoração que distingue?.
[5] Capitulo XIV, Segunda parte – pensamentos de uma donzela.
[6] Grife e negrito nosso.
[7] Capitulo XXII, Segunda parte – a discussão.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Os Absolutismos do Ocidente e do Oriente: Aspectos e Transição.

O absolutismo do ocidente caracterizado pela formação de uma máquina estatal cortesã que procurou, de certa forma, compensar a perda da soberania parcelar dos senhores feudais e os seus poderes sobre o campesinato servil, será bem diferente daquele instaurado no leste europeu, em países, como; Prússia, Rússia, Suécia, Polônia, entre outros.

Uns dos aspectos que os diferenciaram começam pela própria concepção do estado absolutista do leste que, diferentemente do ocidente, não será formado por uma máquina estatal cortesã, e nem os senhores feudais do leste perderão os seus poderes de coerção para o estado.

A explicação para tal diferença numa abordagem marxista se resume na existência de uma pequena camada burguesa pré-existente no ocidente desde da pequenas feiras medievais dos burgos, que terão uma forte ressurgência no período da formação do estado absolutista.

Assim o desenvolvimento das cidades, o aumento do comercio e o intensivo processo de monetarização, contribuíram para evasão do campesinato rural e tiravam o poder de fixação da mão-de-obra centralizado nos senhores feudais. As relações vassálicas já não davam conta do processo histórico dessa sociedade, e uma nova forma de imposição sobre o campesinato era necessária para restabelecer o ordenamento das classes.

É daí que surge à transposição da coerção política, se a servidão não dava mais conta, os tributos e os impostos régios de uma monarquia centralizada seriam responsáveis por esse trabalho. Em troca desta perda criou-se uma máquina estatal burocrática e os cargos criados por isto, serão ocupados por esta nobreza que, assumindo esses cargos, gozarão de privilégios nesta sociedade, levando acima de tudo uma vida de ostentação, pompa e luxo.

Estas são as linhagens do estado absolutista do ocidente, que será bem diferente do oriente, que neste caso, não tiveram em sua formação a existência dessa pequena burguesia comercial que atraiu o campesinato. A formação do estado absolutista do leste será formado por uma forte opressão da classe nobre sobre a camada servil, que após a crise do final da idade média verificará a formação de uma segunda servidão.

E o estado absolutista do leste será formado na urgência de uma máquina estatal militar, devido aos intensos conflitos presentes na região, como, a guerra dos trinta anos e as incursões dos turcos otomanos, e sem dúvida o intenso perigo político das monarquias absolutistas ocidentais mais avançadas economicamente, representavam um perigo a soberania das monarquias orientais. Diferente da nobreza cortesã da pompa, luxo e ostentação ocidental, a nobreza do leste será uma nobreza de serviços, e não existirão tantos privilégios sociais da nobreza do leste pelo fato de pertencerem ao estado absolutista.