quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Heisenberg, Wittgenstein e a História, Síntese: Rachar as palavras: ou uma história a contrapelo (Antonio Torres Montenegro)


O artigo do professor, Antonio Torres Montenegro intitulado, Rachar as palavras: ou uma história a contrapelo, traz como cerne de sua temática as ressonâncias e as inter-relações existentes entre os diversos campos de conhecimentos e suas produções teóricas, discutindo as influências da teoria da física quântica de Heisenberg e da visão matemática de Wittgenstein dentro das ciências naturais e das ditas humanas.
Nesta perspectiva, o pensamento do autor, procura estabelecer pontes através das produções teóricas de diversas áreas, como também, discutir as repercussões que certos pensamentos teóricos podem produzir dentro de um campo de conhecimento distinto do seu, sendo isto, capaz de influenciar e de até determinar limites em outras áreas.
Partindo de sua admiração pelo pensamento do filosofo pré-socrático chamado, Heráclito de Efeso, do qual sua apreciação por este pensador parte da sua cosmologia do movimento e do seu principio universal explicador representado pelo fogo, o artigo traça as linhas do desenvolvimento do pensamento cientifico, usando como “divisor de águas” a formulação do pensamento cientifico desenvolvido por Descartes.
Aplicabilidade do método científico que desconsiderava qualquer conhecimento que não fosse produzido sobe seus moldes como algo válido, trouxe fortes implicações para outras ciências que não utilizavam e nem tinham em suas bases maneiras ou formas de utilizar a mesma lógica exposta pelo método cientifico.
As conseqüências desta imposição esta exposta na historiografia positivista, que influenciada pela idéias de Augusto Comte, e suas três leis gerais para se chegar a verdade, irão colocar a história como uma narrativa de fatos verdadeiros, minando qualquer tipo de subjetividade presente pelo historiador ou por sua linguagem.
Nesta linha, a história procurou ter a mesma objetividade e clareza das ciências naturais e seu método cientifico, e neste caso, a crescente importância das ciências naturais, influenciava uma reação por parte dos estudiosos e filósofos das ciências humanas, que sem muita criatividade acabavam repetindo ou tentando transferir o mesmo método de um campo para outro, valendo-se a ressalvar aqui, a um grande pensador que foi de antemão a este imitação metodológica, que foi Giambatista Vico, e o seu anti-cartesianismo, propondo um método próprio para as ciências sociais, deixando para trás, o evidente, do método cientifico, em sua obra: por uma ciência nova.
As implicações do método científico abrangeram além do limites de um debate interno entre as ciências e os pensadores intelectuais, foi visivelmente refletida através das transformações políticas, econômicas, sociais e culturais acontecidas, principalmente após a revolução industrial e francesa. O racionalismo explícito no método cartesiano tornou-se hegemônico na construção de uma nova sociedade que não terá mais como base os princípios ideológicos ou morais, como por exemplo, nos tempos medievais do ocidente europeu.
A realidade agora apresentava através de um novo método cientifico, a capacidade de explicar tudo por meio da razão, e sua nova forma de se trilhar a verdade, sendo esta, a verdade; absoluta, clara e evidente, era improvável de questionamentos ou incertezas, pois se não, não seria ciência.
Este determinismo traçou um separamento, e uma cisão entre a ciência e a filosofia, marcando uma nova era para humanidade, esta, caracterizada pelo progresso e pelo desenvolvimento cientifico, tendo neste momento histórico como principal combustor, o capitalismo e o seu ideal liberal.
Com este especificidade da explicação do real, as dimensões materiais obtiveram maior destaque, deduzidos através de expressões matemáticas e de relações de causas e efeitos. No âmbito da produção historiográfica, a interpretação do documento passou a ser uma mera descrição narrativa, e só sendo considerados como verdadeiros, os documentos oficiais, como se estes, pudessem da a clarividência ou a verdade sobre um acontecimento. Neste sentido os historiadores terão como missão, buscar métodos que provem a veracidade dos documentos oficiais, já que provas orais eram consideradas altamente deturpadoras e imprecisas.
Entretanto no século XIX, duas teorias irão abalar a racionalidade do mundo moderno, assim o método cartesiano não será mais a única explicação sobre a realidade. Einstein e a sua teoria da relatividade provaram matematicamente, que o tempo e espaço não são absolutos, portanto o tempo que vivemos não pode ser deduzido da forma cartesiana, pois este, o tempo, não é absoluto, e nem muito menos imutável, sendo variável de acordo com a velocidade, aonde o tempo e espaço que devemos calcular variam, portanto os fenômenos terrestres não decorrem da mesma forma fora dela.
Heisenberg, através da física quântica e da teoria da incerteza, vai estudar os movimentos dos átomos dentro das células de cada objeto, verificando que seu movimento não pode ser ditado por leis matemáticas, quebrando assim mais uma vez o principio cartesiano, do qual, seria possível descrever a realidade através de expressões matemáticas.
Outra visão bastante interessante ressaltado no artigo trata-se da idéia de Wittgenstein, sobre a matemática e suas preposições, pois no pensamento deste matemático, a matemática é uma invenção, construída através de expressões gramáticas, enfim existe através das imaginações e criações de situações e símbolos, que somente a eles, a lógica matemática pode oferecer alguma verdade.
As ressonâncias destas novas teorias implicam agora em novas explicações sobre a realidade, se tínhamos, com o método cientifico e o racionalismo de descartes a explicação única da realidade, com a teoria da relatividade e a física quântica, temos no momento, três “chaves” para explicar a realidade.
A ruptura com o determinismo do modelo cartesiano, no qual, reprimia as ciências humanas a uma esclerose de comprovação e de prova de tudo que se era produzido, abriu uma nova atmosfera para a produção historiográfica, que busca através da linguagem rachar as palavras e todos os seus conceitos produzidos anteriormente e constantemente.
Os discursos históricos produzidos até então, e ditos como inquestionáveis, passam a ser apenas uma representação do real, do fato, da história, sendo passível de refomulações e reconstruções através das palavras que os compõem e multiplicam seus sentidos a cada instante, inundando a realidade através de visões semânticas, individuais ou coletivas.
Contundo os diferentes sentidos e semântica do discurso histórico bate no contraponto das relações de forças e da vontade dos indivíduos de estabeleceram um padrão único de explicação, de entendimento e de compreensão da realidade histórica. Compreendendo apenas um ponto de vista da história, construindo assim uma história através do campo da força, da imposição ou uma história a contrapelo.
O autor procura esclarecer suas idéias através de dois eventos históricos da realidade brasileira contemporânea. O primeiro exemplo trata-se da luta dos pés-inchados no Mato grasso, que trata de camponeses que buscam melhores condições de trabalhos no campo e que percorrem as rodoviárias em buscas de ofertas de empregos.
Nesta parte o autor menciona o próprio conceito de pés-inchados, que acaba escorregando para uma forma pejorativa e desmoralizante dos indivíduos, que lutam em meios aos grandes produtores de soja do estado. O artigo relata que através de uma entrevista com um dos pés-inchados, o autor mostrar, que estes, reivindicam um novo significado para palavra, principalmente porque seria uma forma de mudar o sentindo de sua realidade prática.
O segundo exemplo do artigo, retratar as memórias dos camponeses nordestinos que durante 1950 até 1964 estiveram participando da ligas camponesas ou do projeto da cooperativa do Tiriri. Nesta parte o artigo procura fazer uma análise pormenorizada sobre a emblemática da memória, sendo esta, mais do uma percepção do passado, e não podendo ser visto como algo real, certo, absoluto, relata um ponto do passado que foi modificado pela influência do presente, é preciso levar em contar o tempo é que foi descrito a memória, pois como já foi dito, este tempo não é absoluto, também não é uma coisa, um objeto, mas também tem uma história, encontra-se conectados em redes, portanto cabe ao historiador seguir sua lógica.

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