segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Brasil, Descorberto, Achado, Inventado ou Conquistado?

A questão envolvente ao descobrimento do Brasil por meio de uma intencionalidade ou de uma casualidade portuguesa ainda traz embates sobre a relevância ou não dessa problemática dentro dos discursos historiógrafos atuais. Boa parte da relevância dessa problemática ainda mencionada se deve as contradições divergentes de vários historiadores sobre esse evento, que por muitas vezes traz consigo um fundo político, filosófico e metodológico do qual se inspiram de diversas formas conseguindo fomentar concepções distintas. Dentro desse quadro veremos alguns argumentos sobre essas diversas concepções e suas mudanças de sentido, pois é através do entendimento das gêneses de um objeto, que neste caso trata-se da colônia do Brasil, que se é possivel entender os argumentos que defendem o movimento expansionista dos europeus ocidentais, ocorrida no inicio dos tempos modernos, como ponto de partida para toda essa história.
A visão que ratifica a acepção sobre o fato de o descobrimento do Brasil ter sido por uma “ achamento” acaba-se argumentando que isto ocorreu através de um conjunto de fenômenos naturais, no qual teria mudado a trajetória das naus guiada por Cabral do meio do Atlântico para o Brasil. Por mais que pareça, uma história da carochinha ou de boi dormir, esta idéia ainda é defendida ainda hoje por boa parte dos historiadores portugueses, que foi traduzida muito tecnicamente por [1]Jorge Couto em sua livro a Gênese do Brasil abordada inclusive no próprio discurso narrativo, sendo inventado ou não, se cita, “que no dia 22 de abril as naus portuguesas toparam com aves e depois avistaram um monte desconhecido do qual mais tarde iria se chamar de terra da vera cruz, a terra de santa cruz até chegar ao seu atual nome Brasil”. Essa argumentação além de ter um caráter eurocêntrico intrínseco nela, já que atualmente temos a ciência da existência de povos locais que habitavam antes dos português.
Portanto nesta ótica o Brasil só poderia ser considerado um achado para os portugueses, ou para europeus, que estavam no seu movimento expansionista em buscas de novas terras, de novas rotas, de novos comércios e de novas articulações mercantilistas sustentáveis para se praticar.
Analisando essa concepção teremos dois pontos a mencionar aqui, um deixará sublinear a afirmação dos historiadores portugueses que no fundo acaba deixando essa acepção possível, No entanto teremos outras acepções que negarão totalmente essa ótica sobre este fato. [2]Manuel Nunes dias no seu livro o descobrimento do Brasil, ressalta varia problemáticas sobre a história do Brasil, dentro dessas destaco aqui nesta questão o fato da falta de um documento especifico que deixa um fundo de possibilidade para os argumentos destes historiadores portugueses. Que são as ordenações dos capitães ou “pilotos” das grandes navegações, do qual não se tem comprovação documental do que esses líderes de expedições tinham como objetivo a fazer, apesar de toda a festa preparada para eles na saída dessas esquadras marítimas em Lisboa para sua missão.
Entretanto toda esta argumentação para evidenciar e ratificar que o Brasil foi achado cair por terra quando se é analisado não somente o fato em sim, mas toda a base estrutural que lhe sustenta. Valemos aqui lembrar que a própria idéia de “ achamento” ou de causalidade foi rejeitada pelo próprios portugueses na época, em pro de um novo nome para o fato, o de “descobrimento”, já que a idéia de quem achar algo tem intrinsecamente a premissa de já tê-lo antes, o que Portugal provavelmente queria esconder, fundamenta-se esse argumento pela própria demora da divulgação da carta oficial do “descobrimento” a carta de caminha.
Deixando nítido que se tratou de uma jogada política da coroa portuguesa de D. Manuel I para despistar a coroa rival espanhola do seu possível conhecimento anterior daquela região, já que desde do final do quartel do século XV Portugal já estava inserido num contexto de expansionismo europeu, pois foi o primeiro a se configurar como um estado moderno, ou seja, um estado absolutista voltado para o desenvolvimento econômica e pra praticas comercias mercantilistas. Seu pioneirismo lhe configurará experiências sobre o mar do atlântico que somente mais tarde as outras nações dominarão, por onde, dentro desse quadro é possível que a chegada ao Brasil possa ter sido um pouco anterior a datada como oficial em quase todos os livros didáticos do Brasil
Manuel Nunes Dias no seu mesmo livro faz menção a essa questão levantada e mencionada que possivelmente “pilotos” mandados por D. Henrique, por volta de 1492, já teria alcançado as costas brasileiras, no entanto, mantida em segredo, já que boa parte da disputa diplomática entre as coroas( portuguesas e espanholas) se instauraram nessa época, tratando mais um vez de uma estratégia.
Outro argumenta fortíssimo que vai de encontro a essa idéia de causalidade e formatar agora uma nova concepção, a que seria a de intencionalidade, está justamente ratificado nas relações desses tratados “pré-descoberta” mais especificamente os tratados de Toledo e de Tordesilhas.
Ao primeiro ponto comentemos um pouco sobre esse processo de expansionismo europeu principalmente na sua fase inicial onde duas coroas recém-formadas em estados modernas usando uma nova política econômica denominada de mercantilismo por nós historiadores lutam por um caminho mais rentável para comercio oriental.
Já que a via européia estava travada economicamente pelo monopólio das cidades portuárias de Gênova e Veneza, por qual cada coroa irá traçar a sua rota para índia. Os espanhóis tentaram alcançar através do oeste, enquanto os portugueses iriam através de um contorno pela sul da África. Avançado as primeiras navegações teremos Portugal desbravando as ilhas das encostas da áfrica enquanto os espanhóis chegam a um inóspito lugar que seria a America nessa época, uma verdadeira “Floresta tropical”.
Neste contexto serão traçados os primeiros tratados visando manter a paz nesse expansionismo, já que um conflito militar estragaria os fins dessas empreitadas que misturavam políticas estatais e capitais privados, portanto dentro desse quadro será ratificado os dois tratados que mencionamos aqui. Portugal defenderia suas ilhas e tudo que se encontrasse ao sul, já que sua rota era por esse caminho, enquanto a Espanha ficaria com tudo ao norte e oeste, entretanto no Tratado de Tordesilhas Portugal deixou claramente seu interesse em um território a sem léguas a mais ao oeste em direção ao sul, enxergando isto, muitos historiadores fomentam aí a nitidamente intencionalidade em terras que possivelmente já tinham conhecimento.
Referências

[1] COUTO, Jorge. A gênese do Brasil. In Viagem Incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). Motta, Carlos Guilherme (ORG). São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.
[2] DIAS, Manuel Neves: Descobrimento do Brasil ( Subsidio para o estudo da integração do Atlântico sul) São Paulo: Livraria pioneira editora/USP, 1967.

Um comentário:

Fhellipe disse...

A proposta do texto é bastante pertinente e atual principalmente porque ainda insistem na idéia de "descobrimento" do Brasil, se esquecem de discutir de forma crítica esse processo e as outras possibilidades plausíveis levantadas pela historiografia. Já li o texto do Jorge Couto, tenho a obra em casa e realmente se trata de uma leitura indispensável sobre o tema. Valeu pelo texto.