segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um Texto entre Marx e Hegel

A entrada do século XIX em todo o desenrolar de sua trajetória histórica está marcada pelo desenvolvimento e aprimoramento das concepções produzidas pelo século anterior, assim, portanto, não teremos uma ruptura com as concepções antropológicas e racionalistas oriunda da disseminação do pensamento iluminista e seus pensadores. O que irá se enxerga nesse século novecentista é o lento e gradual desaparecimento das acepções ideológicas de explicação do real, e uma auto-afirmação do racionalismo como uma prática dominante.
Abstraindo deste contexto Collinwood procura retratar a historiografia que se emana nesse século destacando que está não tentará romper com os princípios racionais e também não se omitirá em apontar uma convicção para se enxergar de uma forma racional o seu desenvolvimento e o seu sentido. Assim como o próprio (Collingwood[1]) nos explana;
“ A historiografia novecentista não pós de lado a convicção – por parte de Hegel- de que a história é racional, por que fazê-lo seria pôr de lado a própria história. Em vez disso, procurou atingir uma história do espírito concreto, insistindo nos elementos que Hegel, na sua formal filosofia da história, tinha desprezado e constituindo com eles um solido conjunto.” (Collinwood, p: 160)
Contudo na pulsação do pensamento historiográfico novecentista iremos encontrar dois grandes pensadores que conceberam concepções sobre a realidade e sobre a “ciência histórica” em si. Os pensadores que nos referimos aqui se tratam de Marx e Hegel que me parece que em termos de acepções filosóficas se geraram praticamente num mesmo berço ou em outras palavras de uma mesma herança oriunda do idealismo alemão e da gênese da dialética hegeliana.
Entretanto apesar do homogêneo contexto e de terem fomentado suas acepções num mesmo ramo genealógico filosófico (a história) iremos encontra divergências correlação as suas óticas sobre a realidade. De principio podemos explanar que em ambos encontramos a conceituação idealista de enxergar na reprodução do social uma idéia suprema que regesse a sociedade, assim está idéia seria a regente da vida humana até surgir uma segunda idéia que com o seu desenvolvimento irá contrapor de forma articulada com a primeira, gerando assim pelo um processo de transformação uma nova idéia suprema que seria a nova regência da realidade. Será na apreensão deste conceito que Marx irá enxergar as formas como os objetos se estabelecem no real, seja este objeto material ou substrato, Assim como o próprio Collinwood nos ratifica;
“ o capitalismo, em Marx, ou o protestantismo, em Ranke, são uma “idéia”, no verdadeiro sentido hegeliano: um pensamento, uma concepção acerca da vida humana sustentada pelo próprio homem, aparentando-se assim com uma categoria kantiana, embora uma categoria condicionada historicamente- um modo, pelo qual se chega a pensar, num dado momento, e de acordo com o qual se chega a pensar, num dado momento, e de acordo com o qual se organiza toda a nossa vida, duma dialética própria, numa idéia diferente, enquanto a maneira de viver que a exprimia não se manterá, dissolvendo-se e transformando-se na expressão duma segunda idéia, que substitui a primeira.” (Collinwood[2], p: 160)
Contudo Marx e Hegel irão se diferenciar tanto no modelo desta idéia quanto no foco de abrangência das práticas de suas concepções, o que se verá de principio é que Marx partirá para o âmbito econômico e Hegel para o político.
No entanto apesar desse idealismo dialético que teve como ponto forte a ratificação de uma história e de uma realidade que a compreendia como um processo único e universal não terá os seus elementos de elaboração tratados da mesma forma, assim a política, a economia, a arte, as religiões, entre outros objetos da atividade humana não serão colocados como um conjunto de homogênea importância.
Portanto o que se verá é a supremacia de determinado elemento regente sobre os demais que apenas o completam mais que não participam do processo transformador dialético que reage a sociedade, em Marx vemos com nitidez a ratificação dos modos de produção e das formações das estruturas econômicas que ditam o delinear da vida humana, e é somente este elemento (o econômico) que seria passível deste processo dialético que se classificou pela maioria dos historiadores de materialismo dialético.
Num complementar desta acepção que abordamos podemos também aí incluir a taxionomia de termos que sempre que se abordam sobre estes pensadores, mais especificamente Marx, se inclui através desta concepção materialista que são as acepções de infra-estrutura e super-estrutura, e que nem sempre quando se explanam sobre isso ficam tão nítido a autentica conceituação destes termos, pois isto não está ligado somente ao que podemos considerar como mais importante( a economia) e menos importante( a arte, a cultura, a religião, a política) , mas sim daquilo que sofria o dinamismo dialético e daquilo que não sofria, portanto a história novecentista irá abordar o sentido da história de forma linear e continuo por períodos que se transforma por um determinado ponto, seria como que se tivemos vários pontos dentro de um conjunto que no entanto só será possível passar uma linha apenas em um ponto. Como nos afirma Collinwood;
“ Marx, tal como Hegel, insistiu neste ponto: a história humana não é um certo numero de diferentes histórias paralelas( econômicas, políticas, artísticas, religiosas, etc.) mas uma só história. Todavia também como Hegel, Marx concebeu unidade não como orgânica, em que cada linha do processo de desenvolvimento preservava a sua continuidade assim como sua intima conexão com as outras, mas sim como uma unidade em que havia somente uma linha continua( em Hegel, a linha histórica político; em Marx, a da história econômica), não possuindo os outro factores uma continuidade própria e sendo- para Marx- em cada ponto do seu desenvolvimento meros reflexos dos factos econômicos básicos” (Collinwood[3], p; 160 até 161)
Contudo faltarmos aqui explana a principal diferenciação entre Marx e Hegel, que era acima de tudo fundamentada numa interpretação de caráter técnico e teórico sobre a ótica do idealismo do qual existiam divergências entre estes dois teóricos, no entanto vejamos qual seria esta interpretação que diferenciava estes dois pensadores.
Como sabemos era presente nestes teóricos uma concepção que existia uma idéia que regia a realidade que ao mesmo tempo era regida pela sociedade e reproduzida por ela, assim abrindo para uma esfera mais abrangente que fosse além das ações humanas, e buscando compreender a realidade como um todo, partindo da origem e da formação da natureza, Hegel fomentará o seu conceito de lógica sendo uma entidade abstrata onde se encontra os arcabouços dos sentidos da realidade, fazendo uma analogia era como se fosse uma cópia preto em braço do real que apesar de não possuir as cores da realidade, tem todas as formas e traços traçados por ela, como Collinwood nos aponta;
“ A lógica para Hegel, não é uma ciência de como pensamos, é uma ciência de formas, entidades abstractas, idéias platônicas- senos lembrarmos de tomar a serio o próprio aviso de Hegel quanto as facto de não devermos supor que as idéias existem apenas na cabeça das pessoas.” (Collinwood[4], p: 162)
Partindo deste principio Hegel fomentará a sua acepção que será está lógica que irá delimitar a natureza e as ações humanas. No entanto Marx enxergará isto através de outra ótica, do qual esta concepção de que a lógica (a hegeliana) é o modelo preto em braco onde se pode delinear a história não fazia sentido.
Para Marx a história se perpetuava por motivos de fatos naturais que acontecem independentemente de uma lógica hegeliana, no qual procurou abstrair a dialética hegeliana para uma análise que se configurar-se somente para as ações humanas, se livrando assim do subjetivismo do qual Hegel se envolveu ao tentar entender toda a realidade, podemos dizer que Marx usou a dialética hegeliana de forma prática e natural dentro do âmbito socioeconômico, coisa que Hegel não fez.
Marx se aproximou de tendências que tiveram gênese no século anterior, principalmente aquelas que tentaram juntar a história com as ciências naturais, mais que não tiveram como base e foco a eliminação da história, rompendo assim com o idealismo que carregou como herança e assim conseguindo fugir do solo arenoso do idealismo que se estava afundado cada vez com o passar do tempo histórico.

Bibliografia
Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[1] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[2] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[3] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

[4] Collinwood, R.G, A idéia da história, editorial presença/ Martins fontes, s/d, Lisboa Portugal.

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