terça-feira, 1 de julho de 2008

As origens da escrita ocidental – Da capital a humanística Processada

*Rafael Agostinho Da Silva
*Viviane Carvalho Da Silva

As origens da escrita ocidental – Da capital a humanística Processada


Resumo
Este artigo abordará a evolução da escrita. Ela está dividida em três períodos: o período grego-romano, o romano e o gótico. E para cada período corresponde um tipo de escrita, pelo menos.
Através do tempo nós podemos notar mudanças na escrita, tornou-se mais rápida e prática. Essas mudanças aconteceram porque a escrita recebeu muitas influências locais nos lugares onde se desenvolveu.

Palavras-chave: Escrita. Letra. Períodos.

Abstract
This article will broach the handwriting’s evolution. It’s divided in three periods: the greek-roman period, the roman one and the gothic one. And to every period corresponds a kind of handwriting, at least.
Through the time we can see changes in the handwriting, it became faster and more pratical. These changes happened because the handwriting received many local influences in the places where developed itself.

Keywords: Handwriting. Letter. Periods.

Introdução

O surgimento da escrita e o seu desenvolvimento histórico estão ligados principalmente ao aumento da capacidade humana de transmitir a sua linguagem em suas variadas formas. Essa capacidade certamente se desenvolveu aos poucos e a escrita é um reflexo deste aumento potencial que se consolidará numa maior complexidade das relações humanas. O fato é que o homem das eras remotas mais ou menos no paleolítico superior (segundo boa parte dos arqueólogos) irá criar através das misturas de varias elementos lingüísticos a base para a formação da primeira escrita, ou seja, a escrita é fruto de um processo que o homem necessitava para se comunicar, portanto assim os gestos e os sinais e talvez uma rudimentar oralidade sejam as bases para que o homem tirasse da abstração dos seus pensamentos a escrita e concretizassem de alguma forma real e palpável.
Os estudos históricos sobre as origens da escrita datam a primeira escrita pensada por volta de 4000 a 3000 A.C. e teria partindo do oriente para ocidente à medida que os distintos povos tiveram seus primeiros contatos culturais externos, no entanto a escrita em seu desenvolvimento dentro do ocidente e no mundo esteve longe de ser uniforme e progressiva. O trabalho paleográfico de Vera Lúcia em seu livro: Noções de paleografia[1] nós traz dois modelos para o entendimento do desenvolvimento da escrita, o de Février e o de Ferdinand de Saussure.
J. Février em seu livro: Historie de l´escriture[2]. Dividiu o desenvolvimento da escrita em quatro etapas, sendo elas não sucessivas e nem evolutivas, mas a classificou por uma ordem de complexidade. A primeira etapa denominou de escrita autônoma no qual a escrita tinha um caráter místico e o homem não tinha a intenção de repassar um pensamento ou qualquer idéia racional, mas sim mística. A segunda denominou de escrita sintética no qual o homem começou a usar desenhos para descrever seus pensamentos daí dá-se o inicio do modo pictográfico da escrita, porém em compensação não se tinha uma padronização dos símbolos e um desenho poderia significar uma palavra ou talvez uma frase inteira. A terceira a escrita analítica aonde os símbolos ganharão padrão e passam agora a significar uma só palavra. O quarto e ultimo a fonética os símbolos se associam aos sons que se dividirão em escritas silábicas ou alfabéticas.
O segundo modelo para o desenvolvimento da escrita no texto de Vera Lúcia será o Ferdinand Saussure[3] que procurou sintetizar de uma forma mais simples os conceitos trabalhos por Février classificando em dois tipos. A escrita ideográfica se expressando através de símbolos em forma de desenhos. E a segunda a escrita fonética se expressando através dos sons e de símbolos próprios distintos aos desenhos.
Esses dois modelos tentam explicar as formas como escrita passou de uma simples representação abstrata em forma de desenhos até chegar como uns dos mais valiosos bens da humanidade. Neste breve artigo iremos tentar enveredar este processo no ocidente e como no decorre de sua história a escrita se modificará e ganhará novas expressões.

Da capital a humanística processada.

A origem da escrita ocidental está diretamente ligada ao surgimento do alfabeto grego e, por conseguinte a do alfabeto latino. Segundo os estudos de Vera Lúcia não se terá um consenso correlação ao surgimento do alfabeto grego que segundo alguns paleógrafos terá sua gênese na fenícia tendo assim a escrita grega uma origem oriental, já outros discordo desta possibilidade dando uma origem cretense por ser a escrita silábica cretense a primeira a se vigorar na Grécia e por ultimo ainda há aqueles que apontam um fusão entra as duas explicações. O fato é que os alfabetos ocidentais têm suas origens calcadas nos alfabetos gregos que terão o seu auge no período do império romano aonde o alfabeto grego se modificará e dará forma ao alfabeto latino que terá uma grande difusão devido à padronização cultural da política imperialista romana.
Essa fusão do grego com romano caracterizara o período da escrita Greco-Romano tendo a escrita capital sua primeira forma de escrita. Essa escrita será marcada por ser formada por letras grande ou capital = cabeça, e de uniformidade estética perfeita, não traz muitas dificuldades para suas leituras e traz quatro tipos de classificação segundo os estudos de Vera Lúcia; capital quadrada, cursiva, maiúscula cursiva e minúscula cursiva.
As diferenças entre esses tipos de escritos são extremamente técnicos assim as quadradas são escritas bem assentadas, ou seja, as letras são escritas bem separadas e bem definidas e não há uma ligação entre elas, já as cursivas são impostas à medida que o material do qual as escritas eram feitas se modificam e a escrita passa a ser colocadas em pergaminho ou papiros aonde seus manuseios são mais sensíveis do que as argilas e as tabuas de antigamente. Por isso as escritas cursivas terão as letras corridas e apresentarão ligações entre elas, no entanto ambas ainda não apresentam um separamento de palavras e sua escrita era reta, os seus exemplos mais comuns são os documentos oficiais do império romano. Posterior a esse tipo escrita teremos a uncial e Semi-uncial dentro ainda do período Greco-Romana, essas escritas apresentarão uma inovação correlação as anteriores, pois irão quebrar a rigidez da linha reta das escritas capitais ou cursivas que apesarem de não terem uniformidade de tamanho sendo ora predominantemente maiúsculo ou minúsculo estas não tinham curvas. Isto é um advento da uncial e da semi-uncial.
Contundo este processo da escrita Greco-Romano terá sua grande ruptura com as invasões bárbaras do final da idade antiga e inicio da idade média tendo este fato quebrado a uniformidade do período Greco-Romano da escrita, pois dividirá o império e varias regiões e dará mais tarde as bases para os novos estados nacionais por onde a escrita ocidental seguido este caminho também entrará em divisão.
As escritas nacionais entrarão em cena de acordo com cada região que se dividiu do império tendo cada região uma fusão cultural com as antigas escritas presentes no império romano. Segundo Vera Lúcia essas escritas nacionais partirão de dois troncos da escrita Greco-Romana, da minúscula cursiva e da Semi-Uncial. No primeiro bloco, das que parte da minúscula cursiva, temos a merovíngia, usada na frança entre os séculos V ao VIII, a escrita visigótica tendo Toledo sua principal cidade de difusão e por último deste bloco a da região da Lombarda, difundida nas cidades do norte da Itália e principalmente no papado.
Já no outro bloco, as que derivam da semi-uncial teremos a irlandesas que terão sua difusão devido às ações dos monges beneditinos liderados por Santo Agostinho e a anglo saxônica que será uma herdeira da escrita irlandesa. Essas escritas nacionais também serão chamadas de pré carolíngias e serão a base para a formação de um novo período da escrita no ocidente, a do período romano.
O período Romano engloba a escrita carolina como é mais conhecida, mas também tem outras denominações: carolíngia, minúscula francesa ou redonda. Essa denominação pode nos induzir a atribuir-lhe a origem à corte de Carlos Magno. Apesar de Mabillon afirmar isto, e os paleógrafos continuarem a utilizá-la, essa origem é desconhecida.
Com esta escrita houve uma uniformização na maneira de escrever, por esse motivo se disseminou rapidamente pela Europa.
Ela possui um caráter singular e conflitante: torna a escrita cursiva mais legível, diferente das escritas nacionais; e simplifica a escrita assentada dando-lhe um traçado mais rápido.
O início de sua trajetória começa no período que vai do século VIII ao século IX, empregando letras maiúsculas, que são reprodução da escrita clássica romana, e minúsculas. Chega ao seu apogeu no século XI e começa a declinar nos séculos XII e XIII, dando lugar à escrita gótica. É já na época de seu declínio que chega a Portugal.
Suas características mais marcantes são: muito poucas ligações; as abreviaturas são mais freqüentes; a pontuação começa a ser usada no ocidente, numa imitação do sistema grego, baseava-se quase que exclusivamente no ponto.
Surge no século XI na Itália, a escrita gótica, dando origem ao período gótico, que também reúne a escrita humanística e a processada. Mais uma vez, o nome nos remete à origem errada, ela não provém dos godos, e sim da escrita carolina. Tendo suas
formas semelhantes às formas arquitetônicas, os humanistas a chamavam desta forma.
No século seguinte foi introduzida na França, de onde se espalhou para o resto da Europa. Na Alemanha foi adotada como caligrafia oficial até o século XIX, e chega a Portugal no século XII, através das ordens religiosas francesas. Foi utilizada pela imprensa e dominou até o século XV.
Três aspectos influenciaram sua formação: a necessidade de praticidade, a arquitetura gótica e o condicionalismo histórico.
Ela está dividida em minúscula gótica, gótica redonda ou semi-gótica, e a gótica cursiva que assumiu um caráter individual, mas isso não significou uma anarquia.
No século XV com o declínio da escrita gótica, surge a humanística. Utilizada pelos renascentistas, tem origem em Florença, por esse motivo também é chamada de Itálica. Também disseminou-se por toda Europa e foi adotada pela Cúria Romana, devido a sua clareza.
Como os renascentistas buscavam inspiração na antiguidade clássica, essa escrita era uma imitação da carolina que, por sua vez, era uma imitação da romana.
E para fechar o período gótico, temos a escrita processada, que surgiu da necessidade dos escrivães da corte espanhola, principalmente, de preencher a folha de papel, tendo esta escrita as características ideais para tal necessidade.
Um exemplo de escrita processada é a carta de Pero Vaz de Caminha informando o rei de Portugal sobre o Brasil.

Referências

J.Février, Histoire de l´escriture, Ed. Payot, Paris, 1948.
Wilson Martins, a palavra escrita, Ed. Anhembi, São Paulo, 1957.
Lúcia Vera, Noções de paleografia, Ed. Universidade Católica de Pernambuco, 1970.
* Graduando em História pela Universidade Federal De Pernambuco.

* Graduando em História pela Universidade Federal De Pernambuco.
[1] Lúcia Vera, Noções de paleografia, Ed. Universidade Católica de Pernambuco, 1970.

[2] J.Février, Histoire de l´escriture, Ed. Payot, Paris, 1948.

[3] Wilson Martins, a palavra escrita, Ed. Anhembi, São Paulo, 1957.

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